Capítulo cento e quartoze.

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Chapter One Hundred and Fourteen*
★ Babi espera ★

Enquanto Victor se afastava, suas palavras e o olhar curioso que ele me lançou não saíam da minha mente. Era como se ele tivesse penetrado uma camada de minha vida que eu sempre mantive oculta. O olhar dele, uma mistura de perplexidade e preocupação, fez-me questionar se ele realmente compreendia o impacto que tinha sobre mim. Nunca imaginei que me sentiria tão exposta e desarmada ao seu lado. Cada vez que ele se aproximava, meu corpo reagia com um misto de nervosismo e expectativa, sentimentos que eu não sabia como lidar.

O que antes era uma dinâmica de provocações e confrontos agora estava sendo substituído por uma complexa teia de emoções que eu mal conseguia entender. O desejo de permanecer inquebrável e no controle estava sendo desafiado por uma nova realidade, onde eu precisava enfrentar minhas próprias fraquezas. Sentia-me encurralada entre a necessidade de me proteger e a vontade de explorar o que essa nova dinâmica poderia trazer.

Enquanto observava Victor se afastar, uma parte de mim queria chamá-lo de volta, queria entender melhor o que estava acontecendo entre nós. Mas outra parte de mim, mais cautelosa e autossuficiente, temia se entregar a essas emoções. O que estava claro era que, a partir daquele momento, nossa relação havia mudado irrevogavelmente. O caminho à frente seria incerto e desafiador, mas uma coisa eu sabia com certeza: a presença de Victor agora estava profundamente entrelaçada com minha própria jornada de autodescoberta e transformação. O que viria a seguir dependeria de como enfrentaríamos essa nova dinâmica e de como poderíamos, se é que pudéssemos, redefinir o que significava ser forte diante do que sentíamos um pelo outro.

Afastei esses pensamentos, tentando me distrair assistindo a alguns filmes. Meu celular vibrou e eu olhei para a tela na esperança de uma distração. Era uma mensagem do meu pai.

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Pai: Preciso de um favor.

You: Sim?

Pai: Vou vender a casa.

You: Ah. Tudo bem. E daí?

Pai: O documento da casa está no nome da sua mãe também, por comunhão de bens.

You: Sei.

Pai: Preciso do certificado de divórcio.

You: Não está com você?

Pai: Não, e é por isso que eu preciso do favor. Preciso que você peça para a sua mãe, se eu pedir, ela não vai me ouvir.

You: Quer que eu fale com ela?

Pai: Por favor. Eu sei que você odeia falar disso, mas ela vai responder a você.

You: Tudo bem, eu faço.

Pai: Obrigada. Estou com saudades. Amo você.

You: Também, amo você.

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Suspirei pesadamente e passei a mão pelo rosto e cabelo. Levantei-me e comecei a andar de um lado para o outro. Quando minha mãe nos abandonou, eu e meu pai, ela pediu que ele assinasse os papéis do divórcio. Ela ia se casar novamente, e logo depois de nos deixar.

Ela me abandonou quando eu tinha seis meses. Nunca fez um esforço para me procurar, a não ser quando havia algum interesse. Cresci sem ela, tendo que aprender a me cuidar sozinha. Senti-me culpada por toda a minha vida, questionando se havia sido um peso para ela. Meu pai me criou sozinho, e ela nunca fez e nunca fará parte da minha vida.

É só uma mensagem, tentei me convencer. Não vai mudar nada. Mas as lembranças de seu abandono, a raiva que isso ainda me causa, foram o suficiente para me dar um gatilho.

Eu não posso sentir raiva. Porra. Respira. Sentei no sofá e respirei fundo várias vezes, tentando controlar a tempestade interior. Mas não consegui me acalmar. Com um grito abafado de frustração, joguei os itens da mesa de centro para longe e fechei o punho com força, sentindo a dor crescente.

Foi a última coisa que lembro antes de a realidade se tornar dolorosamente clara: meu punho estava machucado e sangrando, a palma da minha mão ardia. Victor estava ali, segurando meus pulsos, trazendo-me de volta à realidade.

— Tá fazendo o que, Bárbara? — ele perguntou, olhando ao redor, perplexo. Eu puxei minha mão bruscamente, sentindo a dor consumir meu braço. — O que foi? — Victor olhou para meu punho ensanguentado, e eu recuei, afastando-me levemente dele.

— Você sabe o que aconteceu — respondi, virando o rosto, minha voz quase inaudível, sufocada pela raiva que me impedia de respirar. Eu precisava me recompor. Não podia me permitir ficar vulnerável, principalmente na presença de Victor.

— Babi, espera — ele pediu, segurando meu ombro e fazendo-me girar para enfrentá-lo. Senti a crise de raiva dando espaço a uma onda de sentimentos que invadiam meu corpo, deixando-me desamparada. Victor examinou meu rosto por alguns segundos, e eu não consegui dizer nada. — Tá tudo bem.

Victor me abraçou, e eu permaneci imóvel, tentando me recuperar. A sensação de seu abraço, inesperada e reconfortante, foi um choque contra a tempestade interior que eu enfrentava. Eu geralmente me sentia desconfortável com toque físico, mas  entre a raiva e a dor no punho a presença dele parecia ser o único ponto de estabilidade em meio ao caos que me consumia.

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