Capítulo cento e oitenta e cinco.

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Chapter one hundred and eighty-five
É em Washington D.C ★
{Seattle, Washington}
<Bárbara Sevilla Narrando>

No outro dia, o nervosismo tomava conta de mim. Dentro de poucas horas, eu iria encontrar minha mãe, e aquilo ocupava minha cabeça mais do que eu queria admitir. Senti um nó no estômago, um misto de raiva e ansiedade. Eu temia não conseguir esconder meus sentimentos. A ideia de demonstrar vulnerabilidade na frente de outras pessoas me aterrorizava, especialmente na frente da mulher que me colocou no mundo e depois me abandonou antes mesmo de eu completar três meses.

Soltei um resmungo frustrado enquanto me jogava no sofá, tentando distrair minha mente, e decidi responder à mensagem da Decker.

{♠︎}

Carol:Babi
You:Oi
Carol:O Gabriel tá bravo comigo
You:O que vc fez?
Carol:Ele já tava meio irritado porque eu tava de cabeça cheia e acabei descontando em todo mundo
You:Eu fiquei sabendo, não tiro a razão dele
Carol:Aí agora ele tá bravo pq eu to evitando ele
You:E por que você tá evitando ele?
Carol:Te disse que tava confusa. Não sei se quero ficar com ele
You:Vc tá falando dele o mês todo. Claro que gosta dele
Carol:E se eu não gostar? Eu tenho medo. Eu não sei o que fazer
You:Carolina, você não pode deixar de viver coisas novas por causa do seu passado. O que passou já passou
Carol:Vou ver o que faço. Mas e você, tá bem?
You:Ah, mais ou menos
Carol:Isso é por causa da sua mãe?
You:Também
Carol:Bebeu demais e tá de ressaca?

{♠︎}

Suspirei e passei a mão no rosto, sem responder. Eu não estava de ressaca, e devia isso ao Victor.

Flashback on

Victor praticamente teve que me arrastar até em casa naquela noite. O álcool corria pelas minhas veias, e eu mal conseguia me manter em pé. Tropecei até o sofá e, enjoada, desabei nele. Eu sabia que insistir em beber tanto era um erro, mas naquele momento, eu só queria fugir de tudo. Fiquei alguns minutos ali, parada, tentando reunir forças para levantar, mas tudo o que consegui foi encarar o vazio da sala escura.

Então, Victor se aproximou, e mesmo na penumbra, eu podia ver a preocupação em seu rosto. Ele estava ali, cuidando de mim, como sempre fazia. Mesmo quando eu não queria. Ou talvez, especialmente quando eu não queria.

— Toma. — Victor me entregou um comprimido e uma garrafa de água.

— Não quero. — Murmurei, a voz embolada.

— É pra ressaca. Vai me agradecer depois. — Ele insistiu, e eu, relutante, peguei o remédio. — Você tá péssima.

— Obrigada pelo apoio, Jones. — Ironizei, tomando a água em seguida.

— Acho que você já tá sóbria. — Ele brincou, tentando aliviar o clima, mas eu estava longe de querer brincar.

Levantei, me sentindo um pouco tonta, e mal percebi quando tropecei nos próprios pés. Minha visão ficou turva e, antes que eu caísse, Victor me segurou. Me pegou no colo, com cuidado, e eu senti um conforto inesperado em seu abraço. Abracei seu pescoço, murmurando algo que nem eu mesma entendi. Ele me carregou até meu quarto e me deitou na cama com uma delicadeza que contrastava com o jeito sarcástico que ele sempre tinha. Eu me mexi, tentando me acomodar melhor, mas o sono já estava tomando conta de mim. Antes de adormecer, senti seus lábios tocarem minha bochecha de leve, um gesto que quase passou despercebido, mas que ficou gravado em minha mente. Ouvi o som da porta se fechando, e então, tudo ficou escuro.

Flashback off

— Bárbara? Acorda. — Victor me tirou dos meus pensamentos, e só então percebi que ele estava ao meu lado.

— Falou alguma coisa? — Perguntei, tentando disfarçar meu estado.

— Está sem roupas pretas hoje, anã gótica? Tá bem?

Olhei para a camiseta amarela e o moletom cinza que usava e dei de ombros.

— E você está sem gorro. — Rebati, observando seu cabelo arrumado. — E aí, achou alguma coisa sobre as digitais?

-— Achei. - Ele respondeu, cruzando os braços. — Coloquei as digitais no banco de dados.

— E aí?

-— "Ilegível". - Ele fez aspas no ar, com uma expressão frustrada. — Mas, solicitei outra análise. Só que vai demorar um pouco.

— Solicitou a análise de agentes? Vai que a Ariel é algum tipo de policial corrupta.

— Você vai insistir nisso até quando? — Victor disse, visivelmente incomodado. A ideia de Lara não ser uma boa pessoa o deixava desconfortável. Ele deu de ombros, como se quisesse evitar o assunto. — Tá bom, eu vou fazer isso.

— Então a gente tem que esperar?

— Não exatamente. Achei outra coisa. Aparentemente, essas mesmas digitais estão registradas num galpão, que foi dado como cena de crime a pouco atrás, troca de tiro. Mas fica longe. É em Washington, D.C.

— Tá falando sério?

— Tô. Vou ver se arranjo um voo pra gente ainda hoje.

Resmunguei em concordância, a mente rodando com tantas coisas. O Victor, o encontro com a minha mãe, a nossa viagem para resolver o caso. Tudo parecia estar se acumulando de uma só vez.

A verdade era que Victor cuidava de mim de uma maneira que ninguém mais fazia. E isso me afetava mais do que eu queria admitir. Eu não estava acostumada a ser cuidada. Na verdade, eu odiava a sensação. Era como se alguém entrasse em um território onde eu era a única que deveria ter controle. Mas com ele... era diferente. Talvez porque, no fundo, eu sabia que podia confiar nele. E isso, por si só, me deixava desconfortável. Eu não queria depender de ninguém, muito menos de Victor.

Mas, ao mesmo tempo, era difícil ignorar como ele sempre estava lá, mesmo quando eu não pedia. Como naquela noite, quando ele cuidou de mim enquanto eu estava completamente vulnerável. Eu sabia que, de alguma forma, isso estava nos aproximando mais, mas eu não estava pronta para lidar com isso. Eu não estava pronta para lidar com ele.

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