NASCER DO SOL

11.

JÚLIA.

- O que foi, gatinha? - Gabriel já tinha chegado a um tempinho, tínhamos acabado de jantar e eu vim pra varanda. - Maior saudade.

- Para de agir assim, Gabriel. - tentei me desvencilhar dele, mas ele me pegou pela cintura e prendeu seu corpo no meu. - Me solta, cara.

- Porra, já falei que ela trabalha comigo! Quer mais o que? - saí do aperto e fiquei olhando o céu que estava todo estrelado. - Nós namoramos já tem alguns meses, nunca te dei motivos pra desconfiar. Tu sabe que me amarro no nosso lance.

Durante o jantar ele tinha recebido mensagens de alguma garota, ele disse ser colega do trabalho, mas sua reação foi totalmente estranha quando perguntei.

- Tô falando sério. Vamo aproveitar esse final de noite, hein?! - virei pra frente dele senti ele vir me dando uns beijos. - Sexta dorme lá em casa?

- Não tem como, meus pais vão fazer um jantar. - até chamei ele pra ir, só que disse ter plantão e que não conseguiria. - Dorme você aqui. Amanhã não tenho faculdade e só vou entrar pro trabalho após o almoço.

- Luísa nem gosta de mim, você sabe! Prefiro ir pra casa. - dei mais uns beijinhos nele porque eu não resisto. Aproveitamos bem rapidinho antes da minha amiga chegar em casa. - Tô indo nessa, gatinha. E me escuta, relaxa, tira essas paranoias da cabeça.

Luísa tinha acabado de chegar, ela só deu um oi e ficou me olhando. Ela tratava ele com educação, mas pra fazer gostar de alguém, meu amor, você tem que lutar, e muito tá? Não é qualquer um que conquista o coração dessa mulher.

- O que é, Júlia? - ergui a sobrancelha e esperei ela começar a falar. - Nem falei nada. Sua consciência que tá pesada.

- Não falou, mas quer falar, né? Te conheço bem Luísa Gouveia. - ela sentou do meu lado e deu de ombros. - Tá se segurando por que? Aproveita que sou todos os ouvidos.

- Não vou avisar nada, porque tudo que precisava avisar já avisei. Quero só ver quando cair do cavalo, viu? Vou ser a pessoa que vai mandar logo um "eu bem te avisei".

Enquanto ela jantava perguntei sobre a mãe dela, a tia tinha dado uma melhora e isso animou muito minha amiga. Amanhã na parte da manhã iria resolver por mim mesma meu presente pro meus pais e o Caio que se lasque com o dele.

Quando acordei tinha um café já pronto na mesa, comi bem rápido pra ir buscar algumas encomendas que tinha chegado e me arrumar pra ir ao shopping resolver esse b.o e comprar uma roupa pra amanhã.

- Vamos comigo, Felipe! Pego um dia de trabalho seu em troca. - mandei um áudio pro meu amigo e esperei ele responder.

Quando consegui convencer ele fui em direção ao shopping, íamos nos encontrar no outback. Passei em uma agência de viagens e escolhi como presente uma viagem pra Portugal, um tempo atrás tava conversado com minha mãe e ela disse querer ir pra lá ainda esse ano.

- Teu amigo é um abusado. - já estávamos no restaurante, nossos pratos já tinha chegado e enquanto comíamos jogamos conversa fora. - Você acredita que ele insinuou eu ser filhinha de papai? -perguntei indignada. Ainda não engoli aquelas falas.

- Caô? -olhei seria e ele soltou uma risada.- Estranho que pra mim ele faltou falar teus defeitos, que pra não enxergar só cego mesmo. - Felipe é um escroto, cara, que ódio! - Se você não namorasse meu mano eu trancava vocês dois num quarto pra tirar esse tesão reprimido, porque quando se encontram a energia fica até estranha, papo só.

Já falei que o falei que o Felipe é escroto? Ah bom, porque ele é bem escrotinho quando quer.

- Ainda bem que eu namoro, e que namorado eu tenho viu?

Pedi uma sobremesa e fiquei ouvindo o Felipe falar sobre um contrato pra uma festa pré ano novo, em Búzios, inclusive essa seria a terceira edição que a agência organiza.

- Tá fácil assim? -ele falou se referindo a eu ter pago o nosso almoço. - Se for assim nós almoçamos todos os dias.

- Como você é insuportável, Felipe, meu Deus! - já tínhamos saído do outback e agora eu estava indo em uma loja a procura de roupas para amanhã.

- Tá achando que vou ficar atrás de tu a procura de roupa, filhona? -ouvi ele perguntar enquanto olhava uma arara de vestidos. - Tá achando que tá na disney.

- Não me enche não, tá? Preciso de uma roupa pra amanhã.

- Não vai ser uma roupa que vai arrumar essa feiura sua. - dei dedo pra ele.

Felipe falou isso mas foi a mesma coisa de não ter falado, porque tudo que eu pegava pra experimentar ele palpitava, tá achando que é o meu personal stylist.

- Felipe, vai trabalhar que tu ganha mais.

- E deixar você escolher essas roupas horríveis? Ah tá, pensei.

- Vou deixar de ser sua amiga, porque ninguém merece.

-Vai nessa que eu te deixo sem trabalho.

A atendente que me recepcionou me indicou o provador e eu agradeci, o Felipe veio atrás de mim olhando pra garota e eu entendi o por quê de não ter ido embora.

- Entendi agora do porque você continuar aqui. - falei e ouvi ele dar uma risada. Não pode ver uma garota bonita que ele tá atrás. - Envia uma mensagem pra Luísa e pede para ela me encontrar no cinema.

- Não é porque você não trabalha que tem que tirar os outros do trabalho.

- Hahaha, muito engraçado você. - terminei de experimentar minhas peças e fiquei ouvindo o meu amigo conversar com a atendente. Tadinha, já tava pra dar um chute nele com tanta asneira que ele falava. - Cuidado com a lábia dele, tá? Não presta nadinha esse cafajeste.

- Loira, não liga pra ela não, ela nem sabe o que tá falando.

- Sou vacinada de homem assim, se eles dão golpe eu finjo cair pra depois golpear. - ela falou e eu dei risada. - Homem a gente usa pra outras coisas, porque se existir um que preste é muito e ele não tá entre nós.

- Assim você maltrata com meu coração, gata.

Deixei eles lá e voltei a olhar mais algumas peças, no final eu saí de lá com várias sacolas. Encontrei a Luísa na praça de alimentação e seguimos pro cinema, Felipe nos acompanhou reclamando, mas no final foi o que mais curtiu o filme.

- Consegui convite pra um show de pagode amanhã. - já estávamos em casa, aproveitando o fim do dia na piscina com uma música e um vinho. - E você vai! Quero nem saber de desculpa, assim que a gente sair do jantar dos tios nós vamos.

- Conseguiu o convite dando né, safada?

- Tenho minhas táticas. - ela falou e piscou, e eu gargalhei. - Mas é sério, já nos conhecemos a um tempinho, mas foi só essas semanas pra trás que começamos a ficar e acabou que ele me convidou.

- Eu prometi sair com você, não posso fugir porque você me paga pra cruz e joga na minha cara em toda oportunidade que tem.

- Ufa, ainda bem que me conhece.

Eu fui fazer uma comidinha pra gente e aproveitei pra ligar pro Gabriel que estava no hospital, a gente conversou e eu desliguei quando o jantar já estava pronto.