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JÚLIA.

O abraço dele me faz sentir que tudo está bem. É a primeira vez que me sinto acolhida diante dessa situação. É a primeira vez que meu coração transborda amor e culpa por conta dessa gravidez.

O abraço dele me acalenta por inteira. Seus braços ao redor de mim é como uma barreira segura onde eu consigo sentir que, com ele, tudo vai ficar bem, que tudo está caminhando para que fique.

- E isso quer dizer que você vai ficar?

Não faz pergunta difícil essa hora, amor. Eu não sei responder isso. Eu quero ficar, esse desejo está crescendo em mim, mas eu não sei se você quer isso. Não quando disse que eu poderia sumir da vida de vocês naquela noite.

- Eu não sei, Lucas... - murmuro, olhando pra ele. Ele agora está com o laço em mãos, analisando cada detalhe. - É uma pergunta tão difícil de ser respondida. Eu não sei se seria uma boa mãe, até errar o sexo bebê aconteceu, imagina o que pode vir pela frente.

- Isso não te faz ser menos mãe. - coloca o laço na caixa e se levanta, indo pro vitral. - É um passo de cada vez, aí quando menos esperar, pum, vai estar sendo uma mãe foda da nos... minha garotinha.

- Posso te confessar uma coisa? - ele concorda e eu vou pra perto dele. - Eu tenho perdido aquele medo da maternidade  A ideia já não me assusta como antes, a barriga que agora começou a aparecer me faz sentir uma mulher... como posso dizer...? Diferente?! Mas no sentido bom. Óbvio que ainda não consigo tocá-la e nem conversar com essa bebê, mas quando vou tomar banho eu fico admirada em saber que meu corpo está se modificando pra gerar uma filha.

- Hm, e isso é só o começo. - concordo e encosto na janela, olhando pra sala que foi motivo de nossa briga - Tá pensando na mesma coisa que eu, né?

- Sim. E agora vejo que me arrependeria tanto em fazer aquilo...

- Se você não saísse morta de lá.

- Me desculpa! Desculpa ter sido tão egoísta, em querer tirar um direito seu, sei que ainda estamos numa situação complicada, mas eu estou tentando, eu venho tentado ser diferente diante disso tudo. - desabafo, chorando. - Vejo que nós só estamos assim agora, como colegas, porque eu fiz a nossa relação se tornar isso, e eu quero muito que um dia consigamos reverter e voltar o que já fomos, só pra isso eu preciso ficar... E eu não sei, eu não sei se é o certo a se fazer.

- Júlia, papo reto, a minha única prioridade agora é ela. - dói tanto ouvir isso, por mais que eu já tenha noção sobre. - Eu não sei que se você ficar nós voltemos ao que éramos, mas depois de todos aqueles bagulho, eu não quero te fazer ficar, não quero que você veja a obrigação de ser a mãe dela só porque agora sabe que o que está dentro de você sabe que tu rejeita.

- Mas eu estou mudando os sent...

- Não, Júlia. Não quero saber disso, eu gosto de você pra caralho, cê sabe que sou paradão na sua, mas não tem como você estar me falando tudo isso sabendo que no final você vai embora. Eu sei que no final você não fica nem por mim e nem por ela.

- Deixa eu te provar, por favor.

- Tu não tem que me provar nada. Cê tem que fazer o que disse desde o início, seguir a sua única vontade. Sei que a vontade de ser mãe você nunca teve, então não será agora que surgirá. - fala na minha cara. Sem poupar as palavras. - Você só tem medo de me perder.

Eu só quero dizer que tudo está mudando. Que antes dessa gravidez existia uma Júlia, mas que agora, depois da descoberta, existe outra. Uma versão que só quer seguir a vida, viver todos aqueles clichê de filmes, que busca a filha na escola, aparece de surpresa no trabalho do pai.

Mas eu não sei verbalizar nada disso, por mais que cada coisinha esteja na ponta da língua pra ser dita. Só que ele tem razão. Eu não tenho que provar nada, que toda aquela revolta de antes agora é aceitação, que também é medo de perder ele pra sempre.

- Então vamos seguir o que foi dito desde o início... - limpo as lágrimas. Estou trêmula.

- Eu vou pedir pra regir um contrato, com tudo que você quiser... Assim que a minha filha nascer eu te passo tudo.

É uma gravidez por contrato. Mesmo que ele saiba que eu poderia sim ser a mãe dela, não apenas uma genitora que nem antes eu me descrevia.

- Então realmente vai ser assim... Tudo bem, se é como quer.

- Tá longe de ser como eu quero, Júlia. Porra! Mas foi como você escolheu, como tu deixou claro que não é a mãe dela.

- Eu preparei tudo isso pra se tornar um momento especial pra nós dois, eu quis fazer desse momento só nosso. E quero que saiba que foi de coração e por amor, não como se eu estivesse agindo assim só por saber que te perdi.

- E foi lindo! De verdade mermo, não tava esperando que tu se esforçasse pra fazer uma surpresa pra mim descobrir o sexo da bebê, agradeço de coração. - fala, coçando a barba. Minha garganfa parece ter um nó. - Só que a nossa relação é unicamente como duas pessoas adultas que fizeram um filho e que agora lidam com essa responsabilidade.

- Hm, tá bom. Já fiz o que vim para fazer... Tô indo nessa.

- Desculpa se falei demais, mas tava engasgado, pô.

- Tem razão, eu nunca poderia amar alguém que rejeitei, minha prioridade sempre foi a minha vida e que não podemos mudar o que já foi decidido.

- Não quis dizer isso, Júlia.

- Quis sim, Lucas! Não foi com essas palavras, mas cada coisinha foi dita nesse sentido. Tudo tranquilo, nós não somos uma família e nem seremos, não é o que você quer.

- Só é complicado... - murmura.

- Vou falar uma coisa que a Luísa dizia pra mim por conta de nós: só é complicado porque nós dois complicamos.

- Desculpa, a conversa tomou outro rumo.

- Só saiba que meu medo sumiu, que consigo visualizar uma vida ao seu lado e ao lado dela. não era pra ser.

-

NASCER DO SOLOnde histórias criam vida. Descubra agora