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JÚLIA.

Desci da moto e fiquei vendo ele estacionar ela junto dos outros veículos que estão na garagem aqui da casa de Saquarema. E é tão engraçado o quanto o mundo dá um trezentos e sessenta graus mudando todo o eixo. Onde já pensou que Júlia Hardel, vulgo eu, amaria a sensação de estar em cima de uma moto a mais de cem quilômetros por hora? Nem nos meus meros sonhos.

- Lucas, o meu pai ainda não sabe. - paro em sua frente. Ele ajeita a barba dele e pego minha mochila que ele estendeu. - Eu vou conversar com ele, tudo bem? - pergunto. - Seu Vicente, apesar de torcer por mim e nunca dizer nada em questão as minhas relações, eu sei que ele prefere o método tradicional de namoro e essas coisas todas.

- Caô nenhum, problemão. - respondeu. Fiquei nas pontas do pé para tentar chegar em sua altura e depositei um beijo na sua boca.

Entramos e fui logo empurrando as coisas pro meu quarto, falei pra deixar as dele também que depois resolvia. Falei com meus amigos presentes ali e depois o Lucas apareceu também cumprimentando.

- Demorou horrores, hein. - Lu falou quando dei um abraço nela e entregando o que pediu. - Obrigada, irmã! Tu é a melhor, cê sabe.

- Eu fui tomar café com os pais do Lucas e acabou que enrolamos muito lá. - ela me olha de olhos arregalados e eu fico sem entender. - O que foi? Falei o que de errado?

- Pera, deixa eu processar. - ela faz um sinal e eu pego a cerveja gelada que me ofereceram. - Tipo, tu conheceu, de conhecer mesmo os pais dele? Uau...!

- Pois é, eles são super queridos. - respiro o ar frescos e sento na cadeira, ao lado do Felipe. - Pai dele é super centrado, a mãe você viu como é, mas eu simplesmente amo o jeito dela, super carismática.

- Sogrinhos que apoiam! Já conquistou eles, só falta o namoro.

- Calma, ainda não conversamos sobre, estamos só nos curtindo. - respondo, por fim.

Ficamos ali conversando até dar a hora de ir pra praia, esperando juntar toda a galera e descer. Queria muito já conversar com meu pai, mas eu nem vi sinal dele aqui e nem da minha mãe.

Eles se dividiram quem ia com quem e eu já montei na moto novamente, agora com a mesma roupa que eu estava antes de sair de casa, para ir à praia. O dia tá todo azul, bem limpo, sem nenhuma nuvem no céu.

- Thiago vai vim mesmo? - perguntei pro meu irmão.

- Porra, parece que sim. Ele enviou mensagens pra Luísa, mas nem sei o que deu. - respondeu. De verdade, eu não sei como reagiria assim, de conviver com ex como amiga, ou ter mínima maturidade pra essa situação, porque é um porre, né. - E eu tô tranquilão, moleque é gente fina, então sem merdelê.

O Felipe, Miguel, uma garota que não sei quem é se juntou entre nós e sentaram na mesa do quiosque, nos lugares vazios. Olhei pro homem ao meu lado e coloquei a minha mão na sua perna, ele me olhou e eu soltei um sorriso. Ele simplesmente saiu pensativo lá da casa dos pais dele, conversa só o básico e acabou.

- Tá tudo bem, preto? - prrgunto baixinho pra ele que concorda com a cabeça. - Certeza? Qualquer coisa você avisa que nós vamos, não sei.

- Relaxa, problemão. Dia tá bonitão, calor e uma loira, pô, tá foda. - responde bebendo da cerveja que pediu.

- Vamos almoçar o que? - minha amiga pergunta. - Calma, o Thiago tá vindo.

Todos olham pra ele. Simplesmente ninguém disfarça. Olho pro meu irmão, pra minha amiga e não sei dizer nada. A Luísa se levanta e ele dá um oi rápido e dá um beijo na bochecha da Lu.

- Torta de climão. - Felipe solta. O Lucas solta uma risada e eu reprendo ele com um cutucão. Minha amiga fuzila o Felipe e dessa vez eu que seguro a risada. - Que isso, loira. Falei que queria de sobremesa torta de limão.

- Quem não te conhece que te compre, Felipe. - responde.

- Senta aqui, mano Thiago. - meu amigo oferece o lugar ao lado dele, que por incrível que pareça é o único disponível, de frente ao meu irmão. - Churrasquinho bolado com a fumaça da cabeça da Luísa, o almoço hoje. - meu irmão da um chute na perna dele igual aqueles adolescentes. - Aou, pega pilha não!

No fim deu tudo certo, decidimos e o clima tava super leve, só sentia a minha amiga apreensiva vez ou outra, mas ninguém tocou no assunto, Caio e ela sendo super respeitosos com o Thiago, sem muitos toques, essa coisa mais casal pata não ficar uma coisa chata.

Sentamos ali pra assistir o campeonato de surf, dessa vez meu irmão não ia participar, mas ficamos até o final do dia, com o pôr do sol e as ondas do mar. Decidimos ir embora pra continuar a resenha lá na casa mais tarde. A primeira coisa que fiz foi tomar um banho e deitar pra descansar o corpo, falei pro Lucas que se ele quisesse podia ficar aqui no quarto comigo, que não tem problema nenhum e ele aceitou.

Enquanto ele tá no banho eu fico olhando meu celular, apagando algumas fotos e favoritando outras, até chegar em uma de nós dois, em um momento aleatório, mas que saiu totalmente espontânea.

As ondas do mar de fundo, o céu alaranjado do pôr do sol, eu agarrada no seu pescoço, não de uma forma proposital, porém uma forma de tentar pegar o meu celular da sua mão para ver as fotos que eu pedi para ele tirar de mim, o semblante dele é quase todo sério se não fosse o sorriso de canto, ao contrário do meu, que é um sorriso aberto, sua mão na minha cintura e...

E eu amei essa foto.

Favorito ela e penso em postar nos melhores amigos, mas vem na mente que não somos nada e que ela é muito para acharem que somos um casal comum. Talvez seja melhor guarda- lá como recordação, sem precisar explanar aos quatro cantos. Ser algo nosso.

Acordo e sento na cama, a televisão está desligada, sinal que dormi muito e que o Lucas que desligou, porque ele deitou aqui comigo assim que saiu do banho e nós ficamos assistindo uma série, na verdade mais discutirmos sobre qual assistir do que realmente ver.

Vou ao banheiro e faço minha higiene para descer, mas assim que piso na escada consigo ouvir duas vezes vindo da sala que tem embaixo das escadas.

- E eu estou com tua filha.

NASCER DO SOLOnde histórias criam vida. Descubra agora