Capítulo cento e setenta e oito.

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Chapter one hundred and seventy-eigth
Sevilla, é a máfia ★
{Seattle, Washington}
<Bárbara Sevilla Narrando>

A discussão com o Victor ainda ecoava na minha mente, horas depois. Eu tentava compreender por que suas palavras haviam me atingido tão profundamente. Normalmente, eu não me deixava abalar pelo que os outros diziam, mas com o Victor, era diferente. Ele tinha o poder de me fazer sentir-mais do que eu gostaria de admitir. E quando ele pediu desculpas, meu peito se apertou de uma forma que não conseguia ignorar. A gente sempre discutia, mas dessa vez tinha sido diferente, tinha sido pessoal, íntimo. Pedir desculpas não era algo que acontecia entre nós com facilidade.

Me joguei no sofá e abracei meu próprio corpo, tentando encontrar algum conforto no gesto. Além da briga com o Victor, o e-mail da minha mãe não saía da minha cabeça. A ideia de vê-la depois de tantos anos, depois de praticamente uma vida inteira de silêncio, era sufocante. Eu não devia me importar tanto, afinal, ela nunca esteve presente. Mas, de alguma forma, a ideia de encará-la novamente me deixava ansiosa, uma ansiedade que eu não sabia bem como lidar.

Quando fico ansiosa, costumo apertar o pingente de Glock que o Victor me deu. É uma lembrança dele, algo que me ajuda a manter a calma. Mas naquele momento, o pingente estava longe, e eu me sentia completamente desarmada.

Victor entrou na sala, me tirando dos meus pensamentos. Tentei me recompor rapidamente.

- Vem cá, novas pistas. - Ele disse com a voz séria. Apenas murmurei em concordância e me levantei, cruzando os braços diante da tela do monitor.

- O que é? - Perguntei, tentando soar indiferente, mas minha mente ainda estava presa na nossa discussão anterior.

- Sabe os registros da máfia que encontramos da última vez? - Ele começou, sua voz um pouco mais suave, mas ainda carregada com a tensão entre nós.

- Como eu vou esquecer, né? - Respondi com um tom de deboche, tentando mascarar a sensação de desconforto que ainda pairava. Victor revirou os olhos, e eu percebi que ele também estava se esforçando para manter as coisas profissionais.

- Então, eu olhei os registros mais recentes e descobri alguns informantes dentro da máfia. Parece que eles estão planejando uma festa para quarta-feira. - Ele explicou.

- Nunca entendi o propósito dessas festas. - Comentei, tentando focar na missão, mas ainda distraída pelos pensamentos sobre Victor e minha mãe.

- Sevilla, é a máfia. - Victor me chamou pelo sobrenome, o que me surpreendeu. Ele raramente fazia isso, e o tom formal só reforçou o quanto ele estava incomodado. - Eles devem fazer festa até quando alguém morre.

- É, faz sentido. E qual é o objetivo dessa festa? - Perguntei, tentando seguir a conversa.

- Ah, essa é uma boa pergunta. Mas o que importa é que Ariel vai estar lá. - Ele disse, e pude perceber um lampejo de esperança em sua voz.

- Jura? - Meu coração acelerou um pouco. Talvez essa fosse a chance que precisávamos para avançar na investigação.

- Aham. Não precisamos necessariamente encontrar Ariel, mas qualquer coisa que nos leve até ela já seria um grande passo. Com os registros da máfia em mãos, temos uma vantagem. - Ele continuou, a voz mais focada.

- Pode ser a chave para encontrarmos o endereço de IP que ela tanto esconde. - Respondi, começando a me animar com a possibilidade.

- E se Ariel está tão determinada a nos impedir de encontrar Lara, isso só pode significar que ela está envolvida de alguma forma. - Victor ponderou, absorto em seus pensamentos.

- Talvez Lara esteja escondendo algo... - Pensei em voz alta, sentindo um calafrio ao considerar essa possibilidade. Victor, porém, parecia relutante em concordar.

- Não acho que seja isso. - Ele disse, com uma firmeza que me irritou.

- Claro que não acha. - Zombei, revirando os olhos. Aquele espinho no peito, que eu tentava ignorar, voltou a me incomodar.

- Se conseguirmos encontrar Ariel, provavelmente não vai demorar muito para encontrarmos a agente Cooper. Aí, quem sabe, voltamos para Tacoma antes do previsto, fingimos que tudo está bem entre nós, nos redimimos com o PH, e a vida segue. - Ele disse, como se fosse simples.

Fingir que tudo está bem? Nós nos demos tão bem que acabamos nos beijando, transando, e até fazendo coisas que só casais fazem. E tudo isso em apenas um mês. Eu realmente estava começando a acreditar que havia algo real entre mim e Victor, algo que sempre existiu, só precisando de uma chance para florescer. Mas agora, depois de toda aquela confusão e da nossa briga, parecia que estávamos prestes a engavetar tudo novamente. E só Deus sabia se isso algum dia sairia da gaveta outra vez.

- É, parece um bom plano. - Concordei, tentando esconder o amargor na minha voz. - Achou alguma coisa útil nos registros além disso?

- Não ainda. Mas estou revisando tudo. Se encontrar algo, te aviso. - Ele respondeu, o profissionalismo voltando ao tom de sua voz.

- Então, festa na quarta? - Perguntei, mais para preencher o silêncio do que por real interesse.

- Festa na quarta. - Ele confirmou.

Enquanto ele saía da sala, fiquei sozinha com meus pensamentos novamente. A tensão entre nós era palpável, e eu não conseguia deixar de pensar em como as coisas poderiam ser diferentes se conseguíssemos resolver nossas diferenças. Mas, por enquanto, tudo o que eu podia fazer era esperar e ver o que a festa da máfia traria.

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