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JÚLIA.

É inevitável não soltar um sorriso em meio ao nosso beijo. Sei lá quantos eu dei, mas é uma felicidade dentro de mim por nós dois estarmos assim; não digo nessa parte carnal, mas de estarmos juntos espiritualmente. A gente se pertenceu meses atrás, e acredito fielmente que ainda nos pertencemos.

- Tomar um banho... - esfrega a barba no meu pescoço. - A gente tá sujo de tinta e suados.

- Mais um pouquinho, espera. - resmungo, querendo só ficar agarradinha aqui.

Realmente ficamos alguns minutos ali. Em silêncio. Abraçados. E é uma paz absurda estar assim, é aquele silêncio que te deixa confortável, que te esquenta e acalma.

- A água tá quente? - pergunta e eu nego.

- Por mim eu ficaria aqui o restante do dia sentindo ela. - respondo, sentindo ele passar o sabonete no meu corpo. - O jeito que você cuida de nós duas sempre me deixa surpresa.

- Por que?

- Porque você não tem obrigação alguma de cuidar de mim depois do fim. Mas da forma que antes de perguntar sobre ela, você pergunta se estou bem. Você sempre leva a minha comida preferida do meu restaurante preferido e, para mim, isso cuidado. Também a forma de atenção que você tem me dado, falando coisas positivas sobre essa fase. Tudo isso é uma forma de cuidado! E agora até banho você está me dando. Do jeito que sempre fez.

- Eu continuo a cuidar de você porque ainda te amo.

Olho pra ele após escutar isso. A sensação de frio na barriga me atinge de novo.

- Ainda me ama?

- Sim. Não é fácil de deixar esse sentimento de lado, tá ligada, né? Ainda mais quando tu é a mãe do meu maior presente e a gente sempre tá junto. - passa a mão com espuma no meus ombros, descendo pelo meu corpo. - Nós fomos muito além de um só casal, Júlia. Não sei se tu acha isso, mas eu acredito que sim. Porque desde o princípio a gente se quis, a gente se conectou de um jeito absurdo vivendo uma coisa cheia de desejos. E quando a gente começou a viver a nossa vida, que as linhas retas se cruzaram, foi como se tivesse dado um nó entre elas, impossibilitando de querer outra coisa que não seja construir o fim que merecemos.

- No início eu não imaginava que seria assim, Lucas. Ouvi dizer tantas vezes que o que menos esperamos é o que mais vai surpreender. Você com esse seu jeito entrou na minha vida pra fazer diferença, chegou e modificou tudo, me fazendo me viciar em você, em nós.

Engulo o choro enquanto falo. Mas não chorar é difícil quando se trata de nós, do que vivemos. E o fato dele não responder me desespera, trazendo a tona todo o choro que segurei.

- Não chora... - me abraça. Eu me vejo como uma criança que precisa de colo. O calor do seu corpo me acolhe durante meu choro incessante. - Eu te amo. Eu te amo, você sabe.

E aí eu me apaixonei no que você me causa, no jeito que me trata, em tudo. É difícil expressar o quão incrível você foi pra mim. Eu não vou desistir de você! Nunca. Porque desde o começo a nossa alma vibrou. É você que consegue decifrar eu por completa. Não existe uma outra vida em que não sejamos nós.

- Se a gente se ama por que não estamos juntos? Me diz.

- Por que a gente precisa desse tempo pra entender o que aconteceu, Júlia. É ele que mostra que mesmo separados nós nos pertencemos. - sua mão desce pra minha barriga. - A gente precisa amadurecer mais pra encarar tudo que vem pela frente. Não é porque a gente está assim agora que vai ser pra sempre. Não, nunca. A nossa história ainda tem muita coisa pra ser vivida, principalmente com a nossa filha. A gente vai voltar. O fim não é esse.

- Eu não consigo, Lucas. Não sei o quanto mais eu posso suportar essa saudade. - nego com a cabeça, descendo minha mão pra barriga, juntando com a dele. - Dói. Dói muito te amar e não te ter.

- Você me tem. Assim como tem a Ísis. - sussurra no meu ouvido. Uma das minhas mãos vai pra debaixo da dele, ficando em contanto direto. E meu choro aumenta quando sinto uma mexida forte.

- A Ísis mexeu. Bem aqui onde minha mão está. - coloco a mão dele onde estava a minha. - A nossa filha.

E de novo eu sinto. E ele também, porque o sorriso dele é tão sincero. E eu consigo ver a emoção dele por conta dos olhos marejados.

- Ela sentiu, Júlia. Ela sente tudo de nós dois. - acaricia minha barriga. Está tendo uma sequência de chutes. - Mas ela sentiu o seu toque. Ela sabe que você tem ela e eu. Ela te mostrou isso.

- Eu nunca senti forte assim. - encosto de novo, sentindo mais uma vez. - Foi a primeira vez.

- Ela soube que era você. - encosta nossas testas. - Apesar de todo esse medo e insegurança que você carrega, tu tem se esforçado. Hoje você encostou, já teve uma conversa com ela, toda aquela briga interna dentro de você tem cessado. Você tá resignificando essa gravidez.

Minha mão faz um carinho na barriga redonda. Ela não se mexe novamente, mas foi tão especial esse momento, assim como eu senti pela primeira vez quando pedi perdão à ela. Acho que foi ainda mais emocionante por ter o Lucas juntos, da gente estar se abrindo, apontando nossas dores.

Eu termino o banho e vou pra cama esperando ele terminar de se secar e vestir outra roupa. Não sei se é por ele ver que estou totalmente abalada, mas ele penteia meu cabelo, com calma. Pego meu celular que antes tinha caído e assim que desbloqueio mostra as fotos da galeria.

E tem uma nova. Agora a minha preferida.

Era pra eu estar gravado um vídeo de nós, mas começamos aquela guerrinha boba de pintar um ao outro e acabou que foram tiradas fotos aleatórias. Mas a que estou vendo é uma de nós dois rindo, com a tinta pelo nosso corpo e ele né abraçando enquanto eu tentava fugir.

A última coisa que quero é viver separada dele, do nosso amor. Todos nossos momentos são únicos. E dividir eles, agora com nossa filha, vai ser ainda mais especial.

Demore o tempo que for, mas por nós eu estou destinada a esperar.

NASCER DO SOLOnde histórias criam vida. Descubra agora