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LUCAS.

doze dias depois...

Eu tô maluco esperando a Júlia chegar aqui no hospital pra eu finalmente sair daqui. Aguento mais nem meio segundo de tempo sentado ou deitado nessa maca, ou nas cadeiras de rodas. Porra, sensação horrível, papo reto. Só queria tá na ativa com os meus fechamento, ou sossegado mesmo dentro de casa com a Júlia e Ísis, Apolo também. 

Olho pro celular mais uma vez querendo ligar de novo pra perguntar onde ela tá pra estar demorando tanto pra vir me buscar. Mas na primeira, na segunda, nem na terceira ela me atendeu. Eu tentar a quarta vai adiantar nada. Eu peço pra ela dirigir devagar e com calma? Peço o tempo todo, mas agora ela seguiu até demais meu conselho. Sem necessidade alguma...

- Vamos embora? - a porta do quarto é aberta e a voz do meu pai se faz presente. 

- Cadê a Júlia? Achei que era ela que vinha me buscar, pô. 

- Meu Deus, esse moleque só reclama. Lá de fora estou ouvindo essa chatice dele! - minha mãe diz, entrando no quarto também. - Júlia teve um mal estar e pediu para que nós te pegasse.

Ih, quando a coroa falou sobre a Júlia minha cara até mudou. A maluca não falou nada pra mim, liguei várias vezes e ela não me atendeu. E se tiver acontecido algum parada? Caralho, deu até uma fraqueza agora de pensar que pode ser algo sério, que talvez logo minha filha nasça, sei lá, minha cabeça tá a mil agora.

- O que aconteceu? Onde a Júlia está? - pergunto, afobado pela resposta.  

- Tá na casa da Luísa, tá melhor agora. Por conta das reformas e do cheiro forte da tinta ela teve essa pequena crise. 

- Mas se tiver acontecido alguma coisa, hein? Liguei três vezes pra ela e não me atendeu nem viu minhas mensagens. 

- Ela tá bem, Lucas. - meu pai afirma, pegando um tanto de coisa minha que ficou aqui no quarto. - A gente te leva pra ver ela depois.

- Não, eu quero saber dela agora. - respondo, pegando meu celular pra ligar mais uma vez pra ela. E vou ligar até ela atender. 

Assim que chama aquela fisioterapeuta entra aqui. Já não aguento mais ver essa mulher na minha frente. Duas vezes por dia e por minutos com ela, já tô maluco. 

- Tá recebendo alta, mas os cuidados ainda devem continuar. - diz, me entregando um cartão com várias informações, leio depois. - Você já recuperou um pouco da sua força, se continuar em duas semanas já avançamos mais. 

- Hm, valeu. - agradeço e vejo que a Júlia me respondeu com uma figurinha besta, não respondendo minhas perguntas diretamente. - Mãe, vamos. Quero sair daqui e ver a Júlia.

Eu ter falado isso foi a mesma coisa de nada, ela conversando pra caralho com a fisioterapeuta, falando que vai acompanhar todas as sessões lá em casa quando eu for fazer, que vai ficar me vigiando e mais uma porrada de coisa. Ajeitei no banco do carro como deu e fui até em casa, eu estou de muletas, já recuperei grande parte das forças e movimentos nesses vários dias no hospital, mas ainda há dificuldades na minha locomoção. 

Quando entro em casa sinto um cheiro conhecido meu. Um dos meus favoritos. O Apolo vem até mim, pulando, rodando e cheirando. Minha mãe vai me ajudando até chegar no sofá pra não acontecer de eu me desequilibrar.

- Coé, cara. Maior tempão sem te ver, tava com saudade das suas chatice já. - faço carinho nele. - Cadê tua mãe, hein? Sei que ela tá aqui por causa do perfume.

Foi eu falar dela que a bonita aparece com um biquíni vermelho e um short moletom meu. Barriga tá grandona já. 

