Capítulo 64, parte III

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Dulce= Jimena sabe? – viu-o pensar.

Alfonso= Por muito tempo eu achei que não. – torceu os lábios. – Agora eu acho que sim. E não me incomodaria se ela me questionasse. Eu diria a verdade. – deu de ombros. – Nós assinamos um contrato que envolve dinheiro, apoio público, presença em eventos, mas nenhum escândalo. Ou herdeiro. – soou ríspido. – Nunca houve outro sentimento que não fosse profissional. E sempre a deixei bem ciente disso, todo o resto é só... teatro.

Dulce= E mesmo assim a Anahí...? – ele negou com a cabeça. – Nada? Nem sequer pensa em assumir nada?

Alfonso= Voltamos ao começo, Dulce: ela é casada com o trabalho. – girou os olhos. – Não sabe enxergar nada além disso.

Dulce= Por que você não a ensina? – arqueou uma sobrancelha.

Alfonso= O que aconteceu entre você e o Christopher não acontece com todo mundo. Aliás, é coisa bem rara. – pegou a cerveja. – Amar é difícil.

Dulce= Você assume que entre nós foi fácil. – viu-o dar um longo gole na cerveja.

Alfonso= E não foi? – pousou novamente o copo na mesa.

Dulce= O completo oposto. – os ombros se curvaram aos poucos.

Ela subiu os olhos até os dele, encarando-o por longos segundos. Ele manteve-se firme com a mirada travada sobre a dela.

Dulce encostou-se na cadeira e pareceu pensar, talvez medir as consequências daquela conversa. Ele se abrira por completa, somente faltara dizer claramente o nome de Mencía. Ele fora sincero, ela lhe devia a mesma sinceridade.

Dulce= Perdi o amor da minha vida há cinco anos. – sentiu que perdia a coragem, então pigarreou e buscou novamente o olhar do cunhado. – Eu sabia que havia encontrado essa pessoa, esse amor que duraria a minha vida inteira. Eu simplesmente sabia.

Alfonso= A figura que é idêntica ao alemão que não sai da cama da Anahí agora. – a conclusão escapou entre seus lábios. – Isso não te incomoda nenhum pouco?

Dulce= Não. Embora gêmeos, Noah e Dante nunca foram iguais. – os olhos perderam-se em meio às lembranças. – O pensamento, o jeito de ser, temperamento, tudo neles era oposto. E quando olho o Noah eu só vejo... o Noah. Nem mesmo uma lembrança do Dan. Nada.

Alfonso= Isso te frustra? – ela jogou os ombros.

Dulce= Não perdi o Dante por um vício de álcool do pai dele, ele não se mudou e simplesmente terminou comigo. Ele morreu. – disse, talvez mais como um lembrete para si mesma do que uma resposta para o homem. – Ele foi assassinado. Nossa história foi forçada a ficar pela metade. Nós estávamos noivos, eu estava grávida, apartamento comprado, mobiliado, uma vida inteira pela frente. – os olhos encheram-se de água e fungou, puxando a respiração para evitar ceder às lágrimas. – E a corrupção desse país cortou o nosso futuro. Não tinha mais noivo, não tinha mais apartamento, não tinha mais filho. Perdi tudo.

Alfonso= Eu... – quis falar, mas negou com a cabeça. Nada do que dissesse serviria.

Dulce= Enfrentei todos os lutos de uma só vez: pelo meu filho, pelo meu noivo, pelo meu padrinho de casamento, por tudo. Vivi tudo ao mesmo tempo. E me obriguei a aprender a olhar o Noah e enxergar apenas o Noah. – viu a lágrima escorrer no rosto do cunhado, e isso a fez segurar-se ainda mais para não derramara as suas. – Eu tinha um fardo difícil para superar. Noah também. E não era justo que eu aumentasse ainda mais o dele.

Alfonso= Sinto muito. – a voz soou embargada.

Dulce assentiu, levantou o copo de gin e deu um gole na bebida. Então a pousou novamente sobre a mesa e esperou alguns segundos, mantendo os olhos presos no copo enquanto pensava na escolha de palavras a dizer.

Jogada PerfeitaOnde histórias criam vida. Descubra agora