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LUCAS.

Tô puto pra caralho com tudo que vem acontecendo na minha vida. É um b.o atrás do outro, só merdelê mesmo, sem pausa, pô. Quando acha que tiver derrubado uma barreira, um muro se forma, e isso é entre nós dois.

Quando eu abro a porta pra ir pro racha com os crias pra desestressar dou de cara com minha mãe bem na porta de casa. Tá com semblante bom não, tenho até medo.

- Coé, coroa, brotou na base? Brigou com meu pai foi? - falo, deixando ela passar pra dentro. Lá vai ela me enrolar pra sair, certeza.

- Antes fosse, Lucas. Antes fosse! - me olha por inteiro, parando na minha blusa de time pendurada no ombro. - Vai aonde? Tem vergonha na cara não? 

- Calma, pô... Tá falando do que?

- Vai se fazer essas horas? Aí, eu achei que com vinte e oito anos na cara você já fosse maduro o suficiente.

- Qual é, coroa? Brotou aqui pra me esculachar a toa? - pergunto, passando a mão na barba. - Tô te entendendo não, manda o papo.

- O que passa nessa sua cabeça de fazer a merda de um contrato, Lucas? Pirou foi? Esqueceu que eu te criei pra ser homem e não moleque?

Depois dessa sento até numa poltrona que tem aqui na sala, vai vir esculacho pra caralho agora.

- Soube disso como, mãe? - pergunto.

- Eu fui na casa da Júlia levar umas roupas que tinha pego pra lavar e passar pra ela quando ela estava aqui passando mal. - responde, vindo pra minha frente. - E quando eu chego lá eu encontro ela chorando, passando mal por causa de você. Porque você fez essa merda de contrato da gravidez!

- Aô, mãe, não vem jogar a culpa só pra cima de mim não.

- Cadê esse papel, Lucas? Me dá ele aqui na minha mão. - pede. Eu me levanto e vou pro meu escritório pegar a cópia para dar a ela. - Eu tô chateada com vocês, de coração.

- É uma coisa nossa, ninguém tem que se meter. - sou grosso, mesmo que sem querer. Eu só vejo uma almofada voando em minha direção. - Foi mal, mas é verdade.

Ela começa a ler tudo. Cada linha que ela passa eu sou encarado.

- Cláusula dez: "Júlia Hardel não poderá ter contato com a criança após finalizar o ciclo na vida da própria. Evitando conflitos futuros caso tenha interesse em se intitular mãe." - termina de ler e joga o papel do meu lado. - Eu esperava mais de você, Lucas. Cem mil essa gravidez, além de que você está proibindo a criança de ter uma mãe!

- A Júlia não é a mãe. E eu posso muito bem arrumar alguma, que com certeza vai fazer um papel bom na vida dela. - falo, com ódio. Lembrando da merda do primeiro dia, aqui nessa sala, exatamente onde estou. - A minha prioridade é o que está dentro dela.

- Sua prioridade é essa criança, mas enquanto a mãe tá lá passando mal, sozinha, você vai jogar futebol com esses moleque que só quer saber de beber e fumar? Tem certeza que sua prioridade tá sendo a criança?

- Mãe, namoral, nossa situação não está boa. Ela nunca quis ser mãe, falou uma caralhada de coisa pra mim no dia que descobriu, ela só vai gerar e vai embora. Simples!

- Eu me recuso a ouvir isso! - coloca as mãos no ouvido, simulando que não estava ouvindo nada. - Eu não acredito que te pari, que te criei, que te fiz tonar esse homem.

- É a verdade nua e crua, mãe. Se quiser pode conversar com ela, perguntar... Talvez ela só se faça de coitada pra senhora.

- Eu conversei com ela, e a Júlia me contou tudo; que ela pensou em fazer... quero nem falar o nome, que rejitou esse bebê, que vocês discutiram feio, tudo, ela me contou. Mas ela também disse que quer ficar, ela só não sabe se é isso que você quer, porque você sempre fala algo que expulsa ela.

- Ela falou isso sem se vitimizar? Uau...

- Se você não parar de debochar dela, Lucas, eu juro que quem vai brigar com você vai ser eu! - aponta pra mim. Ela tá brava pra caralho. - Se você soubesse o que é uma gravidez e que ela muda a perspectiva de vida de uma mulher a cada segundo, tenho certeza que não estaria propondo esse contrato imbecil.

- Eu não sei se o que ela fala é algo verdadeiro, de quem realmente está disposto a tentar ou se é passageiro essa aceitação dela.

- Se fosse passageiro eu tenho certeza que ela não estaria aceitando passar por essa humilhação que você está fazendo com ela. Porque sim, esse contrato é uma humilhação! Pelo que ouvi você só joga na cara dela o erro, não consegue ouvir que ela quer tentar, que quer vocês sendo uma família. Você só está prejudicado a saúde desse bebê que ainda nem nasceu! Tem esse descolamento, tem o estresse que afeta, tudo, Lucas! Cadê a maturidade da sua parte de sentar e conversar, hum?

- Coroa...

- Eu nem deveria tá aqui te falando isso, são quase trinta anos na costas, meu filho... mas ver você agir assim com a mãe do filho de vocês é demais pra mim. Gravidez tudo é sensível, ela só precisa de acolhimento, de encorajamento.... Tudo que vocês vão conversar vira briga, um jogando na cara do outro, nunca é dizendo que juntos vocês podem vencer isso.

- Eu dou a chance, a gente se resolve e se no fim ela for embora mesmo? Como que eu fico?

- Você fica com a cabeça tranquila, de saber que tentou, que deu seu melhor e não vai se martirizar pro resto da vida com a privação dos "e se.." que vão aparecer caso ela vá embora sem que você tenha dado uma oportunidade...!

- Não sei não, Dona Marisa...

- Acredita nela, Lucas. Quando eu estive aqui cuidando dela eu vi que ela já estava mudando... Ela ficava se olhando no espelho, focando na barriga que ainda é pequena, ela via vídeos de amamentação, aqueles vídeos de parto. E nenhuma mãe que não quer o filho faria isso.

Ouvir isso me deixa na dúvida. Eu não sei o quanto é verdade, o quanto é a vontade dela de ficar.

- E ela tá melhor agora? - pergunto, fugindo do assunto anterior.

- Fiz uma sopa pra ela, ajudei ela a tomar banho e mais umas coisinha pra ver se melhora. - responde. - Mas não é isso que ela precisa agora, a Júlia só necessita do cuidado de saber que ela tem a capacidade ser uma boa mãe, do seu encorajar pra ela ficar e cuidar do maior bem de vocês, porque ela te ama muito, assim como sei que você ama ela.

NASCER DO SOLOnde histórias criam vida. Descubra agora