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JÚLIA.

Hoje meu dia estava tão corrido que mal tive tempo para sentar e comer uma comida descente. Esse é o preço que se paga por trabalhar numa agência de organização de eventos e ser estudante de publicidade e propaganda. Nessa última semana eu estava vivendo no automático: trabalho, faculdade, casa. Exatamente nessa ordem.

– A reunião para apresentar como irá ser a montagem do palco, camarote e bar vai ser em qual horário?

– Ficou marcado para as duas da tarde. - Felipe, meu melhor amigo, respondeu. – E depois temos uma visita em uma das locações.

Eu confirmei com ele e voltei a comer meu lanche, ainda tinha alguns minutinhos livres antes de começar a reunião para definir tudo. Respondi alguns fornecedores, procurei outras locações, algumas atrações e, por fim, quando faltava cinco minutos fui indo para a sala onde já tinha algumas pessoas. Cumprimentei e sentei no meu lugar, o Felipe apresentou a ideia junto com a Laura e eu acrescentei algumas sugestões de melhoria, apresentando plano A, plano B e se necessário até o plano C.

Já era quase seis da tarde quando terminamos de ver o local, o espaço era legal e ao ar livre, podendo abrigar todas as ideias que tivemos pro evento. Como não fui de carro para a agência, pedi pro meu amigo me deixar em casa já que esse era o meu último compromisso de trabalho do dia.

– Amanhã tenho duas aulas na parte da manhã, vai precisar de mim na agência?

– Por mim eu te demitiria agora, só que você é muito prestativa para levar comida, mas a resposta é não!

Dei o dedo do meio para ele e continuamos a conversar até chegar no apartamento, quando cheguei dei só um abraço e desci.

Ainda precisava ir pra faculdade e eu estava quase que atrasada por conta do trânsito que pegamos na vinda. Estava no meu último semestre, então precisava ir nessas aulas para completar minha grade de horários e trabalhar na questão do TCC.

Arrumei o que precisava e desci pra garagem, hoje eu iria dormir com minha mãe, já que meu pai e meu irmão estavam em um congresso em São Paulo sobre alguma coisa que tinha ligação com empresa e construção. Meu pai, senhor Vicente, tinha uma construtora e meu irmão, Caio, era arquiteto. E da para se notar claramente que eu fugi dessa área de trabalhar com construção, não é uma área que me chama tanto atenção quanto trabalhar com festas, marketing, Internet.

Trabalhar numa agência de festas não é só flores como muitos pensam, é um trabalho cansativo, que desgasta fisicamente e mentalmente e que precisa de muita atenção, porque qualquer coisinha fora do eixo pode dar errado. É preciso abdicar horas e vários pensamentos para fazer acontecer.

– Achei que não viria hoje. – Luísa, minha melhor amiga, disse quando sentei na sua frente na mesa da cantina que tinha na faculdade. Eu e ela somos amigas há bastante tempo, desde de quando éramos crianças e até hoje temos parceria.

Não fazíamos o mesmo curso, enquanto eu era da publicidade e propaganda ela era de relações públicas, então tínhamos algumas matérias juntas, como estratégias de comunicação e marketing, apesar de possuir diferença nestas duas formações. Fomos para a sala e conversamos sobre as novidades da vida. Depois disso foi só ladeira a baixo, a aula tinha duração de uma hora e meia e ninguém aguentava o professor que dava a matéria, ou seja, uma aula mal assistida.

A Luísa morava em itanhagá, um bairro relativamente perto da barra, onde meus pais moravam, então dei uma carona pra ela.

– Felipe te avisou que amanhã vai ter uma resenha na casa dele? – perguntei pra ela. Esse era nosso grupinho: Felipe, eu e Luísa. Ele é o mais velho entre nós junto com meu irmão, que também faz parte, só que a vida dele tem tanta viagem que nem parecia fazer parte do nosso grupo.

– Avisou, e ainda disse que você não vai! Posso saber o por quê?

– Vou encontrar o Gabriel, ele tinha plantão hoje então marcamos para nos ver amanhã.

– Sério que vai largar a gente para encontrar esse feioso? Poxa, Julia, esperava mais de você.

Revirei os olhos e suspirei. Gabriel é meu namorado, já tinha um tempinho que estávamos nos envolvendo. A Luísa por sua vez, detestava ele e se ambos se encontrassem ficavam trocando farpas até ninguém aguentar mais. Um verdadeiro caos. Então eu evitava ter a presença de um ou do outro no mesmo local. E não era só ela, tá? Meu irmão também pegava no pé, porém era mais contido que minha amiga e só falava quando ele estava longe.

– Já faz tempo que não nos encontramos, amiga. – olhei para ela e completei:- Sempre é plantão, festa, família e caralhos a quatro. A gente namora e eu gosto de ter ele como companhia, ter alguém pra viver o que muitos chamam de paixão.

Ela não disse mais nada e segui o caminho até chegar na casa dela, dei um beijo e fui para casa dos meus pais.

- Só aparece aqui quando seu pai viaja, caso contrário só vem quando lembra que tem mãe.

– Quanto drama, Dona Lídia! Te ligo todas as vezes que não venho aqui e você ainda reclama quando apareço? – brinquei e dei um abraço nela.

Jantamos juntas e eu fui pro meu quarto tomar um banho, hoje o dia tinha sido puxado e eu só precisava de um descanso e colo de mãe.

NASCER DO SOLOnde histórias criam vida. Descubra agora