Capítulo noventa e três.

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Chapter Ninety-Three
As pessoas não se apaixonam por mim
{Seattle, Washington}
<Victor Jones narrando>

Eu e Babi caminhávamos pelas ruas de Seattle sem um destino definido. Não conhecíamos a cidade e decidimos que apenas andar por aí seria uma boa maneira de explorar, uma prática comum que fazíamos com o esquadrão nos dias de folga. O silêncio entre nós era confortável, algo raro para duas pessoas acostumadas a ambientes caóticos. 

— Ah, nem te contei — Babi quebrou o silêncio, a voz casual como se estivesse comentando sobre o tempo. 

— Conta — incentivei, curioso. 

— O Mob saiu da friendzone — ela disse com um sorriso malicioso, e eu não pude evitar rir. 

— A Miih finalmente notou ele? — perguntei, surpreso e ao mesmo tempo aliviado por meu amigo. 

— Pelo que eu entendi, sim. Eles saíram com a Carol e o detetive Di Laurentis. 

— A Carol tá saindo com alguém que não é o ex dela? — Minha surpresa foi evidente. Carol sempre fora apegada ao passado. 

— Pois é, e isso só duas semanas depois da última vez que a gente saiu. 

— O Mob tinha me contado que o GS tava flertando com uma loira que ele conheceu na boate que eles tão investigando — comentei casualmente, observando Babi franzir o cenho, surpresa, mas logo disfarçando. — Então, todo mundo tá saindo com alguém, menos a gente e a Bianca — completei, meio brincalhão. 

— Não vejo graça nisso — ela respondeu com um dar de ombros, desinteressada. 

— Em namorar? — perguntei enquanto atravessávamos a rua. 

— Namorar, ficar, se apaixonar... Enfim, acho que só uma noite tá bom. 

— Você é do golpe? — brinquei, tentando provocar um sorriso. 

— Não, sempre deixo claro minhas intenções. Tenho responsabilidade. 

— Tenho dó das pessoas que se apaixonarem por você — comentei ajeitando meu gorro, com um tom misto de brincadeira e seriedade. 

— As pessoas não se apaixonam por mim — ela rebateu, achando meu comentário absurdo. 

— Se apaixonam sim, você só não sabe — insisti, com a esperança de que ela pegasse as entrelinhas na minha voz. Babi estava prestes a responder, mas fomos interrompidos por algo que se tornou muito comum em nossas vidas: tiros. 

A rua deserta se transformou num campo de batalha silencioso, onde o som dos disparos ecoava entre os prédios. Um carro vermelho, o mesmo da última vez, surgiu de repente, e a ficha caiu: nós éramos o alvo. Abaixamo-nos instintivamente enquanto os tiros acertavam a parede atrás de nós. 

— Porra, nem um minuto de paz! — Bárbara murmurou, irritada, enquanto eu a puxava pelo quadril, prensando-a contra a parede para desviá-la dos tiros que ricocheteavam ao nosso redor. Ela estranhou o movimento, mas não reclamou. 

— Trouxe arma? — perguntei enquanto ouvia os passos dos atiradores se aproximando. 

— Óbvio que não — Babi bufou, com desdém. — Por que eles tão gastando bala à toa? 

Ao longe, o som de passos apressados e gritos de pessoas alertando sobre o tiroteio podia ser ouvido. O caos estava se espalhando rapidamente. 

— Vou dar um jeito — Babi disse, sua voz determinada. 

— Sevilla, o que você vai fazer? — perguntei, preocupado, enquanto via sua expressão se transformar, uma mistura de coragem e um toque de loucura. 

Ela se desvencilhou do meu toque e avançou em direção aos homens armados. Antes que eu pudesse reagir, vi Babi se jogar em direção ao primeiro atirador, desarmando-o com uma agilidade que só alguém treinado poderia ter. Eu a segui, derrubando outro dos homens com um soco firme, mas logo senti o impacto de um golpe direto na minha boca. O gosto metálico do sangue se espalhou pela minha língua, mas não tive tempo para me recuperar. 

Babi apareceu ao meu lado em um piscar de olhos, empurrando-me contra a parede com força, desviando de um tiro que teria acertado meu estômago em cheio. Senti a bala raspar meu braço, a dor queimando minha pele. 

— Vê se presta atenção, Jones! Eu não vou conseguir salvar sua vida da próxima vez — ela gritou, sua voz carregada de frustração e preocupação genuína. Ela bateu levemente no meu braço, e eu praguejei baixinho. — Você tá bem? — seu tom agora mais suave, apesar da tensão. 

— Melhor impossível — ironizei, enquanto limpava o sangue da minha boca. — Obrigado. 

Aproveitamos o momento de distração para correr em direção ao meu carro. Babi puxou meu braço com firmeza, e eu dei partida, acelerando com tudo. Ela se inclinou pela janela, mirando nas rodas do carro vermelho. Seus tiros foram precisos, e o carro derrapou, perdendo o controle. Em poucos minutos, havíamos deixado os atiradores para trás, metade deles já derrubados na rua. 

Dirigimos em silêncio de volta para a casa. O barulho dos tiros ainda ecoava em meus ouvidos, mas tudo o que conseguia pensar era em como, se não fosse por Babi, eu provavelmente estaria estendido no asfalto, sangrando até a morte.

case thirty nineOnde histórias criam vida. Descubra agora