Capítulo 61, parte II

521 45 141
                                    

Anahí permaneceu quieta, imóvel, sentindo como os olhos preenchiam-se de lágrimas até que elas escorressem pela bochecha lentamente, traçando uma linha salgada sobre a base da maquiagem.

Levava tantos anos vivendo aquela vida, havia aprendido, ainda na infância, qual era seu devido lugar, o que fazer ou não fazer, quando acatar e quando se rebelar. Sabia perfeitamente que com Anthony não havia conversa, não havia chance ou remota possibilidade; com o pai as coisas sempre aconteceriam do jeito dele. Fora por isso que decidira construir o próprio império, por isso é que escolhera formar uma equipe que não se relacionasse, em nada, com a equipe dele.

Ela queria distância. Da forma que fosse possível, mas distância.

Saiu do banheiro sem olhar para trás, aquela era, provavelmente, a última vez que teria notícia diretamente de Noah. Esperava que o alemão entendesse o afastamento necessário.

Se não fosse assim, sua única alternativa seria afastá-lo forçadamente, e ela esperava não ter que fazê-lo.

Seguiu para o comitê de campanha, sentou-se à mesa e concentrou-se no trabalho que tinha pela frente, nem mesmo vira quando Noah fora embora.

Seus dedos chegaram a digitar a mensagem com rapidez, mas ela passou mais tempo encarando a tela do que levara para escrever o texto.

Anahí Puente
Hola, Poncho.
¿Podemos vernos?

Alfonso a entenderia por completo. Aliás, se havia alguém capaz de compreendê-la, sem força-la ou julgá-la, esse alguém era Poncho. Sem o idealismo de Noah, sem a brutalidade de sua própria equipe, Poncho seria diferente.

Se ousasse se abrir com o deputado, sabia como ele a defenderia, como a entenderia, a aconselharia e protegeria; podia imaginar como Alfonso moveria mundos e fundos para ajudá-la.

Mas também era consciente do que sentia por ele, de que o amor absurdo e incondicional por ele a cegariam a ponto de deixá-la ingênua e fraca. Não podia contar com Alfonso. Não era seguro.

Apagou a mensagem antes mesmo de enviá-la, guardou o celular e preferiu não pensar em sua vida pessoal; sempre fora um caos, afinal de contas, e ainda assim sempre conseguira ignorar muito bem os próprios sentimentos.

Voltou o foco para o trabalho, tinha poucos dias para garantir que o candidato se mantivesse em primeiro lugar.

Christopher chegou cerca de uma hora depois, e assim que a loira o avistou, percebeu que Dulce fizera um bom trabalho com ele.

O problema recorrente com o homem era sempre a vestimenta inadequada para as situações, e agora ele parecia ter entendido o que aquilo significava. Usava a calça jeans e a camisa descontraída, com as mangas dobradas na altura dos cotovelos.

O combinado era que visitassem as colônias mais simples, e a roupa escolhida caíra como uma luva em tal agendamento.

Christopher= Bom dia, Ani. – aproximou-se após passar em cada uma das mesas do local, cumprimentando os funcionários um a um. – Trouxe isso pra você.

Anahí= Bom dia. – ele colocou o copo de café na mesa dela. – Hmm, obrigada. Alguém está com muito bom humor.

Christopher= Sempre. – beijou-lhe demoradamente a bochecha e puxou uma cadeira para si.

Anahí= O que muito me estranha. – confessou. – Pensei que sua cãozinho estivesse de viagem.

Christopher= E ela está. – sentou-se ao lado da loira e pegou o próprio café. – O que é um real inferno. Mas ficamos conversando até tarde ontem, e hoje ela me ligou cedo. Está a caminho de Tijuana.

Jogada PerfeitaOnde histórias criam vida. Descubra agora