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JÚLIA.

08 de agosto, 2023 - 10 semanas.

Mais uma semana se passou. Mais uma semana que carrego alguém dentro de mim. E fazem uma semana que sinto falta dele.

Tem sido péssimo de dormir sem ele. De não dividir um café amargo que eu tanto odeio (já que ele bebe apenas sem açúcar), de abrir o celular e ver ele apenas perguntar se o bebê está bem. Mas foi o que eu escolhi, o que resta agora é arcar com as nossas consequências.

- E vocês dois vão ficar fingindo estar bem pros pais dele? - Lu pergunta. Estamos nos arrumando pra festa de hoje, mesmo que minha vontade é zero. - Sabe a merda que estão se colocando?

- Estou tendo conhecimento. - respondi. Minha amiga me olha e nega com a cabeça. - O que é?

- Tem conhecimento, mas finge não ter, né? Não sei se é mais você ou o Lucas que quer fingir que está tudo bem. Onde claramente não tem nada bem!

- Ah, bacana... Acho que não sabia disso. - debocho, vendo ela revirar os olhos.

- Vão ficar nessa e aí? Quando a bomba estourar? Sabe que os pais dele vão ficar chateados, ainda mais por você... com essa coisa da gravidez. - termina de se maquiar e se senta na minha frente. Contei pra ela sobre a semana passada. - Fingir uma coisa que claramente se sente desconfortável não vai te fazer ter ele de volta.

- Mas eu não quero ele de volta. Eu nem posso tê-lo de novo. - suspiro. Maldita  saudade. - Eu estou como uma barriga de aluguel.

- Para de falar assim, eu estou grávida e ouvir isso me corta o coração. - murmura. - Você não tem noção do quanto uma gravidez muda uma mulher, a percepção de vida, tudo! E onde tem amor sempre vai ter vida.

- Se for assim o nosso amor gerou uma vida. Mas eu não amo essa vida! - levanto, indo a procura de alguma roupa.

- Júlia, você ia gostar de ser rejeitada? De saber que sua mãe te negou uma gravidez inteira. - fala, acariciando a barriga redonda dela.

Dou de ombros e começo a me vestir. A saia curta sobe, coloco a parte de cima e simplesmente a blusa que ficava ajustada no meu corpo parece estar pequena. Meus seios estão quase que saltando.

Primeiro sinal da gravidez no meu corpo. Pelo menos ainda não é a barriga.

- Está muito estranho? - pergunto, apontando pra parte de cima do meu corpo.

- Não, seu peito só está maior e a blusa deixou mais evidente. - responde. Me olho mais uma vez no espelho e sinto uma vontade tremenda de chorar, tudo em minha vida vai mudar nesses nove meses. - Não vai me responder mesmo?

- Não, eu não quero ter que falar sobre gravidez. - coloco meu salto. Finalizo a arrumação e respondo a mensagem da Agnes sobre um assunto do trabalho. - Pronta?

Ela concorda e nós vamos caminhando. Entro no meu carro e ela vai pro banco do carona, toda galera já tá lá, só falta nós duas. Batuco no volante o toque da música que passa e vou atravessando o trânsito do Rio de Janeiro.

Eu estou apenas com a uma dúvida na minha cabeça.

Respiro fundo três vezes antes de descer do carro. Mostro meu credencial e vou caminhando pelos bastidores, com a Lu me acompanhando também, as primeiras pessoas que vejo é o Rafael, a Laura, o Pedro e o Kayke. Caminho até eles, dando um sorriso.

- Oi, gente! - dou um beijo na bochecha de cada um. - Olha, não é que veio tocar mesmo em um evento meu.

Paro ao lado do Kayke, o amigo dj do mesmo dia que eu e a Luísa saímos e acabou que ela desmaiou.

NASCER DO SOLOnde histórias criam vida. Descubra agora