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JÚLIA.

Eu não consegui dormir mais. Vi o dia nascer, meus avós viverem a vida deles. E eu continuo em êxtase com a notícia.

Ajudei minha avó com almoço e, pela tarde, fui com ela a uma igreja, depois de bom tempo sem pisar em uma. Entro e me ajoelho, fazendo o sinal da cruz, iniciando uma oração.

Faz um tempo que não piso em uma igreja... E olha que em circunstância eu vim te buscar, Senhor. Posso estar falhando como mulher em recusar essa criança que está crescendo dentro de mim, sendo hipócrita em pesquisar coisas sobre aborto e vim aqui, ajoelhar e desabafar, sendo que todos dizem que Tu és a favor do amor, da família... Mas eu não nasci pra isso, para ser mãe. E ter que lidar com isso piora tudo... Eu peço proteção pra mim e pelas atitudes que tomarei.

Terminei minha oração e fui com minha avó acender uma vela. No caminho eu vejo uma criança correndo, uma garotinha com vestido, laços e um sorriso lindo. Do outro lado vejo a mãe; com um terço na mão, encostado na barriga e fazendo uma reza enquanto a vela ali pega fogo.

Parece que toda vez que olho para algum canto encontro uma criança, uma grávida, uma família. Tudo que é pavoroso para mim nesse momento.

Meu olho arde e eu fecho eles, sentindo lágrimas escorrerem. Me sinto culpada demais por ter deixado isso acontecer, logo agora. Minha vida tá incrível, e essa notícia modifica tudo.

Por a igreja ser perto da casa dos meus avós eu volto caminhando, ouvindo minha avó conversar sobre tantas coisas, e me sinto pior quando ela repara que não estou prestando atenção em nada do que fala. Então ela para no caminho, me analisa, e pega na minha mão.

- Júlia, meu amor, você está tão abatida. Você chorou a noite inteira, a manhã inteira. Você está chorando o dia todo. - fala, calma. - Me fala, por favor, o que está acontecendo. Eu quero o seu bem, eu não sei o que posso fazer, mas eu te quero da forma leve.

- Ai, vovó... É tanta coisa junta, mas eu não consigo falar agora, eu ainda nem sei como dizer! O que fazer...

- Eu não sei o que é, mas assim que chegarmos você vai direto pro Rio para resolver o que precisa. - afirma. Limpa as minhas lágrimas que insistem em descer. - Não estou te expulsando daqui, mas eu sei que você precisa resolver isso, e não fugir. Eu só quero a minha netinha Júlia por inteira.

Concordo com a cabeça e quando chego na casa vou direto pro quarto, pegando todas minhas coisas para voltar pro Rio de Janeiro, para resolver o que preciso. Despeço dos dois, com uma benção do meu avô e procuro alguma mensagem do Lucas, mas não encontro nada. Só a minha última.

Luísa eu nem respondi. Vacilei muito, porque eu tinha prometido que ficaria com ela, que cuidaria dela e nem isso isso consegui fazer. Eu só venho errando.

Chego no apartamento do Lucas, Apolo me segue até o quarto dele. Pego meu notebook e volto a pesquisar ali, métodos, lugares que fazem esse procedimento. Uma mensagem chega no whatsapp, meu coração parece bater na boca, um frio na barriga sobe, e quando vejo... não é dele. E sim da minha ginecologista, uma mensagem com ela falando sobre pré-natal, retorno, e blá-blá-blá... e também um documento.

NASCER DO SOLOnde histórias criam vida. Descubra agora