case thirty nine

Capítulo cento e cinquenta e nove.

Chapter one hundred and fifty-nine
★ Milena, e você? ★
{Tacoma, Washington}
<Milena Denvers narrando>

Decker havia dito que ia sair para comprar umas coisas e já voltava, mas demorou mais do que o esperado. Quando finalmente chegou, ouvimos o barulho de um carro, o que indicava que ela tinha ido mais longe do que havia deixado parecer. Depois de muita insistência, ela finalmente admitiu:

— Eu estava na casa do Gabriel. Satisfeitas? — Carolina confessou, e eu e Thaiga ficamos boquiabertas, chocadas com a revelação.

— Sério?! — A palavra escapou dos meus lábios antes que eu pudesse me conter.

— Por que mentiu sobre isso? O que aconteceu? — Bianca falou quase ao mesmo tempo, refletindo minha curiosidade.

— Não tem nada pra falar. — A loira tentou se esquivar, se jogando no sofá como se quisesse enterrar o assunto ali mesmo.

— Ah, pronto, agora virou a Bárbara? — Bianca ironizou, cruzando os braços.

— É diferente. A Babi dormiu com o Victor, eu... — Carolina começou, mas eu a interrompi.

— A Bárbara o quê?

— Nada, falei demais. — Carolina respondeu rapidamente, visivelmente arrependida por ter deixado escapar.

— Carolina! — Eu e Bianca falamos em uníssono, e Carolina passou a mão pelos cabelos, suspirando.

— Sim, eles estão ficando. O Mob me disse...

— O Mob sabe?! — Bianca explodiu, indignada.

— Nem fodendo. — Murmurei, incrédula. Carol riu, e eu gesticulei com a mão. — Sem trocadilhos de duplo sentido, por favor.

— Eu não falei nada. — Carol respondeu, tentando segurar o riso.

— Aquele filho da mãe nem me conta. — Thaiga cruzou os braços, claramente ofendida.

— Tá, depois a gente fala disso. — Tentei encerrar o assunto, sentindo que estávamos nos desviando demais. — E você e o Gabriel...?

— Nada. — Ela deu de ombros, mas eu não ia deixar passar tão fácil. Peguei meu celular, fingindo que ia mandar uma mensagem.

— Prefere que eu pergunte pra ele? — Ameaçei, com um sorriso de canto. Carolina revirou os olhos, mas sabia que eu não estava brincando.

— O que vocês querem saber? — Ela cedeu, largando o peso no sofá. Thaiga, que até então estava calada, se inclinou um pouco para frente, claramente interessada. — Sem julgamentos, ok? Tudo bem, eu fiquei com ele. Fiquei no sentido mais avançado, mas não me façam dizer com todas as letras. — Carolina confessou, e eu e Bianca trocamos um olhar, dando de ombros em silêncio.

— Vocês não vão falar nada?

— Não. — Respondemos ao mesmo tempo.

— Não, você disse sem julgamentos. — Acrescentei, e Carol suspirou aliviada.

— Mas se você quer saber... — Thaiga prosseguiu, e Carolina abaixou a cabeça, já esperando algum tipo de sermão. — Eu tenho certeza que você vai quebrar o coração dele de algum jeito. — Bianca falou, mas de um jeito mais suave, quase como um aviso.

— Como assim? — Carolina murmurou, visivelmente afetada.

— Você vai ficar confusa. "Eu não sei se quero ter algo sério, vai que ele me magoa". — Imitei o que ela provavelmente diria, enquanto Carolina me olhava com os olhos marejados. — Mas no final, você sempre acaba magoando a pessoa. Era só uma coisa de momento e você chora dizendo que quer o Samuel, seu ex. — Falei, e Carolina abaixou a cabeça, parecendo pequena no sofá. Mas logo se recompôs para me rebater.

— E o que você sabe sobre confusão? Nos últimos três anos, a gente te disse que você estava deixando o Marcos na friendzone. E você sempre dizia "Eu não sei se gosto do Mob assim". Alerta de spoiler, você gosta e sempre gostou do Mob! — Carolina atirou, e as palavras dela me atingiram em cheio.

Engoli em seco, sabendo que no fundo ela estava certa. Minha amizade com Marcos sempre foi... diferente. Ele me tratava de um jeito especial, diferente de como tratava outras amigas, e eu respondia da mesma forma. Ele dava sinais confusos, tão confusos que eu acabava achando que era tudo coisa da minha cabeça. Mas no fim de semana passado, quando nos beijamos, algo mudou. Foi como se um sentimento oculto finalmente se sentisse seguro o suficiente para emergir, depois de três anos sendo ignorado.

Mas e se eu estivesse me enganando de novo? E se fosse apenas mais um mal-entendido, uma projeção da minha vontade de encontrar algo real em meio ao caos? A ideia de estragar tudo, de perder o Marcos para sempre, me apavorava.

— Gente, calma, não precisamos ficar nos alfinetando. — Thaiga tentou apaziguar.

— Dessa vez é diferente, tá? Eu realmente me sinto confortável com o Gabriel, pronta para esquecer o Samuel. — Carolina disse com um olhar determinado, quase desesperado para que acreditássemos nela.

— Acreditamos em você. Milena, e você? — Bianca perguntou, seus olhos fixos em mim, esperando uma resposta que eu não tinha certeza se estava pronta para dar.

— Eu... sou só amiga do Mob. — Falei, olhando para o chão, tentando convencer a mim mesma tanto quanto a elas.

— Um dia você vai perceber. — Thaiga disse com um tom de lamentação, balançando a cabeça como se já previsse o que estava por vir.

Eu sabia que ela estava certa. Eu estava me escondendo atrás de uma fachada, tentando negar o que sentia para não ter que lidar com as consequências. Mas a verdade era que o Marcos não era apenas um amigo. Ele era muito mais do que isso, e admitir isso era assustador.

Talvez eu precisasse parar de fugir dos meus sentimentos e, finalmente, encarar a verdade.