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JÚLIA.

Cheguei na agência e já enfiei minha cara nos projetos. Saí da construtora até tonta depois daquilo, parece que fui sugada, não tô conseguindo pensar direito.

Minha cabeça tá doendo em um nível absurdo, e ter que lidar com esse assunto de festa que vai ter sexta, mais um rota sertaneja, e do meu aniversário que vai ser daqui alguns dias, tá acabando com o restante dos meus neurônios.

Eu não planejei ter aquela conversa com ele, declarar, praticamente fiz isso, só precisava ir lá pegar minhas coisas e voltei mais confusa, porque eu não sei o que esperar, eu não tive resposta. O silêncio dele é horrível, eu não consigo decifrar nada, eu odeio isso.

Ele pode ter assumido numa frase nos últimos segundos, mas não é nada, não foi nada, porque o que eu precisava ouvir eu não tive como, ele não abriu a boca pra dizer um a sequer.

No horário do almoço mando uma mensagem pra Luísa dizendo que já estava indo buscá-las para irmos almoçar na casa dos meus pais. Conversei com a tia Soraia sobre o tratamento da radioterapia que ela está fazendo, e os resultados só melhoram, eu fico imensamente feliz, porque eu sei e eu vi como essa doença silenciosa ataca, destrói. Luísa e ela são tão fortes por suportarem isso, porque é uma barra.

- Mãe, eu e ele não temos nada. - respondo. O assunto aqui é Lucas. Tudo que eu menos queria falar. - Depois que você conheceu ele parece que ele é teu genro, né.

- Mas ele é, se ainda não, vai ser. - responde. Ele poderia ser seu genro se ele fosse claro sobre as coisas, não fizesse uma greve para falar. - Sabia que eu sonhei que você tava grávida? Foi a coisa mais linda, eu babava meu netinho, todo bonitinho.

Arregalei meu olho ouvindo ela falar esses absurdos. Bati três vezes na madeira do armário e elas riram.

- Ia ser a coisa mas bonitinha a Júlia sendo mãe, o bebê parecido com ela. - tia Soraia fala. - Mas quem é esse Lucas, minha filha? Não tô lembrado de nem um. - a Lu, maior fã dele, que diz com todas as letras que eu e ele formariamos o casal perfeito, mostra uma das poucas fotos que ele tem no instagram. - Que bom gosto, menina.

- Mãe, tia, sonhar não custa, mas vocês sabem que eu não tenho vontade de ser mãe, né? Então impossível! - falo. Eu nunca nem peguei um bebê para terem noção, eu nunca tive esse sonho da maioria das meninas. - E mãe, vou fazer o teste por descarrego, porque você tem boca santa, mas vai dar negativo.

- Você ainda vai ter um filho, Júlia. Escuta sua mãe, sonhei e vai acontecer, porque tudo que falo acontece.

- Mulher, pelo amor de Deus, Júlia vai sair apavorada daqui com esse assunto. - Luísa fala e eu começo a rir, mas de nervoso. Meu maior medo aqui: me tornar mãe.

O assunto continuou, eu só ouvindo, vou dar palco pra essas maluca sambar não, já já elas alugam um triplex na minha cabeça. Fora que não quero conversar nada relacionado ao ser que começa com L.

Despedi da minha mãe e voltei pra agência, finalizar meu dia e depois me arrumar pra sair com o Fernando mais uma vez. Cada dia é uma coisa diferente e eu tenho gostado disso. Já estamos bem mais soltos, ele é um cara legal, descobri isso conforme os encontros que tivemos, porém os primeiros ele parecia ser daquelas que só liga para si próprio, que quer apenas falar sobre ele mesmo, mas isso tem mudado.

NASCER DO SOLOnde histórias criam vida. Descubra agora