NASCER DO SOL

72.

JÚLIA.

- Pô, não são questões de tanto faz, um vai lá e faz... - ele fala. Se um dia ele negou voz isso mudou, porque agora ele tá falante, decidiu que é uma boa falar sobre as coisas. - Minhas relações são simples, eu te quero, tu me quer, mas se você quiser outras pessoas mesmo estando comigo, foda-se, tu é livre pra ir.

- Mas isso vale da consciência de cada um. - respondo. - Lucas, você não tem cara de ser assim.

- Eu não prendo ninguém, problemão. Só torço pra pessoa querer ficar comigo na mesma intensidade que eu quero ficar com ela.

- E por que isso faz sentido para você? - pergunto interessada.

- Porque a partir do momento que eu precisar te disputar ou ter que pedir para ficar na minha vida, eu já perdi. - sabe quando você fica pensando várias coisas e ao mesmo tempo pensando em nada? Eu estou assim. As falas dele traz um efeito tão grande que até o gosto do vinho na minha boca parece mudar. - O bagulho é deixar ir embora, sem caô pra não dar dor de cabeça, só deve saber que, quando voltar, não vai ser a mesma coisa, não vou estar mais no mesmo lugar.

- Eu não sei se o que vou falar aqui vai fazer sentido no contexto da nossa conversa, mas em uma das minhas consultas com a psicóloga, ela disse que nós mesmos nos perdemos depositando nossas fichas em uma pessoa, ou em algo, daí nos frustramos, porque nada vai poder recompensar o excesso de expectativa criada. Nós vamos culpar o outro na maioria das vezes, talvez até a gente mesmo, mas nos fechamos para sentir as emoções. - falo. Ele presta atenção no que digo e parece estar meio que incomodado, ainda não sei. - Então toda vez que você fugir de sentir, está se afastando de entender todo o sentimento.

- Se doar demais às pessoas tem mais a ver com o que temos a oferecer do que sobre esse tal depósito de expectativa. A parada é o seguinte: a gente entra numa relação pra ter trocas, e esperamos o mínimo que seja que a pessoa tenha consciência, tá ligada? Do que quer, de chegar num senso comum.

- Entendi, e faz até sentido. - respondo. - Relacionamento um lado sempre vai ceder mais que o outro, isso é fato, mas se ambos tem sintonia, sabem lidar com as questões impostas, não vai ter quebra de expectativas tão drástica.

- Até que pra quem tem vinte e dois tá sabendo demais como funciona as coisas, problemão. Coé, esculachou no papo agora.

- Lindo, eu consigo dizer belas coisas, agora seguir já é outro quinhentos. - falo e dou uma risada junto dele. - Puts! Pensando aqui agora que temos seis anos de diferença... Quando eu tava nascendo cê já sabia ler e escrever.

- Novinha pra caralho. - ele fez um sinal pro garçom para pedir a conta. - Tá afim de piar pra um bar?

- Lucas, hoje é quarta feira! E eu tenho faculdade amanhã cedo. - respondo.

- Ah, vai falar que já não foi virada pra faculdade.

- Nunca. - respondo. Ele me olha negando e eu concordo com a cabeça. - Juro pra ti, sempre fui uma mulher que tinha horário pra voltar pra casa, uma verdadeira recatada, feita pra namorar.

- Caô, certeza que quando saia tu metia o terror.

- Nem tinha como, meu irmão não largava minha blusinha nunca. - sério, Caio era o maior cara de pau, ele falava que era meu namorado algumas vezes só pra espantar os menininhos que chegavam em mim. Quando eu dava perdido não durava dez minutos porque ele me achava. - Você deveria ser pior que é hoje. Tenho certeza, precisa nem pensar muito pra saber.

- Não era dos mais tranquilo não, mas também não era igual cê tá pensando. Pegou a visão errada, garota. - serei os olhos na sua direção e vi ele me olhando de canto enquanto pagava nossa conta. - Felipe era pior que eu.

- Nem preciso saber disso, aquela cara lerda dele entrega. - levanto. Vamos pra saída e entramos na garagem. - Vamos pra esse bar então, mas se amanhã eu não conseguir levantar eu vou te xoxar inteiro!

- A gente vai pro bar, curte gostosinho e voltamos, não vai dar b.o nenhum.

@juliahardel: quartinha diferente🤪

Postei a foto que o Lucas tinha tirado pra mim e na mesma hora Luísa já encheu meu whatsapp de mensagens perguntando o que eu tava querendo dizer com aquilo, porque ela sabia de quem é a casa, só mandei uma foto minha e dele fazendo careta dizendo que também não sabia e ela mandou uns quinhentos áudios diferentes, mas nem ouvi, porque tínhamos chego no lugar.

Tinha na mesa ali alguns amigos do Lucas, os daquele dia de Niterói e mais um casal que eu não conhecia. Tinha uma música ao vivo tocando, lugar estava até cheio pra ser uma quarta-feira.

- Júlia, continua amiga desse aí ou ele tá te enrolando? - Marcos, se não me engano o nome, me abraça e eu retribuo dando um sorriso sem graça. - Aô, Lucão, trouxe a amiga pra curtir junto?

- Vai pro caralho, Marcos. - ele fala e eu dou risada. Passo um por um ali para dar um beijinho e depois volto pro lado dele. Tô meio descolada, porque não conheço muito de ninguém aqui, mas participo dos assuntos. - Quer beber alguma coisa? - sussurra no meu ouvido.

- Não, já bebi o vinho mais cedo e não vai dar legal eu misturar. - respondo de volta. - Vem, eu quero dançar.

- Ah não, bagulho lotado e tu querendo enfiar no meio?

- Para de ser chato. Pagodinho leve. - puxo a mão dele levando pra onde tava o Renan e a Fernanda, os mesmo de Niterói.

Me diz o que sou eu sem teu prazer. Não sei da vida sem você, só tenho amor pra oferecer, tem flores pra te receber. Tire esse medo pode acreditar. O nosso amor foi feito pra durar pra sempre...

Uma das mãos dele ficou bem na parte baixa do meu corpo e coloquei as minhas sobre seu pescoço, sinto o cheiro do seu perfume toda vez que respiro e vou guiando nossos passos na medida que dá.

Vou revelar que eu viajei no seu sorriso, seu olhar. O bastante pra me despertar esse desejo de te dar um beijo, de te namorar.

Colo mais nosso corpo e levanto meu olhar pro seu rosto, dou um sorriso involuntário e decido beijar sua boca, não ligando pra quem está nos vendo. A mão dele sobre pro minha cabeça, entre os fios do meu cabelo, aprofundo mais sentindo o gosto misturado da cerveja que ele bebe e do vinho que antes eu bebia. Finalizamos com um selinho e ele coloca meu cabelo de lado, dando uma lambida ali.