- Ai, que bom que você voltou pra casa! - me abraça, soltando um sorriso bem lindo. - Graças a Deus tudo deu certo. 

- Graças a Deus mesmo, minha filha. Só agradecer a Ele agora! - minha mãe responde. - Mas e você, melhorou? Lucas estava maluco querendo saber sobre.

- Sim, dei uma animada agora. Só estou sentindo muito calor mesmo, tanto é que estou de biquíni. - responde, pega minha mão e leva até a barriga dela, de forma involuntária. - Estava organizando as roupinhas dela, lavando e passando.

- Falei que era pra me avisar que iria vim te ajudar.

- Não, ia ser bom pra mim fazer sozinha. - nega. Se vira pra mim, não aguentando segurar o sorriso, e eu dou minha deixa de roubar um selinho dela. - E você, como está agora? De volta pra casa, aos poucos na rotina. 

- Benzão, de verdade. Tava sentindo falta demais daqui, de vocês. - respondo. - Agora é curtit o que tem pela frente. 

- Eu tô indo nessa, viu? Tenho que arrumar mais algumas coisas, mais tarde passo aqui para deixar as coisinhas da Ísis. - minha mãe despede de nós dois. - Juízo vocês, e cuidado Lucas!

- Vou cuidar dele, Marisa. Pode confiar! - Júlia responde, devolvendo o abraço.

- Em ti confio mesmo, mas nesse filho meu não. Ele vai aos poucos melando até conseguir as coisas do jeito dele. 

- Valeu, mãe, tua consideração por mim tá dez...

A Júlia leva eles dois até a porta. Na volta eu presto atenção nela, muito linda, sem condição. E não canso de dizer que grávida ela fica mais absurda.

- Será que uma mamada agora mata? - falo em tom brincalhão, mas por dentro morrendo de vontade. 

- Vou te ignorar, Lucas. - para na minha frente. - Tá nem se aguentando direito e quer procurar o que fazer... Pelo amor.

- Sim, não estou me aguentando de saudades de tu. É errado?

- Eu estou feliz de te ter aqui de volta. Ficar aqui sem você não é a mesma coisa. - muda de assunto, se sentando ao meu lado. - Na verdade nós estamos.

A minha filha chuta minha mão que foi direto pra barriga dela quando se sentou. É sempre uma sensação única sentir, dá nem pra acreditar.

- Oi, papai! Voltei, agora pra ficar de vez. Tava com saudade de sentir teus chutes fortes, sabia? - converso com a barriga. - Tua mãe voltou a se sentir melhor? Tu tem que falar a ela pra me atender. 

- Juro que estou bem, foi só uma mal estar por causa do cheiro forte da tinta do quartinho dela. 

- Por falar nisso como está as coisas?

- A daqui já acabou, só precisamos colocar algumas roupinhas no armário. Já lá de casa falta colocar os móveis.

Ela me ajuda a levantar e nós vamos caminhando pro lugar que mais recebeu atenção aqui em casa. Tudo do jeito que projetamos. Tem algumas roupinhas das que compramos juntos dobradas, prontas para serem guardadas.

- Eu quero conversar contigo. Já adiamos tanto ela. - falo, nervoso. Não tocamos nesse assuntos nesses trinta e poucos dias desde o acontecimento. Mas já não aguentava segurar.

- Sobre aquela..?

Aceno que sim com a cabeça. Agora ela quem ficou nervosa. Respiro fundo, pego na sua mão e peço para ela nos levar até meu quarto, pra gente ficar na varanda. Tinha planejado um bocado de frases pra dizer, mas eu simplesmente esqueci tudo. Então vou ser direto o máximo possível sobre nós. 

Já esperamos muito.

- Problemão, aquele dia eu iria pedir para reatarmos. Mas hoje durante o caminho tomei outra decisão...

NASCER DO SOLOnde histórias criam vida. Descubra agora