Capítulo cento e vinte e seis.

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Chapter one hundred and twenty-six
Garotas  ★ 
{Seattle, Washington} 
<Bárbara Sevilla narrando>

Contra minha vontade, mais uma vez, me encontrava fora de casa. Odiava socializar, ainda mais quando a missão exigia esse tipo de envolvimento. Mas faz parte da infiltração, e precisávamos de informações da Eliza. Caminhávamos juntas pela praça em Seattle, o vento frio cortando o ar, tornando cada minuto mais gelado.

— Nunca arranjou briga? Nenhuma vez? — Perguntei, tentando fazê-la falar mais.

— Não, eu não consigo — respondeu com simplicidade.

Isso só confirmou o que eu já suspeitava. Eliza não era alguém que usava a força. Se ela estava envolvida com a máfia, mesmo que de forma inconsciente, seria por outros meios.

— Você é a primeira pessoa que conheço que diz isso — comentei, buscando mais reações dela.

— Isso quer dizer que você já arranjou briga? — Ela me olhou com curiosidade.

Flashbacks dos casos passaram pela minha mente. Lutas, tiros, minha fama como a melhor atiradora do FBI, advertências por abuso de autoridade, e cicatrizes de batalhas. Respirei fundo.

— Ah, só umas duas vezes na vida, no máximo... — Menti, desviando o olhar para o chão.

— Você, com esse tamanho? — Ela brincou, e eu revirei os olhos. Minha altura sempre era motivo de piadas.

— A questão não é essa. Vamos fazer uma suposição...

— Hm, lá vem — murmurou, enfiando as mãos no bolso do moletom marrom escuro.

— Se alguém te pedisse um favor, mas esse favor prejudicasse alguém, você faria? — Falei, tentando extrair mais informações dela.

— Que específico. Se eu soubesse que prejudicaria alguém, não.

— Então está dizendo que, se não soubesse, faria? — Insisti, testando seus limites.

— Sim. Eu adoro ajudar as pessoas. Não paro para pensar muito nas consequências. Só quero ajudar, entende?

Isso explicava muita coisa. O homem que Victor interrogou na festa disse que Eliza estava mais envolvida do que jamais imaginaria, ajudando de forma subjetiva. Ela era uma peça importante, e eu precisava ficar de olho.

— E qual foi a última coisa que te pediram? — Perguntei, tentando não soar acusadora.

— Por que está tão interessada nisso? — Eliza apertou os olhos, desconfiada.

— Se você nunca pergunta, talvez já tenha feito coisas ruins sem saber, só na tentativa de ajudar alguém — respondi, agora em um tom mais sério. Ela franziu as sobrancelhas, começando a se preocupar.

Antes que ela pudesse responder, Isis, Mary e Ana se aproximaram. Isis e Mary estavam com capuzes, enquanto Ana parecia atenta a cada detalhe ao redor.

— Garotas — Eliza cumprimentou, e eu acenei com a cabeça, sentindo a irritação crescer. Com elas por perto, seria mais difícil obter informações da Eliza. Ainda assim, eu não confiava nem um pouco nessas três. Talvez pudesse usar isso a meu favor e conseguir provas de que elas eram suspeitas.

— O que fazem aqui? — Ana Clara, que parecia a líder do grupo, perguntou.

— Passeando um pouco — Eliza respondeu, enquanto eu tentava disfarçar minha desconfiança. O tom de Ana Clara tinha algo a mais, como se ela estivesse sondando, à procura de algo.

— Querem ir com a gente? — Sugeri, tentando soar simpática. As meninas se entreolharam e assentiram.

Caminharam conosco, e eu mantive minha mente alerta. "Mantenha seus inimigos por perto", pensei.

— Meninas, vocês já brigaram? — Liza perguntou, facilitando meu trabalho.

— Já — responderam as três, quase em coro.

— Isso é loucura — Eliza cruzou os braços, incrédula.

— Às vezes, é necessário, não acha? — Ana Clara lançou a pergunta diretamente para mim, desafiando-me. Eu evitava revirar os olhos, tentando manter a compostura. Não era tão difícil assim perceber que elas eram suspeitas.

— Com certeza — murmurei, olhando para o chão coberto de folhas secas.

— Nunca brigou, Eliza? — Mary olhou para Eliza, que apenas deu de ombros.

— Não — respondeu, encolhendo-se levemente.

— Nunca precisou? — Ana perguntou, mexendo no cabelo de forma casual, mas seus olhos não deixavam passar nada.

— Já, já precisei, mas nunca fiz nada quando mexiam comigo.

— Que horror — Isis murmurou, enquanto eu analisava cada brecha que elas poderiam dar.

— É fácil, na verdade — Ana comentou, e Mary assentiu.

— Se alguém mexer com você, pegue o braço dela, vire-o e leve até quase a omoplata — expliquei, demonstrando o movimento no braço de Eliza. Não usei muita força, apenas o suficiente para testar a reação das outras três.

— Aí, aí! Solta! — Eliza gemeu de dor, e eu sorri de lado, satisfeita ao soltar seu braço.

— Agora, não pode dizer que não funciona — Mary comentou, estreitando os olhos para mim. Eu apenas retribuí com um sorriso debochado, enquanto Eliza segurava o braço, tentando se recuperar.

— Onde aprendeu isso? — Isis perguntou, e eu dei de ombros.

— Defesa pessoal — menti, abaixando a cabeça por alguns segundos. — Se for algo mais sério, um soco no pescoço desmaia na hora. Apertar o pulso, chute no estômago, rasteira, soco no queixo... Vai ser útil em algum momento da sua vida.

Falei de maneira neutra, enquanto Eliza parecia chocada. Olhei para as meninas como se estivesse insinuando que, talvez, o que eu estivesse ensinando pudesse ser usado contra elas algum dia. Era uma ameaça velada, mas o que eu realmente queria era preparar Eliza, caso algum dos homens de Ariel tentasse algo com ela.

Continuamos andando, e o vento gelado bateu no meu rosto. Encolhi os ombros, estremecendo de frio enquanto meus cabelos esvoaçavam ao vento. A conversa entre elas tomou um rumo mais comum, e eu comecei a me entediar. Peguei meu celular para passar o tempo.

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Victor J:Tenho novidades

You:Descobriu algo sobre os registros da máfia? 

Victor J:Aham, e você, o que está fazendo? 

You: Tava descobrindo umas coisas sobre a Eliza
Quando chegar, te conto

Victor J: Volta logo

You: Não me apressa

Victor J:Vem logo, Bárbara. 

You: Isso tudo é saudade? Saí faz só 2 horas. 

Victor J: Bem que você queria

You: Já vou, me dá 5 minutos

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Revirei os olhos, mas não pude evitar sorrir. Isso era um péssimo sinal. Sorrir ao conversar com Victor... Não podia permitir que nosso relacionamento passasse do profissional. Ou, na melhor das hipóteses, uma amizade. Sabia que, se baixasse a guarda emocional, ele acabaria se tornando muito mais do que isso para mim. E eu definitivamente não estava preparada para isso.

case thirty nineOnde histórias criam vida. Descubra agora