Tudo por Celeste

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Quanto a Gerad e Celeste, vamos ser práticos. Haviam se apaixonado. Celeste preencheu em Gerad todo o vazio que havia em sua alma, deixando-o pleno, completo. E Gerad mostrou a Celeste um sentimento que ela não sabia que existia, apenas havia ouvido falar. Um sentimento que a fazia pensar nele antes de si própria. Isso era o suficiente para Gerad. Mas não parecia ser para Celeste.

Gerad: Se case comigo - pediu, exasperado, após passar um bom tempo pensando, na janela.

Celeste: Eu... o que? - perguntou, confusa, olhando-o.

Gerad: Se case comigo, Celeste. Seja minha esposa - pediu, e a decisão parecia completamente agradável saindo de seus lábios.

Celeste: Gerad, não é assim - disse, engolindo o "sim" voraz que lutava para escapar de seus lábios.

Gerad:
Não é assim porque você insiste que não - retrucou, observando a morena se afastar dele, caminhando pelo quarto.

Celeste: Eu sou uma prostituta, Gerad - disse, virando-se pra ele. Havia dor em sua voz - Sou uma prostituta. Uma mulher de vida fácil. E você... - suspirou, exasperada - Não seria justo - se condenou.

Gerad: Eu sei o que você é. Eu sei - ele deu ênfase ao "eu" - Mas o mundo não. Case-se comigo, e eu lhe levarei embora. Onde ninguém te conhece. Seu passado será passado, e ninguém vai remexe-lo. Será minha mulher, só - insistiu, olhando-a.

Celeste: Até que alguém me reconheça. Um cliente, talvez - rosnou, e Gerad viu o olhar dela se inundar. Não queria machuca-la - E então, o que faremos, Gerad? Vou ter que me esconder? - perguntou, metaforicamente.

Ela viu Gerad atravessar o quarto como um raio, e antes que ela pudesse se afastar, ele estava segurando seu rosto, mantendo-a fixada a si.

Gerad: Nunca. Não ao meu lado. Quando você é uma Singer, ninguém a questiona, ninguém a ameaça. Sendo minha mulher principalmente - ela gemeu e tentou se soltar, sem sucesso - Escute, eu sei o que você foi. E não me importo. Eu... eu me apaixonei por você, sendo você quem é. Não importa mais. Se case comigo, Celeste, e nada mais vai importar. Você vai ser a minha vida, daqui pra frente. Celeste o encarou por instantes, aturdida. Como podia dizer sim, sabendo de tudo o que já havia feito, de tudo o que ele não merecia? E como dizer não, se cada pedaço do seu corpo queria o contrário?

Celeste: Sim - murmurou, com a voz embargada. Gerad sorriu, aliviado.

Então ele lhe beijou a testa, como sinal de respeito. Um homem normalmente tentaria leva-la para cama, mas ele não, lhe beijou a testa, como faria com a mais respeitável das mulheres. Ele sorriu, acariciando-lhe os cabelos ternamente, mas ela voou pros seus braços, chapando-lhe um belo beijo na boca. Não ia fingir ser o que não era. E aquele foi o primeiro beijo dos dois. O primeiro passo estava pronto: Eles se queriam. Agora faltava o segundo. Um talvez mais complicado. Shalom.

Shalom: Você vai o que? - perguntou, incrédulo, olhando Gerad.

Gerad: Casar. Vou me casar novamente. E desta vez, eu escolhi minha mulher, não o senhor.

Shalom: Ah, você escolheu - repetiu, se levantando - Eu posso saber quem é?

Gerad: Celeste. Você não a conhece.

Shalom: Celeste. Uma só já não bastou? - riu, e Gerad ergueu a sobrancelha - Traga a família dela aqui. Celeste... Celeste... não me lembro. Qual o sobrenome? - perguntou, meio confuso.

Gerad: Ela não tem família. Você não a conhece, mesmo com seu sobrenome - o olhar de Shalom se fechou.

Shalom: Onde você a encontrou? - perguntou, desconfiado.

Gerad: Na rua - ele viu o choque no rosto do pai - Ela só tem a mim. Tenho mantido-a no Royal, tem pouco mais de um mês - explicou ao pai, prevendo a explosão.

Shalom: Ah, sim. Você apanhou uma prostituta na rua, e vai se casar com ela? - debochou.

Gerad: Foi - ele viu a resolução aparecer no rosto do pai – Eu a amo, papai. A amo mais do que podia pensar. E, por algum mistério, ela retribui.

Shalom: Você é como America. Os dois com essa ridícula obsessão pelo amor - revirou os olhos - Ela ama o seu dinheiro, não você.

Gerad: Não quis aceitar nada do que eu lhe dei. Ficou no hotel porque eu lhe forcei.

Shalom: Então foi pra ela que você levou os vestidos que suas irmãs deixaram pra trás?

Gerad: Foi - Shalom rosnou - Ela não queria mais os que eu mandava fazer. Não quis os de America também. Só os aceitou porque eu lhe contei que ambas, America e Marlee, tiveram suas roupas por presente dos maridos - ele sorriu, se lembrando da expressão confusa de Celeste.

Shalom: Eu não vou permitir! - rosnou, raivoso.

