NASCER DO SOL

15.

                                 JÚLIA.

Eu acordei no susto, não sei nem como vim parar na minha cama, mas apenas sentia as pontadas na minha cabeça. Uma dor absurda que nem remédio amenizaria. Do meu lado estava o meu irmão, ele dormia todo torto, pela sorte divina o quarto está todo escuro, que ajuda amenizar minha dor.

Eu ainda me sinto perdida, parece que alguma coisa atravessou meu coração deixando um vazio para ser preenchido. Meu corpo está dolorido também, retesado, minha cabeça passa em um looping infinito aquela cena. Eu torci tanto por ser sonho, mas eu sei que não é.

Eu tomei um banho super quente e fui na cozinha pegar um remédio para dor, a claridade fez dar pontadas na minha cabeça, tomei e voltei para o meu quarto, deitando de novo e apagando mais uma vez.

Quando acordei minha dor de cabeça já estava melhor, meu irmão já tinha acordado e estava deitado do meu lado mexendo no celular.

- Como você tá? Por mais inútil que seja essa pergunta. - neguei com a cabeça. - Luísa já veio aqui perguntando de você.

- Vou te responder: péssima! Não quero lembrar disso a cada segundo, mas tem um filme na minha cabeça que se repete.

- Sabe que mananinho vai estar do seu lado pra tudo, né?! Que sempre vai torcer por você e pelo seu melhor- sorri por ele ter falado mananinho, que era o jeito que eu chamava ele quando criança. - Não quero te ver chorar por pessoas filhas da puta que não merece tuas lágrimas, por terem vacilado contigo, e o que for. Tu é forte pra caralho, chatona.

- Te amo.

Meu irmão é uma das minhas maiores forças aqui na terra, desde sempre. Temos nossas implicações, mas que é só nossa forma de expressar nosso amor. Sequei minhas lágrimas, o que foi inválido e fiquei abraçada nele, meu celular não parava de tocar e eu apenas desliguei por saber de quem é as ligações.

Eu não quero saber dele tão cedo, eu estou num nojo tão grande que não há palavras para descrever tudo que estou sentindo. Por fim, eu tive que levantar, hoje eu tinha até trabalho, que era para estar inclusive lá, mas minha disposição é nula.

- Amiga, que bom que acordou! - pisei na sala e a Luísa veio me dar um abraço. - Sei que não tá bem, então nem irei perguntar, mas vou ficar esses dias aqui.

- Obrigada por tudo, tá? Amo você demais e nem sei o que faria se não tivesse você na minha vida.

- Sem choro, por favor! Hoje o dia tá lindo para você ficar reprimida aqui dentro desse apartamento, então vamos fazer algo na praia.

Eu poderia falar tantas coisas da Luísa, mas nenhuma palavra seria criticando, ela é força além, seu jeito todo maluco, tudo nela é só dela.

- Amiga, desculpa, mas não quero fazer nada além de ficar aqui quietinha.

- Vai viver enfurnada dentro do quarto? Ah tá, pensei que sim. - eu dei um sorriso pela falação dela e sentei na mesa, estava sem apetite algum. - Felipe ligou aqui falando que não precisa ir trabalhar hoje, que pode ficar de casa por esses dias também.

- Garota escandalosa, puta que pariu. - Caio surgiu interrompendo nosso papo e sentou do meu lado, a Luísa fez uma careta e eu fiquei olhando a interação deles.- Não pode dormir em paz.

- Se tá incomodado vá para sua, eu hein! Minha casa também e fica reclamando.

- Mal mora aqui e quer falar que é sua casa?

Deixei eles lá e fui pra varanda, o dia realmente estava lindo, bem azul. Liguei meu celular novamente e vi a mensagem do meu melhor amigo dizendo que sabia o que tinha rolado e que se precisasse de algo estaria a disposição. Agradeci e vi as quase duzentas mensagens do Gabriel desesperado, abri e li uma por uma, sem responder nada bloqueei ele.

Eu não vou ficar chorando pelo leite derramado, mas essa dor que estou sentindo é cruel. Fui pro meu quarto e me tranquei nele, ficando no meu mundo. Não sei quanto tempo fiquei inerte ali, mas ouvi a Luísa me chamar pra comer mais uma vez, o Caio também veio aqui trazer o almoço, mas a minha falta de apetite se faz presente mais uma vez.

- Amiga, eu tô bem, juro pra você. Eu só não tenho vontade de comer, já tentei, mas eu não consigo ter apetite. - falei.

Dei um tchau pro meu irmão que queria ficar, mas eu não iria prender ninguém comigo, isso está fora de cogitação, não tô doente. Também quase que expulsei a Luísa daqui, fiz até juramento que se acontecesse algo eu ligava pra avisar, mas eu não vou fazer ela desistir de sair pra ficar junto de mim.

Peguei algumas peças de roupa e coloquei na minha bolsa, hoje eu só estou querendo o colo dos meus pais, que por agora já devem estar sabendo o que aconteceu porque tenho um irmão fofoqueiro.

Nem avisei que vinha, apenas coloquei meu carro na garagem e entrei pelo corredor lateral que da na área do fundo, entrei na cozinha e vi meu pai ali preparando alguma coisa. Acho que ele sentiu a presença e se virou pra mim, meu rosto ainda está inchando pelo choro e isso ressaltou ainda mais o quanto chorei, ele veio pro meu abraço.

- Oi, pequena! Tá melhor? - sua voz calma e de acolhimento é como um remédio. - Eu soube do que rolou, o Caio nos contou e só quero que saiba que vamos estar aqui, por mais que venha dizer que sabe se cuidar sozinha.

- Ah, papai... você não sabe o quanto tá doendo tudo isso. - comecei a chorar mais uma vez, porém amparada pela pessoa que me fez ser forte. - Tá doendo tanto!

- Vai passar, você pode morrer de qualquer coisa, menos de amor. Amor não mata!

Ele deu um beijo no topo da minha cabeça e fui pra sala onde minha mãe estava analisando alguns exames.

- Oi, meu amor, que bom que está aqui. - ela levantou e abraçou meu corpo. É tão bom saber que minha família se importa tanto. - Se não fosse o Caio e a Luísa eu não saberia nunca, né? Minhas mensagens não responde, minhas ligações muito menos e nem sei se podia encontrar na sua casa, apesar que já estava comentando de aparecer por lá.

- Eu ia contar, só estou digerindo ainda. - respondi.- Estou fugindo do mundo, celular desligado, sem qualquer possibilidade de me machucar ainda mais.

Sentei ali no sofá e fiquei conversando com ela, meu pai trouxe um prato de macarrão e eu comi minha primeira refeição do dia. Meu irmão desceu todo arrumado e veio pro lado, ficando nós quatro ali na maior paz.

- Eu falei para ela que de amor ninguém morre, ainda mais minha filha que eu criei pra ser forte e enfrentar os problemas que o mundo dá.

- Vocês são minha maior base.

Minha noite foi maior paz, relaxei minha mente e fiquei ali esperando o sono vim.