Vagabundo Nato!

2 0 0
                                        

Capítulo: Vagabundo Nato

Vagabundo nato. Essa sou eu, Gabriel, um filho da favela que aprendeu a arte da sobrevivência nas ruas. Sempre foi assim: desde pequeno, eu sabia que a vida não ia me dar nada de mão beijada. Cresci entre becos e vielas, ouvindo as histórias dos mais velhos, vendo de perto a realidade crua que moldava o meu mundo. E, mesmo com todas as dificuldades, eu não me deixei abater. Aprendi a me adaptar, a viver como um vagabundo nato, sempre encontrando um jeito de contornar os obstáculos.

A favela me ensinou que ser vagabundo não é sinônimo de ser preguiçoso ou sem ambição. Pelo contrário: é saber lidar com as adversidades, encontrar formas criativas de viver quando as coisas ficam difíceis. No meu caso, a vida era um eterno jogo de xadrez, e eu precisava ser astuto, estratégico. Cada movimento contava, cada escolha poderia mudar meu destino. E, assim, eu fui moldando a minha trajetória.

Era nas noites em que a lua iluminava as ruas de São Paulo que eu via a verdadeira essência do meu povo. Enquanto uns se entregavam ao vício, outros buscavam a redenção. A música ecoava pelas vielas, e eu ouvia os versos dos rappers que falavam sobre a vida na quebrada. O rap se tornou a trilha sonora da minha existência, a voz que representava as lutas e os sonhos de uma geração que não se deixava calar. Eu queria ser parte dessa história, queria ser a voz que ecoava e ressoava entre os muros da minha comunidade.

Quando olhei para trás, percebi que cada cicatriz que eu carregava era um símbolo da minha luta. Foram muitos os desafios enfrentados: a perda da minha mãe, a dor da solidão, os sonhos desfeitos. Mas, ao invés de me entregar ao desespero, eu usei essas experiências para me fortalecer. Cada dor me tornava mais forte, cada lágrima se transformava em combustível para minha alma.

E a vida foi me levando por caminhos inesperados. Eu me tornei conhecido como o "novo Mano Brown", uma voz que falava a verdade, que expressava a realidade da quebrada. O reconhecimento veio, mas não sem suas consequências. A fama, muitas vezes, é uma faca de dois gumes. Por um lado, traz oportunidades; por outro, expõe suas fragilidades. O jogo sujo dos poderosos começou a se revelar, e eu precisei ser esperto, muito mais do que já era.

Mas eu não sou apenas um produto da favela. Eu sou a favela. Carrego comigo a essência de cada esquina, de cada batalha. E quando os professores que me ignoraram no passado começaram a buscar minha atenção, eu sabia que o jogo tinha mudado. Mas não era hora de esquecer de onde eu vim. A verdade é que, mesmo com toda a fama e dinheiro, a favela ainda vive dentro de mim. A garoa que molha as ruas, o cheiro de comida nas janelas, o som das risadas e das brigas, tudo isso é parte de quem eu sou.

Ouvindo a cidade pulsar, eu percebia que a luta nunca termina. Havia outros meninos nas quebradas, outros sonhos esperando para ser realizados. Então, decidi que não iria parar por aqui. Meus pés, mesmo com tênis caros, continuavam enraizados na terra da favela. O compromisso que eu tinha com a minha comunidade nunca se apagaria. Comecei a levar a ideia de um projeto social que ajudasse os jovens a encontrar seu caminho, a lutar pelos seus sonhos.

E, enquanto eu me aventurava nesse novo capítulo da minha vida, percebi que a verdadeira liberdade não estava em ter dinheiro ou fama. Estava em poder olhar nos olhos daqueles meninos e meninas e ver neles o reflexo da esperança. O rap foi a minha porta de entrada, mas a minha missão era muito maior. Eu queria que eles soubessem que a vida pode ser dura, mas que sempre há um jeito de superar.

Vagabundo nato, eu não me deixaria abater. A luta continua. O negro drama nunca acaba, mas a vida também é feita de alegria, de celebração. Eu aprendi que não importa onde eu esteja, o gueto nunca sai de mim. E, assim, sigo firme e forte, sempre em frente, sempre acreditando na força do meu povo. A favela é meu lar, e eu sou a voz que vai ecoar por ela.

E se um dia eu tiver que voltar para lá, vai ser de cabeça erguida, com orgulho de onde vim e do que me tornei. Porque a vida é assim: não se trata de onde você começa, mas de onde você decide ir. E eu decidi que o meu caminho é de luta, de amor, de resistência.

E assim termina a história de Gabriel, o vagabundo nato, um guerreiro de fé que nunca esqueceu suas raízes.

Negro DRAMAOnde histórias criam vida. Descubra agora