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JÚLIA.

dia 2: festa do preto.

A mão do Rafael tentou descer mais sob minha cintura e eu travei ela ali, encarei seu rosto e ele deu aquele sorriso cínico dele. Estamos um ao lado do outro para tirar foto dos organizadores e fazer uma média no instagram da agência, além da divulgação em canais de comunicação. Carpe Diem estará expandindo suas fronteiras em breve, babies.

- Aproveitando a vida solteira, Júlia? - perguntou. Tive que me controlar muito pra não fazer uma de deboche, mas juro que é impossível a cada vez que ele abre a boca. - Até que tu mandou bem em escolher o lugar.

- Interessado na minha vida, Rafael? Novidade, já que sempre quer estar por cima.

- Seu mal é se achar de mais por ter moral.

- Graças a Deus por isso, né? Não preciso ter que ficar tendo atitudes de criança pra ter atenção. - respondi. Nem esperei resposta dele, só suporto porque trabalho junto, caso contrário é ele cá e eu lá.

Rafael não é feio, ele tem uma beleza até ok, mas esse jeito babaca dele acaba com toda essa parte externa, para mim, automaticamente se torna feio. Pavor!

Minha voz tá por um fio, cantei todas no show, que foi impecável, não teve um erro. Mami soube muito trazer as atrações, porque eu vi que geral tá curtindo. Não tem como, quando uma coisa nasceu pra dar certo não tem quem faça não dar. Só precisa executar bem e ter paciência.

Cheguei na mesa da minha galera e peguei uma cerva, não bebi nadinha de álcool durante a sunset porque eu estava m horário de trabalho, de ter que ficar resolvendo b.o que aparecia, e agora, por mais que eu precise vez ou outra sair, eu tenho uma liberdade maior, já que outras pessoas estão responsáveis.

Agora estava tendo um show de trap, colocamos essa festa como eletrônica, porém encaixamos uma atração nela porque só aquele barulho remixado é um porre.

Não sei quem está aqui direito, já que Luísa e Thiago provavelmente foram pro quarto, meu irmão tá com uma menina, Miguel fumando junto do Lucas, e o Felipe conversando com o Otávio, Tales e a Natália, namorada dele.

Pego mais uma cerveja e dou um gole, pela primeira vez eu queria estar curtindo com alguém, porque todas as vezes que o Gabriel ficava comigo eu me sentia engessada. Entendo que quando se está em um relacionamento há coisas que realmente devemos manerar, ora outra ter que abdicar de algo, mas ali, sei lá, era algo que se eu estivesse fazendo ele pedia para parar.

E pasmem, eu parava. Se ele queria ir embora, eu ia. Eu fazia todas as suas vontades, mas pode contar nos dedos as quais ele fez para mim. Eu não sei até que ponto suporta um relacionamento assim.

Realmente não faço ideia. Amor suporta tudo? Meu relacionamento era flores porque eu fingia não ver ele como um ser abusivo, e a psicóloga vem me mostrando isso. Manipulava situações que eu me via como errada. Me podei naquele namoro e saí machucada, mas consegui sair, já que muitas vezes as mulheres não conseguem.

Estou sendo uma Júlia livre. Uma mulher que se der vontade ela aproveita. Não deixa para depois. Mas é como se eu estivesse perdida, posso estar tendo todos esses momentos, mas nenhum me preenche por completo.

Talvez essa Júlia seja só um reflexo do que ela quis viver e não pôde. Uma faísca acesa após um término. Essa Júlia não quer viver assim pra sempre, mas eu tenho medo, medo do novo, medo da nova dor, e essa que nem calejada ainda está.

Mexo meu corpo conforme o corpo abaixo do meu se movimenta. Estou no quarto de alguém que senti vontade, que vi uma forma de fugir de memórias, lembranças de um namoro com meu ex. Escape.