Gerad: Seu tempo de permitir ou proibir já passou. Não vou deixar que tente arruinar minha vida como fez com a de America, jogando-a a sorte, lançando-a a Maxon - disse, convicto e furioso - Vou me casar com Celeste, vou leva-la embora daqui quando eu voltar pra casa, e você não vai se meter - disse, e Shalom o olhou, aturdido - Ela virá aqui, em um jantar que você oferecerá, e vamos apresenta-la aos que merecem. Não quero uma festa, mas um jantar, para apresenta-la a minha família e amigos.

Shalom: E porque você acredita que eu vou permitir que você a traga pra dentro da minha casa?

Gerad rosnou, raivoso. Odiava o modo como Shalom se referia a Celeste. Celeste não fazia o tipo de prostituta. Ela era doce, meiga, intuitiva. Era perfeita.

Gerad: Quando você vai entender que nós não tivemos culpa com o que aconteceu a mamãe? - ele viu o choque nos olhos do pai – Nós não a matamos. Nós sofremos por sua falta. Éramos crianças, e precisávamos de sua ajuda. Mas você foi covarde... - interrompido.

Shalom: NÃO SE ATREVA! - rugiu, virando-se pro filho. Os gritos dos dois ecoaram pelas paredes da mansão Singer.

Gerad: FOI UM COVARDE! - rugiu de volta, colérico - SE TRANCOU EM SEU CASULO, SEM SE IMPORTAR COM O QUE NÓS ESTAVAMOS PASSANDO! VOCÊ TEM NOÇÃO DE QUANTAS NOITES MARLEE ACORDOU AOS GRITOS, ASSUSTADA, TENDO PESADELOS? SABE QUE TODAS ESSAS NOITES FUI EU QUE FUI CONSOLA-LA? SABE QUE AMERICA CHAMAVA PELA NOSSA MÃE ENQUANTO DORMIA? QUE CHORAVA ANTES DE PEGAR NO SONO? - ele arfou de ódio - Não, você não sabe. Você não se importou em saber que Marlee tinha pavor de raios. Não se importou em saber que eu tinha que dormir com ela e com America a cada tempestade, porque o vento assustava America e Marlee perdia a voz pelos raios. Você só se importou com a sua dor - disse, amargo.

Shalom: Você não entende... - interrompido.

Gerad: Eu entendo, sim! Eu perdi Celeste, ela morreu nos meus braços, e eu senti sua dor. Não foi por isso que eu sai esmagando e oprimindo tudo a minha volta - condenou - E depois, como se não fosse o suficiente, depois que fui embora, você jogou Marlee aos braços de Carter. Você não deve ter visto as lágrimas assustadas dela no altar, provavelmente não, mas eu vi - rosnou - E então, fez o que pai nenhum faria, amando a filha. Entregou America a Maxon. Maxon, papai! Todos o temiam. E você não hesitou a entrega-la a ele, não importa, era um Schreave. Ela apanhou dele, sofreu humilhações, dor, quase morreu. Você não se importou. Ele é um Schreave, ele pode machucar ela. Você não se importou em ir ver America quando Eadlyn nasceu, nem a Marlee, com Josie e Kile.

Shalom andou pela sala, queria expulsar o que Gerad dizia de sua cabeça, mas ele não parava.

Gerad: Você não moveu uma palha quando seu neto foi sequestrado. Não se importou com o sofrimento de Marlee - respirou fundo - Você não sabe, mas Josie tem os cabelinhos loiros. Não sabe que os olhos de Eadlyn são castanhos, idênticos aos do pai, porque você nunca se deu ao trabalho de olha-la.

Shalom: Eu amava sua mãe - disse, mortificado, olhando a chuva pela janela - Eu amava sua mãe mais que tudo nesse mundo. Foi injusto o jeito como foi tomada de mim.

Gerad: A vida é injusta. E ainda mais injusto foi o modo como você nos isolou. Como se nós tivéssemos posto a doença dentro dela. Foi cruel. Anos depois, possivelmente, ainda culpa seus netos por isso - respirou fundo - Mas Carter é ideal pra Marlee. America conseguiu vencer o monstro que é Maxon, hoje se amam. E a mim... - ele riu - Eu não vou permitir que me sacrifique. Era uma prostituta? Sim, era! Mas agora é minha mulher. Vai ser a mãe dos meus filhos, um dia. Filhos esses que eu não vou permitir que você toque, se continuar agindo como age. Trarei Celeste aqui, e ela vai ser tratada como a mais fina senhora. Teremos sérios problemas se for do contrário - respirou fundo - Tenha uma boa noite, papai.

Gerad saiu com pisadas fortes, deixando Shalom afogado em suas lembranças. Se Magda não tivesse morrido, tudo seria diferente. Mas ela se fora. Todos iam. Ele suspirou e se sentou, pensando em tudo o que havia feito, lembrando dos gritinhos assustados de Marlee ecoando pela madrugada, e pelos soluços de America. Sim, ele os ouvira, mas nada fizera. Se ele podia sofrer, porque os outros não? Por fim, se levantou, deixou o copo que carregava na mesa ao lado e foi se recolher.

Deixemos Celeste vir, e vejamos o que vai dar.

Meu pecadoOnde histórias criam vida. Descubra agora