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JÚLIA.

Eu acordei com o Caio subindo em cima de mim, ele tinha 26 anos na cara e parecia ser uma criança de 12 anos. Nós temos uma relação de irmandade incrível, somos parceiros e confidentes, a pessoa que mais confio e que sei que posso sempre contar com ajuda quando necessário.

- Sai de cima de mim, garoto!- falei tentando tirar ele de cima, o que foi a mesma coisa de nada. - CAIOOOO!!

Quando ele decidiu que já estava bom para sair e me deixar em paz deitou do meu lado e ficava me olhando.

- Nota mental: trancar a porta toda vez que dormir aqui.

Ele me atentou mais um tempo e já que não iria conseguir dormir novamente levantei para me arrumar. E o abusado ainda ficou deitado mexendo no celular enquanto meu mau humor estava gritando pelos quatro canto do mundo. Fui pra mesa onde meus pais estavam e dei um beijo em cada um, sentado logo em seguida pra comer e ir para a faculdade.

- O que vocês tinham em São Paulo? - perguntei para meu pai que tomava café.

- Era um evento que eu palestrei para uma empresa que me convidou.

Continuamos a conversar até dar meu horário para a aula e depois fui embora avisando que não iria aparecer nesses últimos dois dias porque tinha eventos e também por encontrar o Gabriel.

Meus pais de início acharam meio complicado essa minha vida de trabalhar com festas, achavam perigoso por causa do horário e na grande maioria trabalhar com homem. Mas sempre estavam por dentro de tudo, eu esclarecia as coisas, já que morava com eles até um ano atrás. Eles nunca foram contra, sempre falaram que o importante era a minha felicidade e não iriam se opor contra ela.

Quando o Felipe me fez o convite eu fiquei super feliz, de início não era algo que pensava, mas quando comecei a me envolver com esse mundo eu amei de cara. E desde então eu tô nessa vida.

Obviamente já passei sufoco por trabalhar nisso, como na maiorias das vezes ser assediada. E isso cabe de várias formas; seja ela por cantadas, passar a mão por alguma parte do meu corpo e ter até proposta de troca de sexo por ingresso. Um grande absurdo. Mas com o tempo aprendi a lidar com isso, e não vai ser apenas no meu trabalho que ocorrerá, mas como qualquer outro.

Infelizmente nós mulheres estamos taxadas a isso desde sempre, não importa o local, a roupa, mas sim o caráter da pessoa que dirige esse comportamento nojento. Meu amigo já deixou bem claro sobre esses acontecimentos, e sempre toma medidas bruscas quando ocorre com alguém, principalmente com nós garotas aqui da agência.

Chamei o Felipe para irmos almoçar num restaurante assim que eu sair faculdade, e ele topou já que meu irmão e minha amiga não poderiam ir.

- Fala tanto que detesta minha companhia, me demitiria sem pensar duas vezes, que viveria sem minha amizade, mas se peço uma coisa tá junto. - disse sorrindo pra ele.- Só diz isso pra não dizer que me ama.

- Coé, garota chata você! Fui obrigado e tu fica nessa de amor por tu?

- Óbvio?! Eu te chamei e você respondeu dois minutos depois com "manda localização que saio em 10 minutos", imagina se eu te obrigasse a vir.

Pedi meu prato e conversamos sobre os últimos acontecimentos do trabalho. Amanhã nós teríamos uma outra edição de Isso não é uma Festa, então a agência estava a todo vapor para finalização da estrutura, abastecimento de bebidas e alimentos.

Dessa vez eu não iria trabalhar durante a festa e sim ficaria responsável durante o dia para fazer vistoria e essas coisas necessárias, além que eu também estava responsável pela divulgação.

- Gabriel não vai querer ir? - ele disse debochando quando falei sobre o Gabriel não querer ir pra social que vai ter na casa dele.- Ou você mudou o garoto ou é porque vocês são dois coelhos.

Fiz uma careta e segurei para não mandar ele se foder.

- Papo reto, Gabriel e eu sempre pegávamos festinhas e na maioria das vezes era ele que aparecia com lugar pra gente ir.

Outro ponto: Felipe que me apresentou ele, eles eram colegas de alguma coisa aí que não faço ideia o nome.

- Ele provavelmente vai estar cansado, ele tá fazendo plantão em uma cidade vizinha e não vai querer sair do conforto da casa dele para ir.

Demos o assunto por encerrado e pagamos para ir pra empresa. Meu dia estava bem tranquilo e eu agradeço aos céus por isso, fazia tempo que meu trabalho não tinha várias coisas amontoadas para resolver.

Eu saí as cinco da tarde e passei no mercado para comprar o necessário para a casa e algumas coisinhas para mais tarde, fiquei bons 15 minutos na fila e na hora de chegar em casa peguei um trânsito terrível. Famoso horário de pico, meu celular tocou e eu atendi pelo carro mesmo.

- Oi, já tá vindo? - era o Gabriel, e ele estava com voz de sono então suponho que ele acordou agora a pouco.

- Passei no mercado e estou a caminho de casa, só que o trânsito está parado e parece que vai demorar um tempo para descongestionar.

- Entendi! Vou deixar liberado sua entrada aqui. Beijo, gatinha.

Despedi e desliguei, não existia nada mais irritante do que pegar trânsito quando você só quer um banho por conta do calor. Quando cheguei em casa desci todas as compras e esperei o elevador descer para subir, despedi de um morador que estava dentro e entrei em casa. Tomei um banho rápido e já fui de volta pro carro para ir pro apê dele.

Como ele já tinha liberado minha entrada, foi bem rapidinho para subir. Esperei ele abrir a porta e quando abriu entrei e ele logo me puxou pela cintura e deu um beijo na minha boca.

- Oi! - separei por um selinho e fui em direção a cozinha que estava uma zona. Não era porque ele morava sozinha que tinha que deixar tudo bagunçado, inclusive morar sozinho era até mais fácil manter organizado e além que ele mal passava muito tempo aqui no apartamento. - Trouxe cerveja e um vinho pra bebermos, e para comer pensei em uma tábua de frios.

- Tá ótimo, gatinha.

- Pra organizar ela eu vou precisar da pia limpa, e com esse tanto de louça acumulada eu não vou conseguir. - falei para ele que deu de ombros. - É sério, Gabriel.

- Relaxa, cara, amanhã a mulher que limpa aqui vai vir. Precisa esquentar não, arruma aqui no balcão.

Eu ignorei totalmente a fala dele sobre a mulher que limpa a casa dele, e eu comecei a lavar toda a louça que estava acumulada de tempos pelo visto. Se ele acha que é obrigação dela lavar tudo por causa do pagamento ele está muito enganado, é total obrigação dele manter a casa organizada durante o tempo que ela não aparece aqui.

Quando terminei tudo fui pra sala e coloquei as coisas sobre a mesa de centro e sentei do lado dele. Eu estava cansada para ter qualquer interação entre nós dois e pelo visto ele também, então nos contentamos em assistir apenas uma série.

NASCER DO SOLOnde histórias criam vida. Descubra agora