O sexo termina ali. Com alguém que troquei mínimas palavras, saliva, e meu coração se aperta. Não é essa Júlia que eu quero ser. Levanto da cama e nem presto atenção no homem ali deitado, nem lembro a porcaria do seu nome, pego uma camisa preta que fica como um vestido em mim, abotoo e fecho meus olhos com a cena do Lucas me dando ela. Ele sendo um pau no cu comigo por eu ter saído para enfiar no quarto de alguém.

Mas me entregou a camisa quando eu disse que estava frio, já que em algum momento os meninos tiraram o que vestiam e foram pra praia. E é isso que faço, vou pra praia com o dia quase amanhecendo, pego uma garrafa água no bar e caminho até chegar lá.

- Você tinha razão quando falou que não compensava eu sair de lá. - falei pro Lucas. Ele está sentado na areia, bebendo e largado, com um daqueles seus shorts de moletom cinza e uma camisa larga branca.

- Pensei que você tinha certeza que acharia alguém que te come igual eu. - respondeu. Dei um riso nasalado, provocação e debiche nunca ia sair da sua boca. - Que foi, viu que nem todos ligam pro prazer das mulheres?

- Não, não é isso. Eu já sei sobre, vocês acham que nós somos bonecas infláveis.

- Pô, problemão, cê me deixa fora, porque eu prefiro proporcionar, isso que dá prazer.

- E é assim que você ilude pobres mulheres... - respondi e dei um gole da minha água. Olhei pro mar e senti a brisa vindo. - Quero saber o que eu te fiz. Você falou de um jeito estranho comigo. Ciúmes, preto?

Debochei e dei um sorriso olhando pra sua cara. Apoiei minha cabeça no joelho e fiquei observando ele, a garrafa na sua boca traz a cerveja e ele engole, seu olhar fixo no mar é mais uma incógnita no meio das várias.

- Tem como ter ciúmes do que não tem exclusividade? - rebateu. Bufei, odeio quando faz isso.

- Nossa exclusividade é no sexo.

- Tu acabou quando foi pra cama com outro, malucona. - é verdade, e eu me arrependo por ter agido assim. - Veio fazer o que aqui?

- Senti vontade, e talvez, bem talvez eu esteja arrependida de ter ido pra cama com um desconhecido.

- Viu que ninguém consegue o que eu consigo... Coé, já falei que sou brabo. - emaranhou sua mão no meu cabelo e eu quis muito não ter tido algum efeito dele.- Vê como reage quando eu te toco, Júlia. Tu não tem isso com os outros.

- Eu também vejo quando eu te toco. - respondi. - E o que você tá fazendo aqui?

- Fumar. Fica proibindo minha maconha lá dentro, pô. - levantei a cabeça e também comecei a olhar o céu na cor alaranjada. - Tem essas paradas aí de céu e caralhos a quatro?

- Sou apaixonada em ver o sol nascer, é uma das coisas que se pudesse, eu daria pausa e ficaria pra sempre ali. - respondi. - O nascer do sol  é o que alimenta minha alma, de saber que todo dia vai ter, vai se renovar. O nascer é como uma esperança renovada a cada dia. Eu costumava colocar ele referente ao amor.

- Por que?

- Porque ele invade, desperta um espaço sem cor e se torna uma coisa inevitável. Ninguém nunca pergunta se o sol vai nascer, porque ele sempre vai estar ali em algum momento, o que é igual ao amor.

- Mas ele só vai durar por algumas horas e depois o dia amanhece de vez.

- Amor não é questão de tempo, nunca foi, é questão de segundos alguém pode chegar sem aviso prévio e arrumar tudo aquilo que está quebrado há tempo dentro de você. - falei. Os primeiros raios solares aparecem e eu tiro a blusa dele e deixo ela ali na areia e me levanto apenas de calcinha para ir até o mar. - O amor não foi feito pra doer, foi feito pra curar.

NASCER DO SOLOnde histórias criam vida. Descubra agora