Capítulo 12, parte VII

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O sorriso dela murchou aos poucos, não exatamente por tristeza, mas na imensidão de confusão e sentimentos desordenados que tinha.

Todos os pensamentos que pareciam tão distantes, agora voltavam com a força triplicada.

A primeira vez que vira Dante, os encontros inesperados, o primeiro beijo, todas as primeiras experiências que ele lhe dera. As viagens, sozinhos e em família, o primeiro "eu te amo", a promessa de uma vida a dois, o pedido de casamento, o desespero misturado ao choro e a alegria de descobrirem a gravidez não planejada dela.

Os preparativos para a união, escolha de vestidos, igreja, buffet, os pequenos momentos que vivia diariamente com ele até... até o dia que mudara tudo. Até perdê-lo sem explicação, até ficar sem nada, sem filho, sem noivo, sem chão.

Jurara ser dele para sempre, jurara nunca mais amar alguém, jurara a si mesma que viveria apenas pelos prazeres da carne, mas agora tudo caíra por terra e Christopher derrubara suas muralhas. Ele estava ali, disposto, cheio de vida, de energia, de sinceridade, fazendo o coração dela palpitar novamente, devolvendo cor aos dias tão cinzas, puxando-a para a luz; ele era a própria luz.

Christopher= Está tudo bem se não quiser responder. – disse, e a voz saiu tranquila. – Você não precisa se forçar a...

Dulce= Há muitos anos não sei o que é isso. – encarou-o. – Nunca mais quis ninguém e não pensei que haveria alguém capaz de mudar a minha cabeça. – lhe deu um pequeno sorriso, mas o gesto nunca parecera tão grandioso para ele. – Definitivamente não esperava você.

Christopher= María. – acariciou-lhe o rosto. – Eu...

Dulce= Me ensina a sentir isso de novo. – ela corou ao pedir.

Ele deslizou o dedo pela bochecha dela, encostou os rostos e a viu fechar os olhos, via o tamanho do esforço que ela fazia. Beijou-a devagar, uniu os lábios pouco a pouco, ainda que sentisse o coração bater cada segundo mais rápido; não conseguia explicar como se apaixonara tão intensamente por Dulce daquela forma.

Christopher= Garota. – deitou-se por cima dela. – Eu nunca mais te largo.

Dulce= Garoto. Não me largue. – mal sorriu e ele já a beijara outra vez.

Em pouco tempos os corpos estavam, mais uma vez, entregues à toda química e desejo que exalavam um pelo outro. Repetiram a dose na cama, no sofá no quarto, na pia do banheiro e terminaram no box.

Quando finalmente deitaram-se, o relógio já indicava duas horas da manhã, ela aconchegou-se no peito dele e deslizou calmamente os dedos pelo peito nu do homem.

Christopher= María? – olhou-a, mas ela tinha os olhos fechados.

Dulce= Hm. – sussurrou, mas ele ficou em silêncio. – Hmm?

Christopher= Nada. – sorriu sozinho. – Só estou pensando e... fique. Escolha sempre ficar.

Dulce= Uhum. – soou tranquila e não abriu os olhos.

Seus pensamentos estavam em intenso conflito com seus sentimentos, sua mente estava confusa, e ela sentia tudo nublado pela quantidade exagerada de álcool naquela noite. Não quis abrir os olhos, tinha receio apenas de pensar em como seria o dia seguinte, quando tivesse que encarar de frente a decisão de se envolver outra vez, e mais do que isso, se envolver com a classe de pessoa que fora responsável pela morte do amor de sua vida. Dante estaria tão decepcionado, se a visse. Ele não a reconheceria, ele não entenderia, ele não superaria uma traição como aquela. Ela sabia que não, o conhecia bem para saber cada pensamento que o noivo teria, mas inevitavelmente sentia-se feliz e não conseguia manter-se afastada de Christopher.

As coisas não deveriam acontecer assim, ela concluiu em pensamento, e sem saber mais como livrar-se de tal sentimento, entregou-se ao sono.

Para Christopher, por outro lado, lhe sobrava certeza de cada ato, cada palavra, até mesmo cada uma das aceleradas batidas em seu peito; jamais sentira-se tão feliz e tão certo de algo. Adormecer tornou-se fácil com a presença dela ali, mal fechara os olhos e logo havia descansado.

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