54.

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JÚLIA.

Ouvi o som de vozes conversando e eu olhei pro Lucas na minha frente me olhando puto porque não terminei o que tinha começado. Ninguém falou que era obrigação minha fazer ele gozar, muito menos quando nem eu teria essa sensação.

Eu não ia vir para cá, mas vi a oportunidade perfeita de expor meu ódio por ele, assim: numa cabine de banheiro feminino, vozes de mulheres conversando, o som alto da música.

- Tu tem que parar de marra, problemão. - ele chegou bem perto da minha boca e falou. - Não vamos interferir no bagulho que não cabe quando estamos só nós dois.

- Ah, é? Eu que tenho a marra? - perguntei. - Você não olha pro seu próprio umbigo.

- Eu não olho pra mim mesmo? Pô, aí não... - respondeu.

Minha vontade agora é sair daqui e, é exatamente isso que vou fazer, nem ligo se não vou ser recompensada da forma que mereço, eu estar excitada consigo resolver, mas não quero ter que ouvir deboche dele. Não quando sei que vamos ficar nessas provocações que termina em sexo.

Olhei pra cima e suspirei quando senti a mão passar pelo meu ponto fraco; a mão descendo do meu pescoço pro ombro me trouxe um arrepio. Reagi e só destranquei a porta, olhei nos olhos deles e voltei a falar antes de sair:

- Se quiser você mesmo termina. Tem uma mão ainda, né? - falei e nem esperei a resposta dele. Quando fui pro lado de fora vi uma das pias vazia e duas garotas conversando baixo. Fui pra frente e tentei arrumar meu cabelo e passar o batom que estava todo borrado.

A porta abriu novamente e eu olhei pelo espelho ele arrumando o zíper da calça e me olhando. Olhei pro lado e as meninas secaram ele com olhos e depois me olharam com um olhar querendo dizer que sabia o que estávamos fazendo. Coitadas, avisa que fizemos tudo, menos gozamos. O desgraçado deu um sorriso para elas e veio para trás de mim.

- Só não reclama depois quando estivermos entre quatro paredes. - sussurrou.

Mordi a ponta da língua pelo efeito inesperado e me virei para ele antes de sair. Mais algumas mulheres entraram e encararam ele.

- Você não pode ficar aqui. - falei e ele andou até a porta.- Lucas? - chamei e ele olhou - Tu sabe que eu gosto.

Virei de novo pro espelho e tentei me recompor. Ele tem um efeito sobre mim inexplicável, fiquei alguns minutos ali e voltei para onde estavam. Peguei uma longneck e abri dando um gole, a cerveja desceu e o gosto amargo logo apareceu na minha boca.

Não sei em que momento eu peguei a garrafa de vodca e bebi como de fosse água, mas agora estou aqui encarando o Lucas, que ultimamente tem sido a pessoa que compartilho algumas horas. Horas essas que traz efeitos quase que delirantes.

Não sei porque não peguei ninguém, alguns já chegaram em mim e eu só neguei. Afinal, nem sei o porquê, deve ser por simplesmente estar "cumprindo" o que ouvi da maldita boca. E ele também não ficou com ninguém.

Nem faz sentido. É uma maluquice. Lucas Ferraz é um surto. Ele beija bem, muito bem por sinal, e fode bem, mas é uma maluquice. Isso tudo é um surto. A proximidade que estamos tendo é uma coisa psíquica. E deve parar. Estamos fugindo de uma realidade onde nada disso deve acontecer. Eu ao menos gosto dele.

NASCER DO SOLOnde histórias criam vida. Descubra agora