Índice - Negro Drama

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Negro Drama.
Eu já nasci condenado. O crime não foi meu, mas o peso é todo meu. É o peso que carrego desde a primeira respiração, desde que meu nome foi registrado em uma folha de papel amarelada, no cartório esquecido da periferia. Antes mesmo de eu aprender a andar, já tinha a sentença estampada na minha pele. O mundo decidiu que eu sou culpado, sem que eu tivesse a chance de me defender. Isso é o que chamam de "sistema". Mas pra mim? Isso aqui é sobrevivência.

A primeira vez que senti o cano frio de uma arma na minha testa, eu tinha 12 anos. "Abaixa a cabeça, moleque!", eles gritaram. Eu abaixei. Foi a primeira lição: na quebrada, quem ergue a cabeça vira alvo. E não tem livro, não tem aula de história que vai te ensinar isso. Só quem vive sabe o que é andar nas ruas com medo de ser o próximo a cair. Meu irmão mais velho? Ele não teve a mesma sorte. Foi enterrado com 18, numa cova rasa, num domingo ensolarado.

Eu carrego essas histórias nas costas, mas também no peito. Porque no fundo, a cada batida do meu coração, eu escuto o eco das vozes daqueles que se foram, daqueles que ainda estão lutando pra se manter de pé. O drama é nosso, e a história nunca é só uma. É a minha, a da minha mãe que cria quatro filhos sozinha, a do meu pai que foi embora sem olhar pra trás, a da mulher que trabalha 12 horas por dia pra, no fim do mês, não sobrar nada.

Mas eu não sou só drama. Tem também o sonho, o brilho de querer ser mais, de tentar escapar desse ciclo. Só que, toda vez que eu penso nisso, o sistema me puxa de volta, como um buraco negro que não solta suas presas. A escola diz que eu posso ser o que quiser. O mundo, do outro lado, grita na minha cara: "você nunca será nada além do que eu disser que você é".

E entre o sonho e a realidade, eu tento encontrar uma saída. Não quero ser só mais um número, só mais uma estatística. Mas o caminho até lá? Ninguém te dá o mapa.

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