156.

932 143 41
                                    

JÚLIA.

dia 02.

Continuo aqui. Ele na mesma situação. Vê-lo assim acaba comigo. Fico horas e horas e nada de diferente acontece, apenas enfermeiras e médicos vindo aqui verificar.

Os poucos minutos que passo fora do seu lado me ilude. Acho que a qualquer momento que entrarei aqui ele estará acordado. Só que isso nunca acontece. Tanto por eu não ficar longe por mais de dez minutos, quanto por estar praticamente que todo o momento junto dele, só ouvindo o barulho do aparelho de batimentos.

- Promete pra mim que vai ficar bem, hum? - sussurro, beijando sua mão. - Eu tô indo, mas sua mãe vai ficar aqui, cuidando de você. Amanhã eu volto... Só fique bem logo.

Saio de lá. Por mim eu ficaria aqui por todo o tempo. Eu não estou trabalhando, eu não tenho vontade de fazer nada, mas eles dizem que eu preciso ficar em casa, cuidar de mim. Todas essas coisas por conta da gravidez.

- Oi, filha. Alguma notícia? - abraço a mãe dele. - Como você está?

- Oi, nenhuma novidade. Ele continua na mesma de ontem. - comento, cruzando os braços ao redor do meu corpo. - A sedação diminuiu, ele pode acordar a qualquer momento... mas parece que esse momento nunca chega. É difícil ficar bem com ele nessa situação.

- Estou pedindo tanto à Deus... Tanto, tanto. - solta um sorriso fraco, olhando para ele pela janela do quarto. - Mas ele é forte e eu confio que tudo vai dar certo.

....

dia 03.

- Oi, preto. Prometi que ia voltar, né? - beijo sua testa. - Hoje cheguei mais tarde porque o pessoal da obra foi lá em casa. Já começamos os preparativos para iniciar o quarto da Ísis, assim como o da sua casa já está quase que pronto em questão de pintura. Agora só precisa finalizar os móveis para deixar tudo pronto pra ela. Inclusive daqui três dias nós completamos vinte e oito semanas.

Eu sempre entrelaço nossas mãos. Fico com elas grudadas durante todo o tempo que fico aqui. É o nosso único contato. E eu também fico conversando. Eu sinto que ele me ouve. Ele sabe que estou aqui.

Me levanto para poder cuidar dele. Pego a toalha molhada e vou passando pelo seu corpo. Vou até a bancada e molho a toalha novamente para continuar a limpar, volto e passo em seu rosto tão sereno. Meus dedos tocam sua bochecha, depois passo em seus lábios que estão secos. Seguro as lágrimas em meus olhos, mas é tão difícil... Eu não me sinto forte o suficiente para estar vivendo tudo isso. As coisas aconteceram em tão pouco tempo.

Respiro, tentando me acalmar. Lembro daquele técnica que o Lucas fez comigo, bem no início, quando ainda nem conhecíamos direito. Engulo o choro. Quando volto a encarar seu rosto eu vejo seus olhos levemente abertos.

- Lucas... - apoio minha mão em seu peitoral, ansiosa. - Amor, oi. Lucas...

Tento falar com ele para ver se ele desperta. Ansiosa pra saber como ele está. Tudo. Não tenho coragem em movimentar seu corpo, por conta das dores que provavelmente deve estar sentindo. Então só espero ele acordar de vez, o que vai acontecendo de pouco a pouco.

- Eu tô aqui, preto. - falo, tentando conversar com ele. - Eu tô aqui, cuidando de você. Tá tudo bem.

Conforme eu vou conversando seus batimentos vão aumentando. Cada vez mais. Seus olhos ficam piscando sem parar. Ele parece estar querendo se mexer.

- Licença, por favor. - alguém entra no quarto, vindo direto até ele. - Ele acordou há muito tempo?

A enfermeira pergunta e eu nego com a cabeça.

- Não, eu estava cuidando dele quando acordou...

- Ei, calma... Seus batimentos estão muito rápidos, precisa se acalmar. - ela vai falando pra ele, enquanto vai fazendo algumas coisas. - Vou dar mais meia dose para ele. Está muito inquieto.

- Eu... eu... - tento falar alguma coisa. Querendo ainda continuar a conversar com o Lucas, mas agora com ele acordado. Só que não consigo.

Logo ela já volta com a sedação pro seu corpo e ele aos poucos volta ao jeito que estava antes.

....

dia 05.

Mexo na minha barriga. Tentando fazer com que a Ísis se mexa. Mas desde de que tudo aconteceu ela fica quietinha, sem um chute sequer.

Apolo também está todo tristonho pelos cantos. Quando chego ele me recebe, mas logo já vai pro quarto do Lucas e fica deitado o restante do dia. Para comer também está sendo um custo. Apolo está sentindo uma falta grande.

Passo o perfume que o Lucas gosta. Coloco uma blusa dele junto a um short jeans para ir visitá-lo. Depois daquele dia eu sinto que a qualquer momento ele vai acordar novamente, só que dessa vez pra valer. Quando contei pra família e para os amigos todos comemoraram, principalmente o Augusto e a Marisa.

Adentro na sala. Dando o beijo na testa como todas as vezes que estive aqui.

- E hoje? Será que você acorda? - começo a conversar. - Não aguento mais ter que dormir no seu quarto sem você. E sim, não contei antes, mas eu já estou dormindo na sua tem uns dias... primeiro porque preciso cuidar do Apolo, claro, mas eu tenho total certeza que você diria que é porque estou com saudade. E você teria razão. Porque eu estou com muita saudade de toda aquele perturbação sua na minha cabeça. Sentir o seu cheiro nos lençóis ou nas suas roupas me faz ter mais saudade, acredita? Inclusive hoje estou vestindo uma blusa sua, a sua preferida e também a que você mais tem ciúmes...

- ... Outra coisa: Apolo está sentindo sua falta. Já fazem dias que ele anda com semblante triste, sentindo tua falta. A Ísis também. Ela está sentindo sua falta. Já fazem dias que ela não se mexe, o que chega a ser engraçado, já que antes ela não me deixava quieta um segundo. Eu converso com ela, mas nem bola ela dá... Você dizia tanto que ela não de mexia pro papai dela, mas tenho certeza que ela se mexia para você sim, porque era só escutar sua voz. Eu preciso de você aqui. A gente precisa de você. A nossa família precisa de você logo.

....

dia 07.

- Júlia, está ocupada? Vem aqui no hospital, é urgente!

NASCER DO SOLOnde histórias criam vida. Descubra agora