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JÚLIA.

19 de setembro, 2023. - 16 semanas.

um dia antes da consulta...

Eu acordei com uma cólica muito forte. Chega a ser insuportável, eu estou no ponto de chorar, rolar na cama de dor. Dói em um nível de parecer que está enfiando objetos pontiagudos em mim.

E talvez a dor de ter perfurações sejam menos doloridas que essa maldita cólica.

- Júlia, pelo amor de Deus! - minha amiga prende meu cabelo em um coque. Eu estou suando, mas é de frio. - Eu vou ligar pro Lucas.

- Não, não vai ligar pra ele.

- Ele tem que saber, pode ser alguma coisa.

- Não é, é só uma cólica muito forte. Eu já tomei o remédio que a Rebeca falou e também amanhã tenho consulta.

- Eu vou avisar ele sim. - pega o telefone, já ligando. - Oi, Lucas... É tô bem sim, quem não está é a Júlia... Isso, não sei, ela diz estar sentindo uma cólica muito forte. Tá... Ok, vou esperar.

- Luísa, eu falei que não precisava.

- Precisa sim, Júlia! Você não consegue nem levantar da cama. - briga comigo. Eu começo a chorar de dor. - Chega a estar chorando, e vem dizer que não precisa?

- Eu não vou aguentar. Até minhas costas doem, tudo dói! - murmuro, já quase sem forças.

Fecho meus olhos rezando pra que tudo isso passe. São questão de minutos pro Lucas estar aqui dentro do meu quarto conversando com a Luísa, já que nem responder eu consigo.

- Júlia, olha pra mim. - senta na beirada da cama, pegando na minha mão. - Ei, olha pra mim, huh? Eu tô aqui.

- Tá doendo muito. - resmungo.

- Calma, pô. Tomou o remédio que a doutora indicou? - concordo. - E o que mais ela falou?

- Que se não melhorar é para irmos pro hospital para ela examinar. - respondo, gemendo. Eu não vou aguentar muito.- Lucas, eu não vou aguentar.

-Vai, claro que tu consegue. - ele tá desesperado, eu consigo sentir pelo tom de voz dele. Porém ele quer me passar tranquilidade, para que eu não me desespere mais. - E se eu tiver perdendo...?

- Não, não é isso. - gagueja um pouco pra falar. E aí vai passando todas as vezes que não desejei essa criança. - É só uma cólica, só isso. Eu posso fazer uma massagem? Eu não sei se alivia, mas a gente pode tentar.

- Uhum... - ele sobe a minha blusa e apalpa a pele da minha barriga, bem embaixo. - Por que você cuida tão bem de mim? Mesmo eu não merecendo...

- É pelo meu filho isso.

E isso parece fazer doer ainda mais. A dor parece ser transferida para o meu coração, pela forma que essa frase me atingiu por completo.

E eu não respondi mais. A massagem continuava a ser feita, até que a dor começou a aliviar, não sei se pela massagem, se é pelo remédio. Mas veio como um alívio instantâneo.

NASCER DO SOLOnde histórias criam vida. Descubra agora