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LUÍSA.

Não sei que porra aconteceu agora, mas se eu ficasse naquele carro por mais um segundo eu teria feito uma merda gigantesca capaz de acabar meu relacionamento, minha dignidade, meu caráter. Acabar com tudo que lutei não sentir novamente.

Tento limpar as lágrimas que escorrem pelo meu rosto, mas é um ato falho, visto que desde o momento que decidimos conversar eu soube que acabaria da forma que acabou quando eu vi ele com outra.

Caio me faz sentir coisas que nenhum outro é capaz de proporcionar, mas eu tenho uma mágoa tão grande dele por ter pisado na bola comigo que não sou capaz de descrever em palavras o que sinto. Não sei se é ressentimento ou se ainda gosto dele.

E eu odeio pensar nisso. Thiago não merece uma garota como eu, que agora está duvidando do próprio sentimento por um cara que não me merece. Meu namorado não merece uma garota que quase beijou outra, ainda mais quando sabe que já estivemos juntos.

Entro no apartamento e encontro a Júlia na poltrona lendo um livro, essa também é outra que complica a vida. Eu só queria que ela se libertasse de uma vez daquele ex maldito dela e aproveitasse sem medo, se entregasse de vez.

- Aconteceu o que? Por que você está chorando, Lu? - ela levantou e parou na minha frente dando um abraço estilo Julinha. Toque físico não é a Júlia, literalmente. - Brigou com o Thiago?

- Não, eu quase fiz pior. - sentei no sofá e apoiei minha cabeça nos meus braços. - Eu quase trai ele. Com o seu irmão, ainda.

- Olha, calma... respira. - ela tentou e eu estou calma. Mas estou pasma comigo mesma de ter pensando na possibilidade de sentir o beijo dele de novo. - Lu, me fala pra eu te ajudar.

- A mãe do Thiago passou mal e ele teve que ir, mas pediu pro seu irmão me trazer pra cá. Eu até tentei recusar, mas o Thaigo insistiu pra eu vim com o Caio, acabamos discutindo aqui no estacionamento sobre assuntos passados e ele me abraçou, me abraçou igual todas as vezes que eu precisei dele...! - dou uma pausa para tentar evitar o choro. - Nós ficamos nesse abraço e se encarando, até chegamos a quase colar nossas bocas, só que eu lembrei que sou comprometida, que meu namorado não merece isso, ainda mais sendo com seu irmão.

- E o que você vai fazer agora? - pergunta. Mas eu nego com a cabeça, porque eu não sei. - Vamos fazer assim, deita, tenta dormir, amanhã com a cabeça fria vê o que vai ser melhor. Mas lembra: você não traiu o Thiago, tenta ter uma conversa, eu sei que você é uma mulher que valoriza os outros, e não é seu tipo ter atitudes calorosas, loirinha.

- Júlia, você não entende a gravidade...

- Eu posso não entender cem por cento, mas eu quero ver você feliz, seja com quem for. Então faz isso, pensa melhor, sem se martirizar e pensa numa possibilidade, só não toma atitude de cabeça quente.

- Você acha que alguém vai querer continuar uma coisa com alguém que não sabe nem o que sente? - pergunto. - Óbvio que não! Thiago não merece ter uma mulher confusa, não merece uma pessoa que não sabe se ainda sente algo pelo passado.

- Luísa, vamos fazer que nem falei?! Amanhã é um novo dia, tenta descansar, e vemos o que vai dar depois, ok? Só não quero te ver sofrer antecipadamente. Sabe que o que é pra ser vai ser, nada vai impedir.

O que é pra ser vai ser.

JÚLIA.

Aí, sério... Que confusão. Eu nem sei o que falar pra ela, sinto que fui péssima amiga agora, mas não soube reagir diante disso.

Minha cabeça também tá cheia, tanto sobre assuntos de faculdade por causa do final do semestre, quanto por assuntos pessoais. Isso está me matando lentamente, porque são coisas tão minúscula que se transformam em grande que no final o que era pra ser algo simples, se transforma em uma coisa complexa.

Mando mensagem pro meu irmão pra saber se ainda está aqui para eu também tentar conversar com ele, mas ele m responde que já chegou na casa dos nossos pais e que amanhã cedo ele vai pra SP, mas que era pra eu mandar mensagem pra ele avisando sobre as coisas.

A notificação chega no meu celular, mas eu reviro os olhos quando vejo que é o Lucas que curtiu meu storie e respndeu uma das minhas mensagens antigas. Esse é outro que tem me dado uma dor de cabeça e eu nem sei o motivo.

Depois que a Lu falou sobre aquele papo que tivemos na praia eu só pensei nisso, eu quero entender que merda tá rolando, só que não tem como quando se tem uma pessoa ignorando a existência da outra.

Eu achei que tudo estivesse bem, que não existia mais ignorância, que estivéssemos até em uma possível amizade, mas vi que só foi coisas da minha cabeça pelo visto. Mas é isso que homens fazem né, come e depois vai embora.

Não posso nem falar muito porque não temos um relacionamento, não temos algo pra chamar de nosso, posso muito menos cobrar algo que nem nunca teve exclusividade, por mais que nestes últimos tempos estivesse parecendo que tínhamos.

Até poderíamos ter tido, mas acabou quando eu fui pra cama com outro. Mas ele também não pode falar nada, já que também está com outra, pelo visto dos acontecimentos.

Quem garante que existiu exclusividade? Eu e ele sempre fomos no escuro, tentando o máximo do sigilo, por mais que algumas pessoas saibam... Só que eu fui exclusiva até nossa última transa, mas como pode ter certeza que ele teve comigo?

Ele é fechado, o que eu sei sobre ele são coisas que todos sabem, exceto a parte dele ter sido pai... Isso é a única coisa que sei, enquanto ele sabe até a merda do que meu ex me fez. Ele entrou na minha vida quase que de cabeça, de uma hora pra outra estávamos um na casa do outro, almoçando juntos, e buscando na faculdade ou eu indo na construtora, conversas bobas.

Para agora eu ser praticamente descartada. Ele não mereceu a brecha que dei, porque de uma hora pra outra tudo voltou igual antes, dois desconhecidos que fazem parte do mesmo ciclo social.

E eu não vou procurar ele. Não vou mandar mais nenhuma mensagem, nada. Eu não vou me humilhar por algo fútil.

NASCER DO SOLOnde histórias criam vida. Descubra agora