Capítulo cento e trinta.

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Chapter One Hundred and Thirty
Quero entender você
{Seattle, Washington}
<Victor Jones narrando>

— Eu tive um sonho... — disse quase em um sussurro, sentindo o peso das palavras antes mesmo de pronunciá-las. Era como se cada sílaba carregasse uma verdade que eu temia revelar. Bárbara soltou o garfo imediatamente, o barulho do metal contra o prato ecoando pela sala e quebrando o silêncio que nos envolvia.

— Está falando do quê, Victor? — Ela perguntou, sua voz carregada de uma mistura de curiosidade e irritação.

— Sonhei com você. — Finalmente consegui falar com a voz firme, tentando manter a compostura. Babi franziu o cenho de forma irônica, como se estivesse se preparando para ridicularizar o que eu estava prestes a dizer.

— Comigo?! — Ela replicou, o sarcasmo evidente em seu tom.

— Você também sonhou comigo. — Defendi-me, sentindo a necessidade de expor essa conexão que parecia nos envolver mesmo no subconsciente. Ela revirou os olhos, claramente querendo encerrar o assunto. O silêncio se instalou novamente, denso e carregado. Ela bebeu um gole de água, seus olhos fugindo dos meus.

— Como foi... o sonho? — Ela perguntou finalmente, mas sua voz soou distante, como se quisesse manter uma barreira entre nós.

— Como foi o seu? — Rebati, e ela deu de ombros, recusando-se a responder. — Foi o que eu pensei. Você não fala, e eu também não falo.

Olhei para baixo, tentando me concentrar nas minhas mãos apoiadas no balcão. Sentia uma mistura de frustração e desejo. Bárbara, com toda sua arrogância, com seu jeito fechado e seu olhar penetrante, conseguia mexer comigo de uma forma que eu não entendia.

— Então por que me contou isso? — Ela bufou, cortando o silêncio com a mesma impaciência de sempre.

— E por que você ficou brava? — Retruquei, já prevendo a resposta.

— Eu não tô brava.

— Claro que está, você sempre tá. — Desdenhei, tentando provocar uma reação.

— Para de puxar briga! — Ela se irritou, e eu bufei, sentindo a frustração crescer dentro de mim.

— Eu não tô puxando briga! — Me defendi, sabendo que estava perto de perder a paciência.

Ela grunhiu, estressada, e saiu andando, deixando o prato vazio para trás. Observei seus passos rápidos, cada movimento dela me provocava. Soltei um suspiro pesado.

— Por que tá tão irritada? Eu só falei.

— Eu não tô irritada, só não quero mais conversar. — Ela respondeu fria, como se estivesse colocando uma barreira intransponível entre nós.

— Tá fugindo da conversa porque sabe que eu atraio você.

— De novo isso? — Ela respondeu, exasperada.

— Odeia tudo o que sente por mim, o que eu causo em você. Odeia se sentir vulnerável. — As palavras saíram de forma quase instintiva, como se eu estivesse verbalizando o que há tanto tempo estava preso dentro de mim. — Sua marra, seu jeito esquentadinha, odeia gente sentimental. Precisa o tempo todo se mostrar forte, é sua armadura. Sente que se demonstrar sentimento vai parecer fraca.

Ela ficou em silêncio, sua expressão fechada enquanto ouvia cada palavra. Eu sabia que tinha atingido um ponto sensível, algo que ela sempre tentava esconder.

— E o que você quer com isso? — Ela perguntou, atordoada, e eu a olhei nos olhos, tentando entender o que se passava dentro dela.

— Só tô dizendo que te conheço o suficiente pra saber porque não admite que me quer. — Falei de frente pra ela, sentindo meu coração bater mais rápido.

— Não sabe nada sobre mim. — Ela me olhou nos olhos, desafiadora, mas eu não recuei.

— Por que age assim? — Ignorei sua última frase, finalmente fazendo a pergunta que sempre me assombrava.

— Eu não vou entrar no seu joguinho. — Ela respondeu e se afastou, como se quisesse encerrar a conversa de uma vez por todas.

— Eu não quero jogar com você. Quero entender você.

Ela respirou fundo, claramente lutando contra os próprios pensamentos. Babi me olhou profundamente, como se estivesse decidindo o que fazer a seguir. Dei as costas, indo para o meu quarto.

— Quer saber? É perda de tempo. — Murmurei, mais para mim mesmo do que para ela.

Baguncei meus cabelos enquanto caminhava para o meu quarto, a sensação de frustração crescendo dentro de mim. Quanto tempo mais eu conseguiria aguentar essa situação? Meu desejo por ela parecia aumentar a cada dia, e a incerteza do que ela sentia por mim estava me deixando agoniado. Mesmo que ela negasse, eu sabia que havia algo não dito, algo que ainda precisava ser revelado.

Quando estava quase chegando à porta do meu quarto, ouvi passos rápidos atrás de mim. Virei-me e vi Babi vindo em minha direção, seus olhos misteriosos, como se estivesse prestes a tomar uma decisão importante.

— O que foi?... — Perguntei, minha voz soando desanimada, mas antes que eu pudesse dizer mais alguma coisa, ela me interrompeu, agarrando minha camisa com força.

— Cala a boca. — Ela ordenou, antes de me beijar com uma intensidade que eu não esperava.

case thirty nineOnde histórias criam vida. Descubra agora