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JÚLIA

Minha sessão tinha acabado e eu me encontro desolada. Uma sensação boa, porém ao mesmo tempo completamente vazia, não sei explicar. Parece que eu precisava ouvir aquelas palavras para voltar, como um tique. Isso tem que ser algo bom, não é? Mas parecia que minha insegurança aumentou dez vezes mais após ouvir cada palavra. 

Nós amamos o que é conveniente

Ouvir isso foi como um tapa na cara. E é tão real. Nós só damos atenção para o que é cômodo para nós mesmos, por já estarmos acostumados com aquele sentimento e nunca se preparar para o novo, porque achamos que não é preciso. Quantas oportunidades nós temos para experimentar algo novo e não damos a chance pelo medo, pela insegurança com aqueles pensamentos de: e se...? É por isso que quando ocorre algo que não planejamos é como se o mundo fosse acabar, porque nos acostumamos. Acostumamos a algo monótono, frio. 

- E aí, como foi? Gostou? - entrei no carro e ouvi a Luísa perguntar, ela me esperou todo o tempo.- Vi que chorou, mas com certeza é de libertação, porque sei qual é a sensação de ouvir coisas que não achamos que vamos ouvir um dia, é um tapa na cara. 

- Gostei, foi bom, sabe? Achei que seria bem diferente, mas me senti mega confortável e sim, foi um tapa na cara. - contei e vi que ela queria falar mais, mas por me ver que não seria a melhor opção para conversar ela se calou.- Pode falar Lu, não sou a melhor para conversar por ora, mas sou todos os ouvidos. Quero saber dessa história sua com seus sogros. 

E queria mesmo, tá? Fiquei sabendo de pouquíssimas coisas por mensagens. Antes de sair do estacionamento enviei mensagem pro meu irmão avisando que após a faculdade eu ia com ele pro estúdio de tatuagem.

- Mana, eles me odiaram! Foi tão na cara que o jantar inteiro eu senti que a mãe dele conseguia ler o que eu estava pensando, juro. - dei um sorriso por imaginar ela nessa situação.- Não ri não que pode ser você algum dia, ok? Mas sério, o Thiago falou que é só questão de tempo, mas duvido muito. A mulher soltou cada comentário que me segurei muito pra não revidar, porque tu sabe como sou, fora que não queria piorar mais a situação. 

- E você não sabia que ia jantar com eles? 

- Não, fui pega de surpresa real. Fiquei possessa com ele, mas não falei nada né, porque sei o peso dele com os pais e se estamos namorando uma hora iria ter que acontecer, não ia conseguir ficar mamando na sombra por muito tempo! - ela falou e eu ri.- Eu fui a Luísa certinha que chegou a ser estranho, não soltei nada demais, mas a mente já tava pra me sabotar a qualquer momento. 

- Vai pra Saquarema? - perguntei.

- Acho que sim, ainda não decidi. 

- Acho que vou ficar por aqui mesmo, terminar de escrever meu TCC que já não sei quanto tempo tá parado, essas festas não estão me dando tempo, as provas já estão chegando de novo e ainda tem tudo por fora. Caos total.

- Mas você devia ir, tirar a mente um pouco disso tudo. Você tá colocando todo seu estresse no trabalho e não focando em ti, na sua mente. - era verdade, mas é a única coisa além do boxe que me alivia. Deixei a Lu na casa do namorado dela e fui pra faculdade, duas aulas seguidas de legislação e ética profissional numa quinta- feira. 

Quando terminou a aula já era 21h, pedi a localização pro Caio e ele me enviou. 

- Finalmente, Júlia, já tava achando que tinha rolado algo. - ele apareceu lá na porta quando avisei que tinha chegado, recebi um beijo na testa e dei um abraço nele. - Entra aí, tô esperando finalizar uma outra aí para começar a minha.

NASCER DO SOLOnde histórias criam vida. Descubra agora