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Antes de iniciarem a leitura deste capítulo quero pedir desculpas pela demora da atualização. Quem está no grupo ou que leu o aviso que publiquei sabe que tive problemas com a plataforma. Acredito que agora já foi resolvido. Com carinho, Lana. 🖤

JÚLIA.

três dias depois...

Adentro o quarto gelado após consulta e um dia cheio de b.o para ser resolvido. Eu e os pais do Lucas estamos fazendo de tudo para saber o que aconteceu, indo na polícia para ter atualizações sobre esse caso que, para mim, não faz sentido. Porque é o que as filmagens mostram. Posso estar enganada? Sim, pelo fato de querer acreditar que tudo isso ainda é um sonho. Mas sei que na minha cabeça não faz sentido. 

- Caraca, só dorme, hein! - falo, colocando minha bolsa na maca e indo dar um beijo em sua testa. 

- Tenho mais nada pra fazer, né?! Se não tô dormindo tenho que fazer essa porra de fisioterapia, se não é assistir essas novela ruim que nem som tem. - resmunga. - Tá, mas e minha filha? Como ela está? Grandona já?

- Trinta centímetros. Tem noção do tamanho que ela já está? 

- Minha filha, pô. Sacanagem ela ser tampinha que nem a mãe. - ignoro sua fala, procurando na galeria a filmagem que fiz do momento da ultra. - E tu, tá tudo bem também? 

- Sim. A Rebeca me passou mais uma penca de exames para fazer, mas tudo certo comigo. 

- Podia ter me ligado pra eu poder acompanhar...

- Preto, juro que não foi por querer. Eu realmente pensei em fazer isso, mas eu soube que você estava na fisio, não queria atrapalhar.

- Atrapalhar? Minha filha é prioridade. Que se foda eu estar todo desgraçado aqui em cima dessa cama, sem conseguir mexer as pernas, minha prioridade continua sendo ela. Não importa o que eu estiver fazendo, largo tudo só para saber dela. 

- Desculpa, mas na hora eu não sabia o que fazer ao certo. - sento ao seu lado, entregando meu celular para ele ver o vídeo. - Mas essa fase vai passar. Agora olha o vídeo dela toda espoleta na minha barriga.

O vídeo começa com ela toda calminha, deitada e com a mãozinha na barriga. Logo que eu falo que é para ficar quietinha para o papai dela ela se mexe dando chutes e chutes, se revirando no espaço. "Olha que coraçãozinho forte o meu, papai, te esperando"  minha voz sai de fundo, mudo meu olhar pro seu rosto onde tem um sorriso fraco, o barulho alto do pequeno coração do serzinho que habita dentro de mim. É tão forte e tão acalentador. Volto meu olhar para a pequena tela, mas em pouco segundo eu ouço o um fungar de nariz. É o Lucas chorando. 

Algumas poucas lágrimas escorrem de seus olhos, a ponta do nariz vermelha. Seguro sua mão livre. Essa é a nossa família, a única. Nós somos uma. 

- Não chora, Lucas. Tá tudo bem agora.

- Pô, eu amo vocês demais. - murmura, logo soltando um sorriso quando a Ísis leva o dedo até a boca. - A gente errou muito no início, mas nada pode mudar o que eu sinto por vocês duas. Tá ligada que independente do que role de agora em diante nada vai mudar. E se mudar vai ser pro melhor. Pra nossa família. 

- Te amo muito, muito, muito! 

Ele passou mais alguns bons minutos revendo os vídeos, as fotos, tudo. Super emocionada e se desculpando por não poder acompanhar, e eu falando que isso não altera nada na sua vida de pai, que ele vai ser mais ou que vai deixar de ser. Sei o quão genuíno e sincero é esse amor por ela, pela nossa filha. E vice-versa, ela também é maluca nesse pai dela desde a barriga. Eu tenho mais certeza que quando ela nascer vão ser o maior grude esses dois!

- Tá pensando em que? - pergunta.

- Em como vocês dois vão ser um grude. - respondo, fingindo ciúmes. - Poxa, não vai sobrar mamãe para nada.

- Ela nem nasceu e já tá assim? Que isso... - mexe em uma mecha do meu cabelo que está em seu colo. - Vai ser mascotinha, tá sabendo, né? Mas a ísis vai te amar, tenho certeza disso. Quando ver que a mãe dela não foi egoísta quando decidiu ter ela, mesmo que tinha outras opções, que alterou todos os planos da vida por conta da gravidez e que não desistiu das coisas... 

- Licença. - uma enfermeira entra, junto dela uma mulher. - Mais uma sessão de fisioterapia, senhor Lucas. 

- Já te falei pra me chamar só de Lucas, Narinha. Me sinto um velhote, pô. - levanto, indo pra perto da janela para acompanhar de longe. - Júlia, tô velho? Diz pra ela.

- Você não quer que eu complique pro seu lado, quer? - estalo a ponta da língua no céu da boca. - Super concordo que você é velho, quase trinta na cara já. 

- As coisas não estão fáceis para você pelo visto, Lucas. - a fisioterapeuta diz. 

- De todos os enfermos que já cuidei esse é o único que reclama de ser tratado bem... Ai, ai. - Nara responde, verificando algumas coisas dele. 

Essa enfermeira é uma das que cuida do Lucas. Eu diria a principal, porque ela vem sempre aqui, os dois ficam numa conversa alheia que só. E quando junta a Marisa? Meu Deus, o caos tá feito, a orelha da população do Rio de Janeiro e redondezas deve esquentar a beça. 

Acompanho a fisio dele e está totalmente estampado em seu rosto o desgosto. Desgosto por não conseguir fazer o mínimo, apesar que eu já acho que tenha evoluído bem pouco, mas que teve um progresso. 

- Vai tomar no cu! Porra, não consigo fazer o básico e quer que eu tenha paciência? Eu tô mexendo minhas mãos por sorte, imagina se eu estivesse todo inválido? Preferia morrer.

- Para, Lucas. Não fala assim! Tudo é tempo, progresso. As coisas não vão voltar de um dia pro outro, é reaprender, fortalecer. 

- Do jeito que anda as coisas eu não vou reaprender é nunca. Viu que nem consegui dobrar direito o dedo do pé? Eu não presto pra desgraça nenhuma, Júlia. Nada!

- Eu tô aqui contigo! As coisas vão melhorar, eu sei da sua capacidade e da sua força de conseguir. 

- Quando? Eu não quero isso daqui há dois anos. Eu nunca dependi de ninguém, Júlia, tem noção? E de repente nem ao banheiro eu vou mais. E foda-se o tempo de recuperação. Eu ficar aqui não me faz bem. Vejo todo mundo vivendo a vida aí e eu aqui, sem fazer nada, porque nem pra isso eu sirvo. E pior de tudo, ainda prendo tu, minha mãe, meu pai. Eu não quero isso, eu não quero depender de ninguém.

- Não vou te responder nada além disso, Lucas: nós não nos casamos, mas eu tenho para mim o mesmo lema. Na saúde ou na doença, na riqueza ou na pobreza e mais tantas coisas nós vamos estar juntos. Eu amo você, eu torço por ti, não importa se estaremos juntos, eu só quero o seu bem.

NASCER DO SOLOnde histórias criam vida. Descubra agora