LUCAS.
Ela saiu sem esperar eu pagar a conta. Ignorando toda porra que falei, anulando um pedido que fiz. Mas tem problema não.
Peguei a trilha que tem que fazer pra voltar pro nosso hotel e, assim que abri a porta do quarto, ela tava jogada na rede, daquelas suspensas, que tem no chalé. O sol ainda no pique, ainda temos algumas horas aqui antes de voltar pro Rio.
- Já arrumei nossa mala. - fala, quando procuro meu cigarro em algum lugar lá de fora. - Tá lá.
Não respondo e vou pra dentro, procurando na minha mala, que por sinal estava arrumada demais. Eu não tenho esse costume da Júlia, de ser bagunceira, minhas coisas são arrumadas demais, sempre no lugar, o oposto dela; Júlia tira tudo da mala e coloca no armário, são peças de roupas ou sandálias jogadas por algum canto, maquiagem e perfume ocupando quase que toda bancada da pia do banheiro.
Ela estava arrumando as coisas desde ontem, aos poucos, e nestes dez minutos que fiquei entre pagar e vir até aqui ela organizou tudo, só deixando algumas peças para irmos embora. Pego meu cigarro e o meu isqueiro, voltando pra fora. Sento na cadeira de sol vazia, a frente de minha mulher que tá deitada, ignorando minha presença aqui.
Trago o tabaco e assopro no ar. A cabeça da Júlia se vira pra mim e eu encaro ela que sustenta nem dez segundos. Que porra. Parece que o clima acabou, tá um porre.
- Vamo ficar assim mesmo? - falo, sem papas.
- Assim como? Estamos normal.
- Para de caô, Júlia. Até o jeito que tu tá falando agora é diferente. - coço a barba, bolado já. - Cê sabe bem o motivo.
- Lucas, mas estamos bem. - responde.
Eu que não vou ficar martelando caralho nenhum. Se quiser, bem, se não, posso tá fazendo nada. Já sustentei coisa demais pra agora ficar correndo atrás dessas paradas aí.
Apago o terceiro cigarro pela metade no cinzeiro e coloco minhas duas mãos na cabeça, apoiando-a. Minutos já se passaram, sei lá quantos, mas ninguém abriu a boca pra falar ou fazer qualquer mínimo ruído. Quando penso em levantar e ir pra dentro tomar uma ducha, ela me olha, faz um sinal pra eu ir até ela e papo reto, pensei muito em não ir, seguir o que tava planejando, mas essa desgraçada sempre me puxa pra ela.
Vou dando um jeito de chegar até ela nessa rede toda furada e deito na barriga dela, já que está com todas as almofadas que tem disponível aqui. A mão dela vem pra minha cabeça e começa a fazer tipo cafuné, sem falar um a. Até o sol foi tampado pelas nuvens do céu, já perto de se pôr também.
- Sabe, é difícil eu lidar com esse assunto... Eu sempre fujo dele. - fala, depois de tempo demais em silêncio. - E agora não vai ser diferente. Afinal, isso gera uma discussão grande demais.
- Te entendo, pô. De coração mermo, mas não concordo, não acho certo tu fugir de algo que uma hora ou outra vai precisar ser conversado.
- Você não entende.
- Não, eu não entendo. - afirmo. - Só que o papo é que quando entra em um relacionamento, tu não pensa em outra pessoa pra ser mãe dos teus filhos, pra casar, pra chamar de sua. Não eu. Então é fato que vou querer uma vida contigo, sem espaço pra términos.
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NASCER DO SOL
Fanfiction"Nosso problema sempre foi a intensidade. (...) Eu sei muito bem o caminho que nós dois fizemos, espero que sempre sejamos sinceros e nada enfraqueça nosso elo." 🤍🌙