Capítulo cento e três.

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Chapter One Hundred and Three
Saúde, então

As confissões da Babi, bêbada e vulnerável, não saíam da minha cabeça. Ela sempre mexeu comigo de uma forma única, mas ultimamente isso estava se intensificando a um nível quase insuportável. Depois do que ouvi, não sei se conseguiria ser o mesmo com ela. As palavras dela, soltas e sem filtro, revelavam um lado que ela nunca mostrou antes. Será que eu deveria falar sobre isso com ela quando estivesse sóbria? Ou talvez fosse melhor ignorar e fingir que nada aconteceu? O dilema era sufocante. Babi me atraía tanto quanto me irritava. Havia uma tensão constante entre nós que eu não sabia como lidar, e agora, com essas confissões, a linha entre nós parecia ainda mais tênue.

Depois de me certificar de que Babi havia finalmente dormido, decidi voltar para a festa da Eliza. Talvez me distrair com as luzes e a música alta ajudasse a tirar as palavras de Babi da minha mente, pelo menos por um tempo. O vento fresco e gelado bateu no meu rosto assim que saí, como um golpe de realidade. Olhei para o relógio: 11h30 PM. Meu celular vibrou na mão, mostrando três chamadas perdidas da minha mãe. Eu havia esquecido... Setembro. Porra. Precisava esfriar a cabeça, então virei um shot de vodca, sentindo o líquido queimando na garganta.

— Achei que tivesse ido embora. — A voz de Diogo me tirou dos meus pensamentos.

— Amy estava com dor de cabeça, então fui levá-la para casa. — Menti, tentando parecer casual, e Diogo se sentou ao meu lado.

— E resolveu voltar para beber? — Diogo riu, seu tom de voz carregado de ironia.

— Mais ou menos. — Dei uma breve risada, tentando afastar o peso dos pensamentos.

— Saúde, então. — Ele levantou o copo de uísque e brindamos.

Virei mais um shot de vodca e resmunguei pelo gosto forte que agora parecia menos intenso. Enquanto isso, algo chamou minha atenção ao longe: um homem, parado no canto da festa, que não tirava os olhos da Eliza. Mas seu olhar não era de interesse comum, era frio, calculista, como se estivesse vigiando cada movimento dela.

Minha mente, ainda enevoada pelo álcool, tentou juntar as peças. Eliza havia conhecido Lara recentemente, e em duas semanas convivendo com ela e Diogo, percebi o quanto Eliza era certinha, quase ingênua. Talvez ela estivesse envolvida em algo que nem sabia, ou talvez alguém quisesse algo dela sem que ela tivesse consciência disso. O homem, com sua postura rígida e olhos atentos, não parecia estar lá por acaso.

Resolvi esperar, tentando afastar a ideia de que era apenas a vodca falando. Mas a inquietação crescia em mim. Bati os dedos na mesa, entediado e inquieto, e pedi mais bebida, dando um longo gole enquanto tentava manter a calma.

— Ei, meninos! — A voz animada de Eliza me surpreendeu. Ela se aproximou e se sentou entre nós. — Sobre o que estão falando?

— De nada. — Diogo respondeu rapidamente, esvaziando o copo de uísque.

— Eca. — Eliza murmurou, olhando para a bebida dele com uma careta.

— Não gosta de álcool? — perguntei, tentando parecer desinteressado. Ela deu de ombros. — Tá falando sério?

— É horrível, deixa um gosto amargo. — Ela se defendeu, fazendo uma careta adorável.

— Sabe por que só deixam beber depois dos dezoito? — perguntei, e ela balançou a cabeça, curiosa. — Aos dezoito, você já passou por tanta coisa que sua vida é amarga, e a bebida é tão doce quanto mel.

— Pior que faz sentido. — Diogo concordou, enquanto Eliza olhava para nós sem expressão, talvez pensando em algo.

Logo os dois começaram uma discussão boba e sem sentido, e eu ri, observando de longe. Mas o homem, aquele que me deixava inquieto, estava agora mais perto. Seus olhos nunca deixaram Eliza, e isso fez um alerta soar na minha mente.

— Eee... eu já volto a falar com vocês. — Falei, me levantando com um propósito.

Eles assentiram, voltando à sua discussão, enquanto eu me afastava. Esperei o momento certo, observando as pessoas se dispersarem, e então segui o homem até uma área mais isolada. Com um movimento rápido e decidido, empurrei-o para fora da festa, longe dos olhares curiosos.

— Tá legal, qual é a sua? — perguntei, minha voz firme, sem esconder a desconfiança.

O homem me olhou com frieza, mas não disse nada. Sua expressão era de quem estava acostumado a ser confrontado, mas não intimidado. Algo estava definitivamente errado, e eu estava determinado a descobrir o que era.

case thirty nineOnde histórias criam vida. Descubra agora