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LUCAS.

Peguei num sono bolado depois da praia enquanto assistia uma série junto da Júlia, um bagulho lá antigo de reinado, Brighton, mas até que legalzinha. Se eu não assistisse a maluca era capaz de expulsar eu de lá, encheu meu ouvido pra caralho falando motivos pra eu ter que assistir.

Desliguei a televisão do quarto dela e desci pra fumar, abstinência já, reduzi muito do que fumava por dia, mas é aquela coisa, impossível parar de vez. Passei no quarto onde o vagabundo do Felipe tá pra ver se ele tem haxixe pra misturar com a erva e o arrombado nem sinal de vida deu. Pô, tô afim de ficar lombradão hoje, na onda máxima, bem distante de b.o.

- Lucas? – uma voz me chama quando eu termino de descer as escadas pra ir pra fora. E vejo que é o velho, meu chefe. – Aceita?

Me oferece uma dose de wiksy que tem na mesa de centro e eu nego. Ele faz um sinal pra eu me sentar e eu suspiro fundo. Ah, qual é? Tô querendo fumar e ele querendo fazer sala comigo. Nada contra não, mas, porra, podia ser outra hora não? Maior esculacho.

- Pô, tô tranquilo. Já bebi mais cedo. - respondo. Coroa é gente boa demais, lá na empresa é um chefe bonzão, tá ligado? Não é daqueles que se foda os funcionários, egocêntrico pra caralho. Ele é humano demais. - Aconteceu algum bagulho?

- Não, só quero trocar um papo contigo.

- Ah, pode falar então. Qualquer coisa resolvemos aqui mesmo. - respondo. Que porra é essa? - Segunda lá na empresa a gente resolve certo.

- Não é assunto de trabalho. - dá um sorriso e eu jogo a cabeça pra trás. Pô, vai me fazer escutar mesmo ao invés de eu estar fumando pra relaxar. - É sobre tu e minha filha.

- Pode falar, tô te escutando. - respondo e relaxo na poltrona.

- Você e a Júlia estão se envolvendo mesmo? - pergunta, mas eu nem confirmo nada, até porque ele já emenda a frase. Só pica nas costas. – Eu vi a aproximação de vocês, não sei se é porque você é amigo dos meus filhos e de toda essa gente, mas sei que algo vocês dois tem.

Porra, realmente vou ter que escutar ele mandar o papo pra mim por causa da filha dele. Suspiro e vejo ele manter a pose, igual quando pai vai conhecer o namorado da filha e mete maior marra pra dar medo.

- Eu já vi que tu é um cara de raça, responsa, no quesito trabalho, pessoalmente estou te conhecendo por agora. Mas é o seguinte: não sei o que você e ela tem e nem me preocupa isso agora, minha princesa já tem vinte e dois anos, sabe das escolhas que faz, só que sou o pai e por eles eu faço qualquer coisa! Principalmente pela Júlia, por já ter tido diversas experiências traumáticas... Então eu não quero ter que ver ela sofrer denovo, passar por aquele turbilhão de coisas, principalmente por pessoas que a invalidam, que machucam ela e a deixa frágil e fechada para o mundo, até porqu...

Respiro fundo e interrompo sua frase, antes de terminar e começo a falar:

- Com todo respeito, Vicente, peço até desculpas por interromper você. Mas eu e a Júlia realmente estamos nos envolvendo, já tem uma cota se tempo, ainda não estamos em um relacionamento cheio de rótulos. – falo. Agora eu falaria o que desse na telha. – Gosto pra caralho da Júlia, ela é uma garota maneira, sei um pouco do histórico dela e sinto muito por isso, entendendo também que o senhor não quer vê-la novamente na mesma situação passada, é preocupado. Coisa de pai e filho, não é? - concorda. - Não sei se o que temos vai durar...

NASCER DO SOLOnde histórias criam vida. Descubra agora