28.

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LUCAS.

- É incrível como você sempre tá com um capacete além do seu, devo me preocupar com suas mulheres? - alá, toda debochada. Não sabe ficar na boa.

Trouxe ela pra um bar perto da faculdade, bar onde já fiquei muito em época que fazia meu curso, era o ponto pós aula, pré aula ou enquanto rolava aula. Garota ficou toda retraída quando viu o cara lá parado na portaria, me pedindo até pra mudar caminho.

- Ih, é perigoso, tu sabe, mas relaxa que não vão te pegar pra bater não. - brinquei e ela deu uma risada.

- Acho ótimo. - pedi pra descer mais um litrão e coloquei nos nossos copos.- Então é nesse bar que você matava aula?

- Deduziu isso? - ela concordou e comeu a porção que pediu. - Tá errada não, tanto é que a maior parte de pessoas aqui é universitário, porque é quase que colado na uerj.

- Acho que enjoei da cerveja. - ela bebeu e fez uma careta engraçada pra caralho. Tô dizendo, nem cerveja bebe direito porque gosta daqueles bagulho cheio de coisa. - Vou pedir tequila, aqui tem?

Concordei e pedimos quatro doses, duas pra cada.

- Conta essa história maluca tua aí de ter que me fazer mudar caminho.

Porra, já tinha uma cota de tempo que estávamos conversando e em nenhum momento tocamos no assunto, mas evitei me intrometer demais.

- Chifre! E agora fica atormentando a vida das pessoas.

- Caô?

- Podia, mas lembra aquele dia que você me encontrou na rua chorando? Tá aí o motivo. - ela falou e eu bebi mais da minha cerveja ouvindo. - É uma humilhação sem fim, parece que quanto mais você se entrega, mais trouxa você vai ser.

- As pessoas costumam ser filhas da puta com quem faz tudo por elas. É normal. - falei despretensiosamente e ela ergueu a sobrancelha me observando. - Acha que não sei nada da vida, patricinha?

- Apenas surpresa! - ela respondeu e pegou dois copinhos da tequila.- Tirou da onde esse patricinha? Agora deu de ficar me chamando assim.

- E tu não é? - negou. - Então devo tá maluco. Tudo que tu fala, age, é igual filhinha de papai.

- Você não me conhece, Lucas. Não me conhece mesmo...

Peguei uma dose da tequila e virei junto dela, maior parada, tava fodido se tivesse alguma parada com esse bagulho de bafômetro.

- Me conta da sua vida aí, só sei seu nome, que trabalha na empresa do meu pai, e é amigo galera.

- Pô, é isso aí mesmo. - ela me olhou indignada e eu ri da cara de maluca dela. Filha da mãe já tava com bebida. - Quer saber o que?

- Você é tão sem graça, meu Deus! Pior coisa que fiz foi vir pra um bar e ter sua companhia. - ela brincou e eu peguei mais uma dose da tequila.- Não sei como você tem tanto amigo sendo o miss sem simpatia.

- E você sendo mimadinha! - devolvi. Garota já tava ficando puta. - Tenho 28 anos, já morei na Alemanha por alguns anos antes de voltar pra cá e vez ou outra faço uns passa tempo aí.

Peguei um cigarro e acendi, ficando aquele silêncio e um olhando pro outro, sem saber o que falar.

- Vamo jogar sinuca, bora, levanta dessa cadeira. - na paz terrível e ela levanta da mesa com essa.

- Sabe jogar sinuca?

- Por que você fica duvidando da minha palavra?

Dei de ombros e fui pra parte de dentro do bar, entreguei um taco pra ela e organizei as bolas pra começar, e já começou levando vantagem: ela que arremataria primeiro. Olhei pra ela e bebi da minha cerveja, ela vinha rebolando aquela bunda gostosa dela, se inclinou na mesa apoiando os antebraços e empinando a bunda, uma posição que deixa a deriva vários pensamentos.

Ela concentrou e deu a primeira tacada na bola branca, espalhando as outras por toda a mesa, conseguindo encaçapar duas bolas pares. Ela me olhou com um sorriso provocador e sarcástico, veio pro meu lado e esperou eu me posicionar para fazer minha jogada, passei o giz na ponta do taco e fiz minha jogada, mas não conseguido encaçapar nenhuma.

Ela voltou e se inclinou mais uma vez e, em uma tacada perfeita, ela matou mais duas bolas, é... eu não deveria ter duvidado.

- Achei que sua marra de ser o fodão te faria matar ao menos uma bola, Lucas, mas vejo que me enganei.

- Você gosta de provocar as pessoas, Júlia. Já percebi.

Ela se inclinou novamente e posicionou o taco, matando mais uma. Foda-se tudo, eu não iria cair em provocaçãozinha e deixar sem nada. Rocei minha barba perto da sua nuca e ouvi ela suspirar, em uma só tacada consegui colocar três bolas dentro dos saquinhos.

- Sua vez! - falei encarando seus olhos e vi ela desviar logo em seguida.

Me coloquei por trás dela e esperei ela se concentrar, peguei meu copo que estava ao lado aposto meu me inclinando por trás do seu corpo e roçando minha barba na sua nuca, vendo seu corpo reagir no mesmo instante.

- Você me desconcentrou e me fez errar, seu filho da puta! - bebi minha cerva e apenas neguei com a cabeça.

- Não é minha culpa se você bateu errado, apenas peguei meu copo.

- E precisava colar em mim para isso? - dei de ombros e ouvi ela bufar, soltei uma risada em seguida. - Certeza que fez isso só para não perder, não existe outra explicação plausível além dessa. Não sabe jogar limpo.

- E existe uma regra dizendo que não pode jogar sujo, marrentinha?

- Como você é irritante com esses apelidos.

Depois de algumas tacadas, faltava a porra da última bola, Júlia estava do outro lado da mesa toda empinada para fazer a jogada e na última jogada conseguiu matar a bola. Larguei o taco e ouvi as gracinhas dela.

- Te avisei que era sinuqueira, não avisei? - garota tava toda feliz, maior parada, pior que criança quando ganha doce. - Já tá tarde pra caramba, vou pagar minha parte e vou pedir um uber, tá?

- Já paguei enquanto tu tava no banheiro. - ela me olhou com aquela cara de bolada e eu saí de dentro. - Te deixo em casa.

- Tem certeza?

- Tenho pô, só subir e pra gente partir.- atravessamos a rua e subi de volta na moto, indo pro condomínio pela parte da praia.

- Sério, valeu demais! Quebrou um galho enorme. - ela desceu e me entregou o capacete. - A noite foi até legal, ainda mais quando ganhei de você na sinuca.

- Tem que fazer caridade pros freguês né? - brinquei e ganhei um tapa no ombro. - Coé, maior tapão esse teu.

- Mas obrigada, tá?

- Por nada, maluca. Qualquer caôzada tamo aí. - falei e liguei a moto de volta. - Cuidado com esse maluco do teu ex, vigia.

- Pode deixar. - ela deu um sorriso e acenou.- Cuidado por aí.

Acenei com a cabeça e parti pra casa, Rio de Janeiro nunca tá quieto, sempre tem algo, mas a maioria das coisas já tava fechando.

NASCER DO SOLOnde histórias criam vida. Descubra agora