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JÚLIA.

Olho os documentos de requerimento na minha frente e bufo, jogando a cabeça pra trás e sentindo minha cabeça girar por completo. Cheguei aqui na agência e me atolei em reunião, documento, projetos para divulgação. Muita coisa acumulada pela minha falta dos últimos dois dias. 

- Seu almoço, Julinha. - Felps passa pela porta dizendo. Tem uma sacola em sua mão e um copo de bebida em uma cor meia estranha para ser um suco. - Tá se sentido mal?

- Tô bem, é só dor de cabeça por estar lendo esses papeis. - respondo. - Mas como assim almoço? Eu não pedi. 

- Está no nome do Lucas, ele que enviou pelo visto. - aponta para a sacola de papel de um dos restaurantes que mais amo. - Não vai me contar o que está acontecendo? Sei que você já ignora o whatsapp por livre espontânea vontade, mas ouvir pelos outros e não por tu que não ia aparecer por aqui, e que você sumiu e foi parar em Itacuruçá é demais. Então tem uma parada rolando sim. 

- Acho que é melhor o Lucas te contar. 

- Você é a minha melhor amiga. - pontua. Eu me levanto para abrir essa embalagem que está em minha mesa. 

- E ele também é seu melhor amigo. - retruco. Meu celular começa a vibrar, mas nem olho. Estou interessada demais em saber o que é. - Ai não, salada e um bife. 

- Cheirando bem pra caramba. - responde, futricando o pote. - Tá, e aí? Vai desenrolar ou não?!

- Tá, vou te cont... - meu celular começa a vibrar novamente e o Felipe pega ele pra mim e verbaliza um "amor". Ainda não troquei o nome do contato. - Oi, Lucas!

- Tava fazendo o que para não atender esse celular? - é a primeira coisa que ele fala. - Almoçou já?

- Não. - respondo, simples. Não temos assuntos para serem tratados igual antes. - Mas acabei de ver que você enviou comida pra mim.

- Sabia. Júlia, agora você está grávida, não tem como ficar tempo demais sem comer, ou ficar comendo só bobeiras.- suspiro. Agora tudo será esse mesmo argumento: grávida. 

- Eu ia comer! Só estava terminando de tratar um assunto aqui na agência junto do Felipe.

- Hm, tá bom. Mas come agora. - pede, ou melhor, manda. As coisas para ele só funcionam assim. 

- Você não é meu pai, Lucas... - resmungo. - E você poderia ter enviado, sei lá... batatas fritas, um purê de batata, macarrão. E me envia salada e suco beterraba com cenoura? 

- Opção leve e saudável, a noite você come algo com mais sustância.

- Era só isso? Posso desligar já?

- Na verdade não. Eu vou contar para os meus pais hoje.

- E...? - indago.

- Eu quero que você vá.

- A gente... cê sabe, Lucas.

- Eu sei, mas eu não queria ter que falar agora que não estamos mais juntos. 

- Não sei

NASCER DO SOLOnde histórias criam vida. Descubra agora