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JÚLIA.

- SURPRESAAAA! - eu e as garotas gritamos quando a Lu abre a porta.

A minha melhor amiga já está quase que ganhando nosso menininho, Miguel está previsto para daqui algumas semanas. Então decidimos nos reunir para fazer meio que uma despedida da barriga, eu não fazia ideia que isso existia, mas a Leti foi explicando e por fim é um evento que vocês recordam momentos e que, juntas, geram boas vibrações.

- Mentira... - ela põe a mão na boca, surpresa. - Não acredito que vocês estão aqui.

Ela abraça uma por uma. A Débora, a Leti, a minha mãe, a tia Soraia, a dona Marisa e, por fim, eu.

- Estamos esperando pelo Miguel. - abraço ela bem forte, como da, já que temos duas barrigas grandes aqui. - Então por que não de fazer um momento pra vocês?

- Tinha que ser ideia sua, né... - solta um sorriso, já indo pra mesa que preparamos com doces, frios, torradas. - Tia Marisa, isso aqui é tempero seu, não é?

Ela come um patê de frango que a minha ex sogra fez. Na verdade tem pouca coisa aqui em que não foi ela que fez. Juntou a mãe da Lu, a minha e ela é foram todas pra cozinha, mas dona Marisa em que realmente preparou tudo.

- Está gostoso, menina? - pergunta, vindo para o meu lado. - Se estiver ruim não foi eu.

- Isso aqui está DI-VI-NO! - come mais um bocado. - Acho que você deveria abrir um restaurante, eu ia ser a cliente número um.

- Deixa eu provar um pouco disso. - a Débora pega um pouco, colocando em uma torrada. - Meu Deus! Acho que nunca comi algo tão bom assim. 

- Eu e o Lucas pegamos no pé dela pra abrir um, mas quem disse que escuta?

- Igual vocês que não escutam o que eu falo sobre ficarem juntos. Ai, ai...

A gente vai pro gramado, preparamos um lugar ao ar livre pra ser ainda melhor aproveitar o restante da tarde que vai se seguir. Sento ao lado da Lu, ouvindo elas conversarem sobre alguma coisa, respondo o Lucas com uma foto e falando que mais tarde passava lá, e ele envia uma dele com os meninos em algum barzinho. Mas antes ele me elogia.

- Falar da minha filha deveria ser fácil. Da minha única. Ver ela grávida é tão lindo, viver esse amor incondicional, ainda mais com a pessoa que ela escolheu quando tinha poucos anos de idade. - tia Soraia diz. Já estamos aqui há um bom tempo, mas agora conversando sobre a Lu. - Ela que nunca desistiu da vida mesmo após perder o pai que ela tanto amava. Logo depois sustentou as coisas sozinhas, me ajudando no que podia e também no que não podia, quando fiquei doente era ela quem estava comigo, mesmo tendo todas as obrigações dela. E isso mostra quem ela é, a mãe que com certeza vai ser, porque ela é cuidadosa com todos ao redor, sempre foi assim. E agora com meu netinho ela vai ser a melhor mãe, a mãe que muitas vezes falhei.

- Você nunca falhou, mãe... - limpa as lágrimas. Apoiando a mão na barriga.

- É até difícil falar dela, o que deveria ser ao contrário, já que vivemos juntas. A Luísa é minha melhor amiga, sempre foi ela por mim e eu por ela, desde o primeiro dia. É tão incrível ver na mulher que ela se formou, agora, mãe. Muito antes dela ser minha amiga, cunhada, ela é minha irmã. A que eu não tive. Porque é muito diferente a irmandade de homem e mulher, e não é falando que eu e o Caio não somos parceiros, mas é que é diferente. Enfim, Lu, só quero dizer que amo muito você, falando agora está passando um filme na minha cabeça de todos nossos momentos; do dia que nos conhecemos até ao dia de hoje. Das vezes que você me consolou, das vezes que tive brigar com você para mostrar que você não é qualquer uma, que é uma mulher forte. Das vezes que só nós duas sabemos, de todas as mágoas e felicidades. Eu só tenho a desejar coisas maravilhosas na sua vida, nessa reta final da gravidez, principalmente. Você me escolheu como dinda do Miguel, com certeza vai ser um desafio, mas prometo ser tudo que ele e você precisar, mesmo caso algum dia eu esteja longe. Te amo além. Você e ele!

