Dulce= Não, você não entende. – respirou fundo. – Meu pai foi para a capital com um tio, na época ele ia estudar, mas além do estudo, ele conheceu a minha mãe. Eu aconteci na vida deles, e aí a minha mãe sumiu da vida dele. – sorriu com ironia. – Minha avó já não gostava da minha mãe desde antes, depois que ela sumiu então... gostou menos ainda. Meu pai ficou comigo por três anos na capital, mas a grana apertou e ele teve que voltar para Guadalajara. – Christopher lhe tocou as costas. – E ficamos lá até os meus dezessete anos. Meu pai teve que correr atrás, ter dois empregos, se dividir em mil pra conseguir pagar uma boa escola, me dar o melhor ensino. E foi o primeiro a me apoiar quando eu disse que queria fazer faculdade na capital. Mas enquanto ele me dava todo o apoio, a família surtava. – deu de ombros. – Minha avó diz que sou parecida com a minha mãe, que esse gênio forte é dela, e sei lá o que mais. Meus tios dizem que meu pai me mimou muito, que deveria ter feito menos por mim e me deixado tomar mais uns tropeços da vida. Eles odeiam, absolutamente odeiam, que ele tenha deixado tudo para me trazer para estudar na capital, então... – arfou e a olhou. – Pode imaginar como repercutiu na família quando eu apareci namorando um alemão. E o que era a família cada vez que eu saía do país, cada dia que passava na Europa... – girou os olhos. – Cada vez que Dan e eu fazíamos uma viagem para algum país da Europa. Ele não tinha esse dinheiro todo, eu não tinha, nós sempre tivemos que economizar e dar duro para conseguir as coisas, mas é Europa, né? Digo...
Anahí= Só por ser euro, já vale muito mais do que o peso. – completou por ela.
Dulce= E uma vez que estávamos na Europa, se tornava tão fácil conhecer os países vizinhos, era tão barato. – o coque desmanchou-se do cabelo. – Nunca fiz muita questão de levar o Dan em casa, nós namoramos por sete anos, e ele foi pra lá pouquíssimas vezes. Muito menos do que o meu pai foi para a casa dele, por exemplo.
Anahí= Dulce...
Dulce= Eles sempre julgaram que eu era mimada, que a minha vida era fácil na capital, que Dante bancava tudo simplesmente porque era de fora. – contraiu os lábios. – E fui muito julgada quando o Dan morreu, porque...
Christopher= Não tem que falar disso. – sussurrou, vendo que ela fizera uma pausa maior.
Dulce= Eu posso. – forçou o sorriso. – Compramos o apartamento e estávamos construindo a nossa vida em cima do que tínhamos de dinheiro, contando com o nosso trabalho. Quando ele morreu, eu tive que arcar com tudo sozinha. Com o que ficou, com as cirurgias do meu pai, com tudo. E a família não entendia por que não estávamos nadando em dinheiro, foi... – passou as mãos pelo cabelo. – Foi desgastante. E até hoje eles não entendem por que o meu pai simplesmente não volta e me deixa aqui. E a coisa é que ele poderia fazer isso, mas nós dois sempre... sabe, sempre fomos nós. Ele é parte de mim, sei que sou parte dele, e enquanto ele quiser ficar por perto, eu farei o possível e o impossível para nos sustentar. Ainda que ninguém entenda isso.
Christopher= Não precisamos ir a lugar algum. – decidiu. – Já conheço a parte da família que realmente importa.
Anahí= Não quero ser insensível. – sincera. – De verdade, juro que não. Apenas vou te dizer algo, e quero que vocês dois decidam o que querem fazer. Não vou me meter. – a morena franziu o cenho ao escutá-la. – Há sempre três maneiras de se resolver um problema: você o elimina, você paga para que fique de boca fechada, ou você aceita o risco de tê-lo solto por aí.
Dulce= Posso não cair de amores pela minha família, mas a última opção é a única possível para mim. – encarou-a. – Não vou prejudicá-los. Não preciso nem mesmo pensar sobre isso.
Christopher= E não deve pensar! Isso não tem cabimento!
Anahí= Eu não estou sugerindo que prejudiquem ninguém! – girou os olhos. – Eu estou dizendo que, se não falarem com eles, fiquem cientes de que podem acordar com uma notícia dizendo que a família dela nunca soube sobre vocês, que jamais foram apresentados, que o namoro é uma farsa, que você é gay e que ela está recebendo para impulsionar a sua campanha. Será que agora vocês entendem ou vou precisar ser mais clara?
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Jogada Perfeita
RomanceEle quer o senado. Ela é o caminho. Ela busca justiça. Ele tem os meios. São dependentes e atraídos como imã. Amor para alguns. Pesadelos para outros. O consenso? A jogada perfeita. Segundo livro da série disponível aqui: Jogada Paralela https://w...