Capítulo cento e vinte e quatro.

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Chapter one hundred and twenty-four 
Está mentindo pra mim?

— Oi, mãe. — Falei, tentando, ao menos por um momento, afastar a bagunça que Bárbara Sevilla causava na minha cabeça.

— Victor! — A voz da minha mãe ecoou com uma nota de nervosismo que me deu arrepios. O que eu estava escondendo dela me consumia. — Onde você estava? Não me respondeu nas últimas semanas. Eu estava preocupada!

— Desculpa, eu estava ocupado com o trabalho. — Falei, com um tom tristonho, e dei um gole no chá, buscando alguma sensação de normalidade.

— Por que não me contou que estava em Seattle? — O tom de chateação na voz dela fez com que eu engasgasse com o chá. Bárbara estava me observando e riu discretamente, seus olhares me causando uma mistura de nervosismo e desconforto.

Sentei no banquinho em frente ao balcão da cozinha americana do apartamento.

— Como você sabe?

— Mandei mensagem perguntando para o Mob. Eu estava preocupada com você.

— Tinha que ser.

— Victor Augusto Thompson Jones! — Minha mãe falou com um tom de repreensão, fazendo eu afastar o celular do ouvido por um momento.

— Eu não te contei porque não tive tempo, desculpa por isso. Foi só uma investigação de última hora, imprevistos no trabalho. — Falei, remexendo na minha xícara de chá, tentando encontrar alguma resposta convincente.

— Está mentindo pra mim? — Percebi que minha voz havia saído muito falsa. Minha mãe me conhecia melhor do que ninguém, e ela sabia que algo estava errado. O desespero começou a tomar conta de mim.

— Não! — Respondi rapidamente, me arrependendo no instante em que as palavras saíram.

— Victor! — Minha mãe insistiu, e eu senti vontade de jogar tudo para o alto, de desistir. A ideia de que ela poderia descobrir a verdade me aterrorizava.

— Mãe, pelo amor de Deus. Eu só estava ocupado, estou no meio de uma investigação.

— Eu te conheço há vinte e sete anos, desde que você nasceu. Não tente mentir para mim!

— Mãe, por favor... — Usei a voz mais dengosa que eu conseguia. Funcionava quando eu era criança, mas agora não parecia ter o mesmo efeito.

— O que você não está me contando?

Ah, mãe, se você soubesse... É horrível ter que mentir para ela, evitar seu contato, especialmente agora que ela precisa de mim. Mas eu não consigo revelar o verdadeiro motivo de estar mentindo sobre o caso. A ideia de que ela possa descobrir a verdade ou que eu possa fracassar me deixava em pânico.

— Nada. — Falei, em um fio de voz, tentando afastar os pensamentos ruins. — Meu chefe mandou eu e a Sevilla para um caso em outra cidade, mas é só isso. Espero voltar logo.

— Você está com a Babi? Pelo menos você não vai sair da linha. — Minha mãe comentou, e eu revirei os olhos. Sabia que ela não me achava irresponsável, mas suas palavras sempre me irritavam.

— Espera um pouco. — Pedi a minha mãe.

Bárbara estava distraída em seus próprios pensamentos. Sorri para ela, e ela me olhou com desdém. De repente, uma ideia infantil me ocorreu.

Afastando o telefone do ouvido, falei baixo para Bárbara:

— Fala com a minha mãe.

— Você não está falando sério. — Ela me olhou com uma mistura de desdém e surpresa, e eu pressionei os lábios, balançando a cabeça em um gesto de súplica.

— Babi, minha anã gótica favorita... — Fiquei na frente dela, e Babi revirou os olhos.

— Não me venha com essa de "minha". — Ela falou, com um tom de ordem, e eu sorri de lado, provocativo. Ela ainda ia ser minha. Algo em mim tinha certeza disso. Voltei ao ponto da conversa.

— Por favor... Minha mãe te adora, você sabe disso. Só dessa vez. — Argumentei, e ela cruzou os braços, relutante.

— Você tem quantos anos, pelo amor de Deus? — Ela questionou, e eu dei de ombros, aceitando o desafio. Joguei o celular para ela.

— Oi, Angélica.

Ri levemente, sentindo um alívio temporário enquanto observava Bárbara falando calmamente com minha mãe. Eu não menti quando disse que minha mãe adorava Bárbara. Na verdade, ela adora todo o esquadrão. Sempre que eles vêm à nossa casa, são paparicados até irem embora. Mas especialmente a Babi e o Mob. O Mob por ser meu melhor amigo e eu, e a Babi... bem, eu sempre comentava algo sobre ela para minha mãe ou minha irmã, e com o tempo, elas começaram a brincar sobre nós dois ficarmos juntos. Eu achava ridículo, mas agora, de certa forma, entendia o porquê.

— Tudo bem — Babi murmurou, simpática, e fez um gesto sutil de "Eu vou te matar" para mim.

Mandei um beijo no ar para Babi, e ela revirou os olhos. Dei de ombros e bebi mais um gole de chá, desviando o olhar. Babi sorriu e desligou o celular.

— Pronto, você está livre da bronca. — Ela me entregou o celular, e eu abri a boca para protestar.

— Como conseguiu acalmá-la?

— Sua mãe é um amor de pessoa. Você é que não sabe lidar com ela. Victor, é sua mãe. Para de evitar ela e fala com ela, seja lá qual for o motivo. Você não é mais adolescente.

E Babi estava certa. Assenti, abaixando a cabeça, ciente de que precisava enfrentar a situação em vez de fugir dela.

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