Eu estou tão emocionada que chego a soluçar por conta do choro que me invadiu. Eu e a Lu somos muito amigas, como falei, irmãs. E a gente estar vivendo as mesmas fases juntas se torna tudo ainda mais forte, especial. Nossa amizade sempre foi linda, nunca teve essas coisas de inveja. A gente tem uma ligação anormal, ela é a minha soulmate.

Quando todas termina de falar e entregar os presentes que preparamos tanto para meu sobrinho quanto pra minha cunhada/amiga, a gente faz um momento pela vida dos dois. Agradecendo pela gravidez e pedindo, no tempo certo, a vinda dele, que nada atrapalhe a felicidade da família.

- Te amo demais, obrigada por esse momento. - ela diz, me agradecendo. - Tudo que você precisar pode contar comigo, você já sabe.

- É... eu sei. - respondo, procurando minha bolsa pra ir embora. - Eu vou indo, já. Tá bom?

- Só indo com uma boa justificativa.

- Se eu te contar que eu e o Lucas vamos conversar sobre a gente hoje você me libera? - sussurro, como se fosse um supersegredo.

- O QUE?! - grita, como se tivesse ouvido o maior absurdo. - Mentira, Júlia.

- Hm, tô liberada?

- Obviamente! Não tô nem louca de impedir esse momento do século. - dá alguns tapinhas no meu braço. - Vai logo, o que você está esperando? É a tia Marisa? Pode deixar eu levo ela.

- Tô indo então. - dou um beijo nela. Entro no carro, já ansiosa. - Pronta pra ir ver o papai, neném? Porque eu estou...

Depois daquele dia que ela mexeu pro Lucas, qualquer oportunidade que ela ouve a voz dele ela de mexe. Quando eu estou ouvindo algum áudio, ou quando ele conversa diretamente é como se ela fizesse um rebuliço dentro de mim.

Estaciono em uma das vagas, não vendo a moto dele, apenas o carro. Sinal que ele ainda não chegou. Minhas mãos estão suadas pela ansiedade, meu coração acelerado então... Nem se fala. Pego o elevador indo direito pra casa dele. Coloco a senha e adentro, já ouvindo os passos do Apolo vindo me receber.

- Oi, filho. Papai ainda não apareceu por aqui? - faço carinho. Coloco a bolsa no aparador e pego meu celular, já vendo ser quase nove da noite.

Sento no sofá, com o Apolo vindo atrás de mim, já se apoiando na minha barriga, é um apego que só. Fico rolando meu feed do instagram, vendo as fotos e vídeos que eles postaram horas atrás. Depois vou pro whatsapp ver se tem alguma mensagem dele, e é uma de quinze minutos atrás dele avisando que estava vindo. Levanto do sofá e vou pro quarto da Ísis que está em reforma, aquele dia a gente tinha pintado apenas uma parte, agora já está quase que pronto as paredes, o Lucas que está fazendo no tempo livre dele, e eu só fico como apoio moral mesmo.

Eu amo ver essa dedicação dele por ela.

A gente viveu tantos momentos bons. E impedir de viver esse não é certo. O principal de nossas vidas. O único que merece ter um ao lado do outro.

Volto pra sala, tentando me entreter com alguma coisa enquanto espero ele. Mas se passa cinco, dez, vinte, trinta minutos em sua espera. E já faz hora que ele disse que estava vindo pra cá. Envio uma mensagem que chega, mas depois de minutos nada de resposta.

Levanto, já preocupada em esperar esse tempo demais e nada dele chegar. Sabe aquela sensação de angústia, de medo? Ela começa a tomar conta de mim. De não saber cadê ele. Ligo, mas ele não atende. Tento mais uma vez depois de cinco minutos, mas também vai para caixa postal.

Sento no sofá, ansiosa. Qualquer barulho que faz no corredor eu olho pra entrada, pensando que é ele.

Deito, tentando pensar que seja só um atraso qualquer. Mas esse aperto no peito não deixa. Ele me consome e me faz pensar no pior.

- Lucas, pelo amor de Deus... Cadê você? - sussurro.

Pego meu celular, marcando dez horas em ponto. Quando vou tentar mais uma vez ligar pra ele o seu nome aparece na tela.

- Lucas, cadê você?

- Oi, falo com Júlia?

NASCER DO SOLOnde histórias criam vida. Descubra agora