NASCER DO SOL

106.

JÚLIA.

Nós ficamos lá até quase seis e quarenta e, antes de voltarmos, demos um mergulho na água gelada pra amanhercemos bem. E digo com propriedade: banho de mar renova as energias, todo o turbilhão que está em ebulição dentro do nosso corpo parece se acalmar.

Pegamos nossas roupas e vestimos enxarcados mesmo e subimos todas aquelas pedras para voltar pra casa. Minha mente já está bem melhor, apesar que aquele pesadelo está passando em looping, mas saber que nada daquilo foi real é o que me conforta. 

Passamos pelo corredor verde e entramos na área da piscina, onde eu  consigo ver de longe minha mãe na cozinha preparando alguma coisa pro  café.

- Você quer ir pro quarto? Não te deixei dormir, pode ir lá descansar que já já subo, tá? - viro pra ele e fico na ponta dos pés para dar um selinho. - Vou ficar aqui com minha mãe.

- Distrai a mente, preta. Vou ficar te esperando lá qualquer coisa, fechou? - concordo e ele segue o caminho reto e dou a volta pra ir para onde minha mãe está.

- Oi, mãezinha. - chego lá e falo. Ela abre os braços para me dar um abraço, mesmo que eu toda molhada. - Eu estou toda molhada, dona Lídia.

- Nunca vi isso, filho meu vivia molhado por causa de mar e piscina e eu nunca reclamei. - fala e eu aperto mais o abraço. - Fazendo o que acordada essas horas?

- Eu tive um sonho péssimo. Aí o Lucas me acordou e eu não consegui dormir mais e, pra me ajudar, a gente desceu pra praia.

- O que esse seu coração tá sentindo? - a minha mãe por ser psicóloga ela entende muito bem das emoções através das ações. Mas ela nunca tratou assuntos nossos como sessões de terapia, e sim como minha mãe e amiga mesmo. - Diz pra mamãe, o que te aflige.

- Ai, mãe, é tanta coisa. Despertou um turbilhão de emoções, como se tivesse pego um balde e despejado, sabe? - falo, enquanto ajudo ela a preparar as coisas. - Um sentimento de medo, desespero.

- Mas graças a Deus tudo não passou de um sonho ruim.

- Sim, mas parecia tão real.

- Eu não sei o que foi, o que tinha nele. Mas eu quero que saiba que você tem a gente. Você tem eu, seu pai, o seu irmão. Tem a Lu e o Felipe também e agora o Lucas, então a última coisa que vai te faltar é amor pra te dar, cuidado pra receber. A gente sabe que você não gosta de comentar sobre os problemas, que você gosta de resolver as coisas todas sozinha, mas vale lembrar que a gente tá aqui pra te ajudar, apoiar.

- Eu sei e acho que vocês não possuem noção do quão grata sou por isso.

- Você tá com um brilho diferente no olhar, uma coisa acesa, que há muito tempo eu não via em ti. - ela fala e eu dou um sorriso. - Ele está te fazendo tão bem, e você a ele também. Isso eu tenho certeza.

- Muito, mãe. Não consigo mais imaginar uma vida sem ele ao meu lado, eu tô provando de um amor tão leve e gostoso, calmo.

-  Precisamos vencer nossos medos, nossas negações, ainda tem muita coisa pra acontecer, mas eu tenho certeza que vocês vão ser muito felizes ainda.

- Eu tenho medo, não vou mentir. A gente por ter diferença de idade alguma hora vai ter desentendimento, eu tenho medo do futuro, por eu saber que ele tem um sonho de ser pai e nossa... pensar nisso me deixa ansiosa. Só que nós estamos sendo tão nós, apenas experimentando o que está sendo proporcionado.