Capítulo cento e dez.

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Chapter One Hundred and Ten
Me evitou o dia todo ★
{Seattle, Washington} 
<Bárbara Sevilla Narrando>

Passei o dia inteiro evitando o Jones. O simples pensamento de encará-lo e lembrar do que eu disse na noite anterior me deixava envergonhada. Uma mistura de constrangimento e raiva me corroía por dentro, e eu preferia qualquer coisa a ter que lidar com isso agora. Mas, como se o universo quisesse me desafiar, recebi uma mensagem de Victor dizendo que precisava falar sobre o caso. Já passava das 19h30 quando finalmente decidi ir ao encontro dele, sabendo que não poderia fugir para sempre.

Ao entrar na sala, o encontrei sentado em frente ao computador, os olhos fixos na tela do celular, mas o cenho franzido em profunda concentração. Havia algo incrivelmente atraente na forma como ele se concentrava, como se o mundo ao redor não existisse. Balancei a cabeça, tentando afastar esses pensamentos inconvenientes, mas eles insistiam em voltar, como uma maré que eu não conseguia controlar.

— Você demorou, achei que não ia aparecer. — Victor notou minha presença sem sequer tirar os olhos do celular. Seu tom era casual, mas havia uma ponta de provocação ali.

Cruzei os braços e fiquei ao seu lado, mantendo deliberadamente alguns centímetros de distância.

— Tive imprevistos. — Menti, tentando soar indiferente. A verdade era que Victor *era* o meu imprevisto. Ele sempre conseguia me desestabilizar, mesmo sem perceber.

— Tenho novidades. — Ele disse, desligando o celular e finalmente me encarando.

— Fala. — Respondi, tentando soar profissional, mas meu coração estava acelerado.

— Um dos capangas da Ariel passou aqui ontem. Ele disse que estava "vigiando a Elizabeth".

— O que eles querem com a Eliza? — Franzi as sobrancelhas, me aproximando um pouco mais enquanto apoiava os braços no balcão, tentando focar no trabalho.

— Favores, aparentemente. Ela é mais fácil de enganar. Ele também disse que ela já está envolvida no caso, ajudando sem nem perceber.

— Não duvido. A Eliza é ingênua demais para perceber as coisas. Só falta descobrir como. Precisamos avançar na investigação.

— Eu sei. — A resposta de Victor foi curta, como se já estivesse pensando na próxima jogada.

— Descobriu mais alguma coisa?

— Não. — Ele respondeu, sem rodeios.

— Que ótimo. — Ironizei, cruzando os braços. A frustração começou a borbulhar em mim, mas não sabia se era pela falta de progresso ou pela presença esmagadora de Victor.

— Se você estiver reclamando, faço questão de te lembrar que você não estava lá. Eu descobri tudo sozinho. — Ele respondeu, e a irritação em sua voz era evidente. Jones sempre teve um ego grande, e ele não hesitava em mostrá-lo.

— Ah, uma salva de palmas, gênio. — Bati palmas com sarcasmo. — Depois eu que sou egocêntrica. — Sussurrei, sabendo muito bem que ele ouviria.

— Você estava bêbada. Se quisesse saber mais, estaria fazendo o que era pra fazer quando mandaram a gente pra cá.

As palavras dele me atingiram como um tapa. Uma mistura de raiva e vergonha me dominou, e minha voz começou a subir sem que eu pudesse controlar.

— Olha aqui, você mesmo disse que ontem era pra ser uma noite de distração, não tinha nada a ver com o caso! Era pra relaxar! Agora tá me cobrando uma investigação que eu nem sequer sabia que existia?! — Eu sentia meu corpo esquentar à medida que a discussão se intensificava. Victor virou o rosto, e pela primeira vez, não consegui decifrar sua expressão. Era sarcasmo? Frustração? Eu não sabia.

— Eu bebi, sim, e daí? Você não ajudou nada desde que chegamos! — Provoquei, dando um passo à frente, encurtando a distância entre nós.

— Eu não ajudei? Ajudei mais que você, que a única coisa que fez foi surtar e se embebedar até cair. — Ele se levantou, ficando bem na minha frente, sua presença dominando o espaço.

Havia algo no tom dele, algo que me desafiava e me atraía ao mesmo tempo. Era como se estivéssemos sempre dançando nessa linha tênue entre atração e antagonismo. E eu odiava o quanto ele conseguia mexer comigo.

— Por que você se importa tanto com o fato de eu ter bebido? Levou a sério as investidas? — Provoquei, sabendo que estava empurrando a situação para um lugar perigoso. Seus olhos reviraram, e eu pude ver a frustração crescer nele. A discussão estava tomando um rumo que eu não sabia se poderia controlar.

— Acho que quem levou a sério foi você. Me evitou o dia todo. — Ele deu um passo à frente, diminuindo ainda mais a distância entre nós. — É você que está tentando se convencer de que me odeia e que eu não te atraio. Devia disfarçar melhor. — A malícia em sua voz me fez estremecer, mas não era de medo. Era de algo mais profundo, algo que eu não queria admitir nem para mim mesma.

— Sai. — Murmurei, empurrando-o de forma casual e indo para o meu quarto. Meu coração estava acelerado, minha mente um turbilhão de pensamentos e emoções conflitantes.

Sentei na cama e passei a mão no rosto, tentando acalmar minha respiração. Eu sabia que ele estava certo, e era isso que me deixava mais nervosa. Havia uma verdade no que Victor disse que eu tentava a todo custo ignorar. Mas a cada discussão, a cada troca de farpas, essa verdade ficava mais difícil de suprimir.

— Bárbara... — A voz dele invadiu meu quarto, e eu senti um arrepio percorrer minha espinha.

— Sai do meu quarto. — Eu queria que minha voz soasse firme, mas soou hesitante, quase como um pedido. Não queria que ele visse o quanto eu estava abalada.

— Você sabe que é verdade. Não adianta fingir que não existe, porque só fica mais forte. — Sua voz era baixa, arrastada e carregada de uma intensidade que me deixou sem ar.

Eu me levantei, tentando manter algum controle sobre a situação.

— Qual parte do 'sai' você não entendeu? Sai, Victor! — Gritei, apontando para a porta.

— Diz pra mim que não quer me beijar, que não quer tirar minha roupa, que não quer transar comigo, diz e eu vou. — Victor disse de um jeito irritado mas ao mesmo tempo instigante, suas palavras como um desafio.

Era ridículo o quanto meu corpo tinha reagido a suas palavras. O desejo tava me consumindo e tentar lutar contra isso era inútil.

Victor olhou intensamente pra mim como se esperasse uma resposta, mas quando começou a se virar pra ir embora, algo dentro de mim se quebrou. Levantei contrariada por mim mesma, e puxei a manga de sua camisa segurando seu braço.  Sem hesitar o puxei pra perto e o beijei com toda a urgência que eu havia reprimido.

case thirty nineOnde histórias criam vida. Descubra agora