Cê tá dirigindo um carro

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Cê tá dirigindo um carro, e a sensação é surreal. O motor ronca forte, e a batida do som invade o ambiente. As ruas de São Paulo passam rápido, mas a mente fica devagar, refletindo sobre tudo que já rolou. O volante é firme nas mãos, e, por um instante, parece que o tempo para. A vida que antes era uma correria, agora parece um filme passando em câmera lenta.

Enquanto acelero, lembro das tardes na quebrada, dos jogos de bola na laje, dos sonhos que eu tinha quando era só um moleque sonhando em ser o próximo Neymar ou um MC de respeito. Olhando pra trás, percebo que cada dia na favela foi uma aula, um aprendizado. As pessoas que passaram pela minha vida, os rolês nas quebradas, tudo moldou quem eu sou hoje.

O carro não é só um carro; é um símbolo de conquista, de luta e de resistência. Lembro das dificuldades, da minha mãe ralando pra me dar um futuro melhor. Agora, tô aqui, dirigindo um possante, mas nunca esquecendo das noites frias, das janelas quebradas e das lutas que a gente teve que enfrentar pra chegar até aqui. Esse carro é um lembrete de que, por mais longe que eu esteja do gueto, ele nunca sai de mim.

Na estrada, vejo o reflexo das pessoas na calçada, algumas com olhares curiosos, outras com um sorriso de reconhecimento. Cê vê, a favela não esquece. E a cada curva que eu faço, é como se a cidade me gritasse: "Cê não tá sozinho, não." É um lembrete de que sempre tem alguém ali, na luta, buscando o mesmo sonho, querendo alcançar o mesmo horizonte.

Os semáforos piscam, e eu paro, ouvindo as batidas do funk que toca no rádio. A letra fala de superação, de vida, de amor e de dor. É um som que ressoa nas paredes do meu peito. O carro é meu, mas a música é de todos nós. Enquanto a galera do gueto se identifica com a letra, eu me lembro que cada verso é uma parte da nossa história. Não importa quão longe eu vá, o gueto tá na minha alma, e cada nota que toca é um lembrete do que construímos juntos.

O sinal abre, e eu sigo em frente, acelerando o carro. A velocidade é intensa, mas a mente tá leve. A liberdade que vem com a direção é inigualável. A cada quilômetro, eu sinto que a vida é uma estrada cheia de curvas, obstáculos e oportunidades. É sobre como a gente escolhe navegar por ela. Eu escolhi a luz, mas nunca vou esquecer da sombra que me formou.

E, mesmo com toda essa velocidade, uma coisa é certa: cê pode dirigir o carro mais bonito da cidade, mas nunca esquece da quebrada que te ensinou a viver. Então, sigo em frente, com o gueto no coração e o futuro na mente, acelerando pra onde o sonho me levar.

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