Capítulo 56, parte III

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Christopher= Que? – sua expressão tornou-se graciosamente confusa.

Dulce= O jogo virou, Alex. – acariciou a têmpora dele. – Não consegue enxergar isso?

Christopher= María... – exalou e rolou o corpo, deitando-se ao lado dela. – Eu não consigo enxergar mais nada. – encarou o teto. – Tudo foi um terror. Eu saí estressado, Icaza comemorando, Anahí falando sem parar na minha cabeça, meu pai ligou e falou... ele falou tanto, tanto, tanto... – ela girou o corpo e deitou-se de bruços, apoiando os antebraços no colchão. – Ele me descascou. Falou coisas horríveis, da vergonha que eu causei para o povo, para ele, para toda a família. – não teve coragem de olhá-la. – E eu não posso evitar pensar: e se ele estiver certo? E se eu não for realmente bom nisso? – ela franziu o cenho. – Poncho nem queria ser político, isso nem era o sonho dele, e ele conseguiu. Eu acho tanto que isso é o que eu quero, eu acho tanto que isso o certo pra mim... mas e se não for? E se eu realmente só servir para ser a vergonha da família, o cara que vai manchar todo o nome que eles construíram?

Dulce= Hm. – deu de ombros. – É uma possibilidade.

Christopher= Porra, María! – então a olhou.

Dulce= Foi você quem disse! – piscou, perplexa.

Christopher= Não era pra você concordar! – disse em tom óbvio.

Dulce= Então era pra que? – arqueou as sobrancelhas. – Pra eu sentir pena? Já te aviso que esse tipo de sentimento não combina com você.

Christopher= Não, claro que não, mas... – bufou. – Sei lá, acho que só queria um refresco.

Dulce= Alex. – a voz soou mais doce. – Você se lembra da primeira vez que me trouxe para a sua casa?

Christopher= Como se fosse hoje. – pela primeira vez sorriu. – Estava tão encantado quanto agora.

Dulce= Esse não é o foco. – riu baixo. – Se lembra do que conversamos no elevador?

Christopher= Me lembro de te beijar. – sorriu de lado. – De estar completamente...

Dulce= Ok, chega. – colocou a mão na boca dele. – Não é o foco agora.

Christopher= Hm. – beijou os dedos dela, que tirou a mão dali novamente.

Dulce= Eu estava impressionada com o fato de você ter um motorista, com o fato de morar numa cobertura, e com todo o seu padrão de vida que é, absurdamente, diferente do meu. – ele deitou-se de lado e a encarou.

Christopher= Não me importa. Nunca me importou. – sério. – Porque dinheiro no banco nunca definiu caráter. Você sabe disso.

Dulce= Sim. Esse é o ponto. – colocou a mão no peito dele. – Isso é você. Quando te questionei, naquele momento, sobre a vida ser atípica, você me respondeu que o problema era justamente que ela fosse atípica e não uma realidade para todos. Isso é você. – sincera. – Não o seu discurso num debate, nem a disputa de votos, mas esse desejo de fazer mais pela vida dos outros, por aqueles que você conhece e pelos que não. – ele voltara a sorrir. – A pergunta é: você faz isso por amor ou por que seu pai quer? Eu acho que a resposta é bem clara.

Christopher= Porque eu não consigo ser de outra forma. – deu de ombros. – Não é nem por querer e nem por agradar, é algo... é mais forte que eu. É querer doar o que posso por um hospital e nem desejar que saibam. E me sinto completo assim. – desabafou. – A política não é o meu sonho, mas o que eu posso fazer com ela, sim. É por isso que eu quero o senado, é pra fazer essa diferença.

Ela o olhou e sorriu, ficou em silêncio enquanto via a ficha cair pouco a pouco na mente do namorado, e notava tal fato conforme os olhos dele enchiam-se de lágrimas.

Jogada PerfeitaOnde histórias criam vida. Descubra agora