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LUCAS.

Júlia tava apagada aqui do meu lado, garota tava mal pra caralho, tanto é que quando fui arrumar a posição pra ficar confortável ela agarrou em mim.

O desespero no olhar dela foi algo que me afetou, eu nunca tinha estado tão perto assim de uma situação igual a essa, de ter que entrar no meio pra separar, eu fiquei sem saber o que fazer igual. Mas fiz o que achei que tava certo, por mais que minha maior vontade era de quebrar a cara daquele desgraçado.

Respondi mais uma vez a pessoa e expliquei que não tinha como eu sair daqui agora, que tava pegado com uma situação e amanhã eu resolveria esse b.o que surgiu. Tava conversando com o Caio agora, moleque tá em São Paulo e nem sabe do que tá rolando aqui com a irmã dele, queria até falar pra vê o que fazer, mas não posso falar nada sem precisar me envolver em coisas que nem faço parte.

- Lucas, cheguei. – ouvi a Luísa sussurrar e entrar no quarto da Júlia. Até eu tinha pegado um cochilo bolado pela demora, já era quase onze da noite. – Desculpa a demora, tava apresentado um trabalho e peguei um trânsito fodido pra vim pra cá.

Nem vi quando ela chegou, mas só tentei levantar da cama e a Júlia me prendeu mais uma vez, ela não soltou a minha mão por nada, até dormindo ela tava apavorada.

- Pô, desculpa aí ter te ligado, mas aconteceu essa parada e eu não soube o que fazer, tá ligada?! – falei. – Nem sou próximo assim dela e acho que é algo muito pessoal pra ela se abrir comigo.

- Te entendo e agradeço muito por cuidar dela nesse tempo, sério, não faz ideia do quão isso é importante pra mim, se ela tivesse sozinha não sei nem o que podia ser capaz dele fazer, gosto nem de pensar! – ela suspirou e sentou na cama.- Ela tá dormindo muito tempo?

Quando ela falou isso a Júlia acordou num pulo e gritando, como eu tava bem perto dela puxei pro meu colo e olhei pra Luísa que me olhou com cara de choro.

- Pô, tá tudo bem, tô aqui ainda. – falei e ela começou a chorar. – Luísa já chegou, tá aqui junto da gente, relaxa.

Ela levantou da cama e foi pra porta que tinha do lado direito e ouvi tipo um som de vômito. Levantei pra ir atrás e a Luísa me olhou negando e dizendo que ia.

- Pode deixar, vou ir lá, deve ser pelo nervosismo, desespero.– ela falou. – Você pode ficar aqui só mais um tempo? Mas só se puder mesmo, vou socorrer ela e volto aqui pra gente conversar.

Concordei e fui pra sala, tava estranho pra caralho, até eu tô afoito com essa parada, nem sei explicar direto. E o pior de tudo é todos que pararam e não fizeram porra nenhuma, só ficaram lá vendo a garota sendo humilhada, quase agredida pelo moleque que ela namorou, que não sabe nem como tratar uma mulher, aquele fodido, otario do caralho que só cresce pra cima de mulher.

Ouvi o chuveiro ligar e depois a Luísa chegando na sala de volta. Peguei meu celular e vi já ser perto de meia noite, mais uma vez tinha passado uma cota de tempo.

- Tá aqui ainda? Achei que tinha ido embora.

- Fiquei, tu falou que ainda queria conversar.

- Só pra agradecer mesmo, não sabe o quanto fiquei desesperada quando me ligou, de saber que eu não tava do lado dela no momento que aconteceu, mas fiquei mais aliviada quando soube que você tava com ela... – ela sentou na bancada que tinha no balcão da cozinha. – Não é o momento né, mas estavam juntos? Uau...! Mas é isso, mesmo você não tendo nada a ver com essa loucura, estar conhecendo agora a verdadeira Júlia e não ter tacado o foda-se por essa situação me deixa muito, muito, feliz. Obrigada, tá?

- Nós sempre Luisinha, sua amiga não merece passar por esse bagulho não, aquele cara é doente. E o que me deixa revoltado é ninguém ter feito nada.

- Nunca gostei dele, nunca! Sempre soube que algum momento ele prejudicaria ela, não porque sabia algo dele, mas aquele negócio de sentir, sabe? Minha energia não bateu de jeito nenhum, desde a primeira vez.

- Mas agora é ela se recuperar né, psicológico dela tá afetado pra caralho.

- É. Desculpa te alugar aqui mais esse tempo, mas pode deixar que daqui eu tomo conta agora. – ela levantou e veio me dar um abraço. – Alguém mais sabe?

- Só tu mesmo, até cogitei ligar pro Caio, mas o cara tá em outro estado e ele é maluco na irmã dele. – falei.- E ela tá vulnerável pra caralho.

- Caio já não gosta do Gabriel, quando descobrir que ele anda perseguindo a Júlia ele vai ficar maluco.

- Tô indo nessa, se cuida aí e dá tua amiga também. Qualquer coisa só avisar.

- Tá bom, vou até ver ela lá no banho que deixei pra ver se ela acalmava, fora que se ela descobre que deitou na cama suja ela vai me xoxar falando que deixei ela dormir suja e suada na cama limpa.

Fui pro estacionamento onde deixei a moto e o porteiro liberou minha saída.

LUÍSA.

- E aí, minha preta, tá melhorzinha? – entrei no banho e ela tava sentada na privada com a toalha em volta dela. – Calma, tô aqui!

- Lu, nunca me senti igual agora, nem quando descobri aquela merda de traição, eu agi com frieza na hora, mas agora eu não consigo...!  - algumas lágrimas desceram e eu puxei ela pra um abraço. – Sério, eu não sei o que ele poderia fazer comigo se o Lucas não tivesse comigo. Ele tentou vir pra cima de mim!

- Pois é, conversei com o Lucas agora à pouco e ele falou, você não sabe o quanto eu tô com ódio dele, mas antes de tudo isso minha prioridade é você! – ajudei ela a pentear os cabelos e depois sentei na poltrona que tinha em frente a cama dela.- Já começou com a psicóloga?

- Ainda não, e eu prometi que ia começar né? – concordei. – Então amanhã eu entro em contato, prometo dessa vez começar a frequentar.

- Tá bom, mas eu só tô pedindo isso pra ajudar você a entender que vivia em um relacionamentos abusivo, que ele não aceitar o fim põe em risco você, sua vida, me entende? E o principal que é você entender você mesma, se conhecer antes de qualquer outra pessoa.

- Meu irmão tá sabendo? Meus pais?

- Não, o Lucas disse que só ligou pra mim e eu não avisei ninguém sobre. – minha bichinha tava toda pra baixo, detesto ver ela desse jeito, ela é toda pra cima que chega a ser horrível ver ela assim. – Vou deixar você descansar, ok? Vou só pegar um calmante pra ti e trocar minha roupa que venho pra cá.

Ia fazer companhia sim, sei o quanto ela detesta grude, mas é o que posso oferecer e, por mais que ela não fala nade, sei que aí menos ela precisa dessa força, porque não é fácil superar um relacionamento, ainda mais quando passar por situações que não enxerga ser abusivas.

- Promete que vai ficar aqui? – ela perguntou e eu balancei a cabeça concordando. – Eu tô com medo.

- Eu tô aqui, tá? Lembra de quando fizemos aquele negócio quando crianças prometendo estar do lado uma da outra mesmo nos momentos ruins? Eu tô aqui contigo, vou permanecer, nossa irmandade vai muito além.

NASCER DO SOLOnde histórias criam vida. Descubra agora