JÚLIA.
Foram horas e horas na espera dele sair da sala cirúrgica. O tempo todo agoniada. Todos que estão aqui no hospital junto de mim pedindo para que eu vá pra casa, mas não há nada que me faça sair daqui enquanto não vê-lo, enquanto alguém aparecer aqui e dizer que ele não corre risco.
Eu não me importo de ter que ficar aqui sentada por dias se necessário só para saber dele. A minha única preocupação é a vida dele. Única coisa que me importa de verdade.
- Vai pra casa, Júlia. Eu te ligo quando receber alguma notícia dele.
- Não, tia. Eu não vou sair daqui! - nego, me levantando por estar sentindo um desconforto. - Eu preciso saber como ele está.
Meu irmão também insistiu para que eu fosse. Mas bati o pé que daqui não me movo.
- Família de Lucas Ferraz.
Meu coração dispara quando ouço o nome dele. Viro meu rosto pra onde vem a voz, vendo um médico acompanhado de uma enfermeira. Que não seja nada, por favor... Só diz que ele está bem. Por favor! Eu imploro.
- Somos nós. - meu ex sogro toma frente, logo eu e a Marisa estamos ao seu lado. - Como está as coisas?
- Complicadas. Foi um acidente grave... Segundo informações é que ele teve fraturas na perna direita, duas costelas quebradas além da coluna, o que deixa o quadro totalmente delicado, já que ele pode perder os movimentos. - quando ele diz isso a mãe dele aperta minha mão com bastante força. - Quando deu entrada fizemos alguns exames. Ele estava desacordado, provavelmente pelas fortes dores do impacto, mas não foi constatado traumatismo craniano, apenas algumas lesões que podem ser tratadas.
- E a cirurgia ainda demora? - pergunto, preocupada.
- Já foi realizada. Agora ele se encontra na UTI.
- Eu quero ver ele! Eu preciso.
- Não pode, senhorita. Ainda não pode receber visitas, apenas após algumas horas.
- Qual é o horário para visitas? - Marisa pergunta.
- A partir das oito da manhã. - responde. - Eu preciso voltar. Qualquer novidade vocês serão informados.
Respiro frustrada por saber que não posso ver o Lucas. Ainda tem cinco horas pela frente para ir ao seu encontro. Sento de volta na cadeira, já sem posição pra poder ficar, massageando minha barriga.
Receber a notícia que possivelmente o Lucas não consiga mais se movimentar não foi das melhores. Mas é a melhor opção entre receber que ele morreu. Com certeza eu não suportaria a dor de saber que ele não estaria aqui, comigo.
- O Lucas é forte, ele vai sair dessa. - falo. Tanto pra mim quanto pra tia que chora, rezando.
- Meu filho não merece passar por tantas coisas ruins assim, Júlia. Ele nunca fez maldade a ninguém. Por que ele é castigado assim? Por que? Eu não entendo!
- A gente não entende, Marisa. As coisas só acontecem. E é sempre quando tudo começa a estar em ordem, depois de todo o alvoroço.
Nós ficamos em silêncio. Vendo as horas passarem. Pessoas entrando procurando ajuda. E nós sem respostas dele. Felipe passou por aqui, meu irmão, meus pais, todos dando apoio ao mesmo tempo que incrédulos que tenha acontecido. Ninguém acredita, a ficha não cai de jeito nem um. Mensagens e ligações caem no meu celular, mas eu não tenho condições algumas para ler ou ouvir das pessoas. Minha mente só está focada em mentalizar coisas boas. Que nada possa piorar.
Quando deu oito horas em ponto a gente subiu para ir até ele. Respiro fundo buscando força. A ansiedade tomando conta só por ver ele ali, mesmo sabendo que não vou ouvir sua voz por estar sedado. Mas de ter a esperança de que tudo tudo ficar bem.
Não consigo segurar o choro quando vejo ele naquele situação. Tão incapacitado. A sensação de desmaio toma conta de mim, traquejo inteira, que só consigo chegar até lá com apoio do Augusto, que me segura. O pai dele também está muito preocupado, mesmo que não tenha chorado, mas é ele quem está nos dando força, principalmente para dona Marisa. Ele quem está resolvendo todas as coisas na delegacia. Tudo. Ele está sendo forte por todas nós.
A tia é a primeira a ir até ele. O corpo com alguns resquícios de sangue, vários fios de aparelhos, com arranhões e roxos além do inchaço. Me dói ver ele assim. Eu volto pro lado de fora, tentando controlar tudo que estou sentindo; desde a falta de ar até o medo que ainda me consome.
Minutos se passam quando eles saem de lá, me chamando. Me dando a oportunidade de ficar a sós com ele. Adentro, sentindo o arrepio tomar conta do meu corpo. Sento na única cadeira, entrelaçando nossas mãos, beijando-a.
- Preto... - fungo, querendo ver a mesma reação de quando o chamava assim. Era sempre com um sorriso de canto. - Você prometeu que íamos nos resolver. Que você ia voltar pra mim. Eu fiquei te esperando por dias, horas, segundos pra voltarmos o que éramos. O que somos destinados. E, de repente, recebo uma ligação de algum estranho falando que você sofreu um acidente. E logo já me desesperei, pensando apenas em coisas ruins, porque a nossa mente é assim, nunca é pensamentos positivos. Mas eu me pergunto toda hora: por que? Por qual motivo não conseguimos ser felizes juntos? Sempre acontece alguma coisa que nos impede...
- ... Não somos merecedores? É isso? A gente só não entende? - limpo minhas lágrimas, procurando forças pra continuar a falar. - Eu espero que ainda tenhamos tempo pra resolver essas questões. Não sei se você está ouvindo tudo que estou falando, talvez seja em vão, mas eu sinto que você sabe... sinto que você está aqui. Eu só te quero bem. Eu só preciso de você aqui, só. A nossa filha precisa de você. A Ísis precisa conhecer o Lucas, o pai dela, a pessoa mais incrível e especial que ela vai ter o poder de chamar de pai. Então por favor, por você, por nós, pela nossa filha, fique bem. A gente vai estar aqui todos os dias esperando por ti. De chegar e você nos receber sorrindo. A gente te ama. É um impossível de ser medido. Demore o tempo que for, mas só não nos deixe. A gente precisa de você aqui!
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NASCER DO SOL
Fanfiction"Nosso problema sempre foi a intensidade. (...) Eu sei muito bem o caminho que nós dois fizemos, espero que sempre sejamos sinceros e nada enfraqueça nosso elo." 🤍🌙