Nojo

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No escritório, Carter encerrava a discussão com Maxon. Estava possesso de raiva.

Carter: Pelo visto, você voltou a ser a criatura insuportável que era a anos atrás. Pena, eu pensei que havia mudado – Maxon revirou os olhos – Não vou me meter. Mas pense em America.

Maxon: America não tem nada a ver com isso.

Carter: Já disse, não vou me meter. Entretanto, tire-a daqui – Maxon ergueu a sombrancelha – Faça isso, a não ser que queira que eu mesmo faça. Ter Kriss aqui dentro é uma ofensa não só a America, mas a mim, a minha mulher, ao meu filho. Tire-a daqui, ou eu vou tirar – concluiu, e saiu.

Enquanto isso, na sala principal, America se cansou de ficar encarando aquela mulher. Desceu as escadas tranquilamente, ia pedir a Anne que lhe fizesse um chá. Então Miriam e Benjamim apareceram, com um Kile engatinhando a sua frente. O menino usava um macacãozinho de algodão azul bebê. Tinha os cabelos de Carter. O bebê ria, acompanhado dos primos.

Kriss: Que gracinha – sorriu, irritada, ao re-vê o bebê, e se abaixou para carrega-lo.

Mas de alguma forma America estava lá antes que ela o alcançasse. Segurou seu braço, mantendo-o no ar. A mão de America estava fria como gelo. Kriss de imediato, puxou o braço violentamente.

America: Toque em um deles, e eu mando você de volta pro inferno pessoalmente – avisou, e Kriss não teve coragem de ir pro menino de novo.

Uma briga feia ia se iniciar ali. Nessa hora Carter entrou na sala, e percebendo o clima, interferiu.

Carter: Calma, senhoras – disse sem encarar Kriss, tirando America de perto dela. Ele se abaixou e apanhou o filho, carregando-o.

Maxon: Vamos, Kriss – chamou, saindo de casa. A morena sorriu vitoriosa para America e acompanhou Maxon.

Ele não voltou. A dor sufocava America a cada segundo que passava. Ele não ia voltar. Ela não jantou. Tomou um banho demorado, e quando saiu, a chuva açoitava o telhado. A madrugada caiu, dura e impiedosa. Ele não veio. Ela se ajoelhou nos pés da cama e chorou.

 Ela se ajoelhou nos pés da cama e chorou

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Chorou até não conseguir mais. Seu coração estava comprimido em sua dor. Como era possível, você ter uma vida feliz, sadia, e tudo isso desmoronar de um minuto pro outro? Quando a dor foi cedendo, outro sentimento se apossou dela. Ódio. Um ódio talvez mais forte que o amor que ela sentia por Maxon. Ela sorriu, irônica. Sabia que aparência teria quando se olhasse no espelho. Estaria parecendo uma morta. Mas ela estava morta, não é? Estava tudo perdido. O motivo, a razão, a vida, o sentido tudo estava perdido. Então ela não conseguia mais chorar. Não por falta de vontade, mas seus olhos se negavam. Ela já havia chorado demais. Passou a noite toda ali. De manhã, ainda estava ali, quando alguém lhe tocou. Não era Maxon, ela teria sentido se fosse ele. Mas quando se virou, até se esqueceu de sua dor.

America: Aspen – murmurou, se levantando rapidamente. Ele sorriu com a animação dela – Ah, Aspen! – ela se atirou no pescoço dele, que a abraçou fervorosamente.

Aspen: Está tudo bem, eu estou aqui – ele deu um beijo de leve no rosto dela.

