Capítulo 16

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Capítulo 16

Dulce desceu do carro e encarou o cemitério à sua frente, aquela entrada, já tão conhecida, jamais deixara de lhe provocar dor.

Entrou no local em silêncio, carregando as flores brancas, passou pelo amplo e bem cuidado jardim; tudo ali era sempre tão silencioso.

Caminhou até a placa metálica, abaixou-se e sentou-se no gramado, encarando o nome do noivo por alguns minutos.

Dante Schäfer
1985
2013

Colocou as flores ao lado da placa, tirou a caixa de lenços da bolsa e limpou a pouca poeira que havia se acumulado ali.

Dulce= Dan... – os olhos marejaram instantaneamente. – Você faz tanta falta que acho que, se estivesse aqui, não imaginaria. Diria que eu sou exagerada. – sorriu entre lágrimas. – Acho que sempre fui algo exagerada contigo. Ich vermisse dich. – suspirou. – E não passa, sabe? A saudade que sinto simplesmente não passa. Você sempre estará aqui, não importa o tempo, você sempre será... você. – secou o canto dos olhos. – Mas não sei se seremos nós, eu... Dan, me perdoa, eu apenas... eu tenho que continuar. – encarou as mãos na grama. – Eu quero ser feliz de novo, eu não aguento mais. Por favor, me entenda. Rezo para que me entenda. – fechou os olhos. – Sempre vou falar e lembrar de você, do nosso bebê, de tudo o que faríamos juntos. Sempre será a minha lembrança mais bonita. Prometo que isso nunca mudará. – respirou fundo. – Prometo não esquecer, prometo que não será em vão, mas eu também prometo ser feliz. Por favor, me entenda. – repetiu para si. – Te deixo ir e, por favor, me permita ficar.

O vento soprou mais devagar sobre seu rosto, os cabelos voaram de forma natural, e algo dentro dela simplesmente sentiu que tinha o apoio que precisava. Não havia encerrado o ciclo, sabia que só o faria quando soubesse exatamente, e em detalhes, tudo o que acontecera com ele, mas sentia que podia voltar a viver outra vez.

Ali permaneceu por quase uma hora, em oração e silêncio, vivendo cada segundo com tanta intensidade, sentindo como o tempo a acalmava.

Despediu-se dele, e pela primeira vez em tanto tempo, deixou o lugar sem a sensação de que deixava o noivo para trás; agora ela estava pronta para se desconectar dele.

Voltou para o apartamento, e agradeceu quando notou que o pai não estava ali. Foi direto para o quarto, e de lá seguiu para o chuveiro, tomando provavelmente o banho mais demorado e difícil dos últimos tempos; era momento de deixar que a água lavasse corpo e alma. Agora estava segura do que fazer.

Saiu do chuveiro, secou o cabelo, e em silêncio preparou-se para a tarde.

Calça de alfaiataria reta, marrom e um pouco acima da canela. Blusa branca com leve transparência, e o sobretudo também branco. Nos pés, o tênis branco, baixo, delicado e simples.

A maquiagem feita sem muito reforço, com os lábios claros e os olhos bem marcados. Poucos anéis, mas muitos brincos nos diversos furos que tinha na orelha. O cabelo vinha solto e liso.

Pegou a bolsa pequena e saiu do quarto, encontrou o pai na cozinha, preparando o almoço enquanto a música soava no rádio.

Dulce= Pai? – foi até ele.

Fernando= Só dei um pulinho na quitanda! – avisou-a.

Dulce= Eu percebi, eu... – ele a olhou.

Fernando= Uau! – não pôde evitar a surpresa. – Minha filha, está linda!

Dulce= Obrigada, eu vou... – respirou fundo. – Christopher vai fazer um evento e eu quero dar uma passada lá.

Fernando= Christopher... o candidato? – deu um leve sorriso.

Jogada PerfeitaOnde histórias criam vida. Descubra agora