America sorriu. Aspen era a promessa de oxigênio quando se estava prestes a morrer afogado. Mas ele estava ali. Ela não morreria.  Maxon voltou em casa no fim da tarde, apenas para trocar de roupa. America o ignorou. Não precisava perguntar. Seu marido se fora, e ali estava o demônio, mais uma vez. Desse jeito, os dias foram se passando. Todos sabiam da volta de Kriss, e do caso de Maxon com ela. Ele quase não vinha em casa, e tecnicamente não via America. Como já foi dito anteriormente, America nunca recuperou sua cor normal, mas o azul de seus olhos tinha se derretido enquanto estava bem com Maxon. Mas agora estavam empedrados de novo. Dois pedaços de gelo. Sua pele estava mais pálida que nunca, e agora fria. Só uma coisa mudou. America passou a vestir preto. Sempre preto.

Marlee: Por quê? – perguntou, certa tarde – Está de luto?

America: Estou – disse erguendo o rosto para irmã. Luto é uma boa palavra.

Marlee: Por quem?

America: Pelo meu coração. Está morto – Marlee, se tocando do que era, não pressionou – Tem uma pedra de gelo no lugar. Aspen me mantém viva, caso contrário já teria morrido.

Marlee: E aquela história de não lamentar por um sonho? – perguntou, tentando descontrair o ambiente.

America: Não foi um sonho. Era real. Se deve lamentar quando uma realidade declina – disse, simples, e seu olhar pousou em sua aliança e no receptor dela.

America subiu para se trocar pro jantar. Jantar com Aspen, Marlee e Carter era agradável. Tinha terminado de se vestir, quando Maxon entrou no quarto.

Maxon: Não vai perguntar onde eu estava? – perguntou, debochado.

America: Porque deveria? – rebateu, fria, enquanto terminava de pentear o cabelo.

Maxon: É minha mulher. É isso que as mulheres fazem – ridicularizou.

America: Eu sou? – perguntou, com um sorriso irônico, enquanto prendia os cabelos em um coque apertado – Então, me perdoe. Não tenho interesse pelo que você faz – ela verificou o cabelo no espelho da penteadeira. Não havia nenhum fio solto.

Maxon: Estava com ela – disse, malévolo – Não que te importe, é claro. Mas creio que eu deva satisfações – America riu.

O Maxon frio estava de volta.

America: Meu querido, Carolina inteira sabe que você estava com ela, não é segredo pra ninguém – disse sorrindo, enquanto se levantava – Agora, se não se importa, Aspen está me esperando para jantar – ela se pôs a sair.

Maxon: E se eu não der licença? – perguntou, puxando-a bruscamente pelo braço. Odiava o pouco caso que ela fazia dele.

America: Por favor, eu não quero ter que tomar outro banho agora – disse, fria, referindo-se a mão dele que segurava seu braço.

Maxon: Sente nojo de mim, America? – perguntou, observando-a.

America: Você não faz idéia do quanto – respondeu, despreocupada – Cada pedaço seu me enoja. Seu rosto, sua voz, sua pele. Me dá náuseas.

Maxon: Você não aceita porque ela é melhor – America ergueu a sobrancelha – É, é isso sim – ele sorriu, frio – Ela é melhor que você. Melhor amiga, melhor companheira, melhor cúmplice, melhor amante. Melhor.

America: E é por isso que você dizia que me amava? – perguntou, debochada.

Maxon: Eu nunca amei você. Já havia te dito, eu via ela quando olhava nos seus olhos. Eu estava procurando ela, cada vez que fui até você. Era nela que eu estava pensando em cada vez que te levei pra cama – sorriu, frio.

 Era nela que eu estava pensando em cada vez que te levei pra cama – sorriu, frio

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Para America aquilo foi o cúmulo. Ela se soltou dele com um puxão, e desceu a mão no rosto do mesmo em um tapa que fez barulho. O rosto pálido de Maxon rapidamente ganhou uma tonalidade vermelha, que tinha o formato da mão dela.

America: Agora eu vou jantar, Maxon. Tenha uma boa noite – ela se virou e saiu, deixando ele lá, possuído pelo ódio e com uma bruta ardência no rosto.

Meu pecadoOnde histórias criam vida. Descubra agora