Finalmente

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Então ouviu a voz de Carter conversar ligeiramente com alguém do lado de fora. America beijou a mão de Maxon e foi ver o que era. Um oficial, policial, America não sabia, conversava com Carter. Queria que ele fosse reconhecer o corpo de Kriss. Carter se recusava a ir afirmando de que se fora Aspen que recolhera o corpo, não havia precisão. Então um sentimento invadiu o corpo de America. Era mais que ódio.

America: Eu vou - disse, dura, saindo do quarto do marido.

Carter: O que? - perguntou, incrédulo.

America: Eu vou reconhecer o corpo, e assino a papelada que for preciso - disse, calma.

Carter relutou, mas America era mais teimosa que uma mula quando queria. Assim ela se despediu de Maxon, sem dizer pra onde ia, e seguiu com o oficial pro necrotério da cidade. Lá ela preencheu um formulário ao chegar, e lhe deram um par de luvas descartáveis, pra que se ela batesse em algo, não comprometesse.

O oficial levou ela até uma sala, e lhe disse que tinha cinco minutos. America se aproximou do corpo, em cima de uma maca de metal.

O vestido da morena estava desbotado em seu vermelho, pela água do mar. Seu olho estava aberto, ainda em choque. Mas não havia nem a vida, nem a maliciosidade ali. Não havia nada. America viu o corpo da morena, deformado, em carne viva, junto com o colo e o ombro dela. O lado direito do rosto continuava intacto. A mesma olhou a morena, com os cabelos esparramados, sem vida, e havia nojo em seu rosto.

America: Olhos de cigana, obliqua e dissimulada - disse, e ergueu a mão coberta pela luva, fechando o olho da rival - Olhos que nunca mais vão afetar ninguém - disse, dura. Lançou um último olhar, o olhar de quem venceu, ao corpo da outra, e saiu da sala.

America assinou todo um relatório, afirmando estar em plenas condições, e reconhecendo o corpo. Em seguida voltou ao hospital. Estava cansada, seu corpo gritava por alivio. Mas ainda havia uma longa noite pela frente.

Quando America chegou, a febre de Maxon estava começando a voltar. Ela repetiu o procedimento com a água fria madrugada a dentro. Aspen lhe dera seu terno, e ela vestiu, abrigando-se contra o frio cortante que fazia ali.

America: Lhe dê mais morfina - disse, vendo a expressão atormentada no rosto do marido.

Médico: Senhora, não é recomendado seda-lo todo o tempo, no caso de que... - interrompido.

America: Agora - disse, dura, passando a mão no cabelo do marido. Aspen se deliciava vendo as discussões da ruiva com o médico. O doutor, vendo que não adiantaria brigar, deu o que ela pedia. A expressão de Maxon se tranquilizou à medida que sua dor ia embora.

No meio da madrugada a febre dele foi embora. America suspirou aliviada, lembrando-se do caos da noite anterior. Estava morta de cansaço. Tinha duas noites perdidas, o pânico durante os dias, fora a cavalgada imensa de Carolina a La Push, e o desgaste no penhasco. Mas ela não se permitia descansar.

Aspen: Meri, chega. Venha, deite um pouco - lhe mostrou a poltrona do quarto.

America: Não, eu estou bem aqui - murmurou, apertando a mão do marido.

Gerad: America, não seja teimosa - retrucou, olhando-a.

America: Me deixem em paz - sussurrou, tocando a testa do marido. Não havia febre.

Só que ela não aguentou. Amanheceu, e lá estava, sentada ao lado da cama dele, segurando-lhe a mão. Sua cabeça estava inclinada pro lado, os olhos fechados levemente, com o rosto encostado em seu braço.

Mas o que ela não esperava, aconteceu.

Maxon acordou.

Aspen o flagrou com o rosto virado de lado, os olhos castanhos olhando a esposa serenamente.

Aspen: Até que enfim - disse, sorrindo, ao constatar que ele acordara.

Maxon: Porque ela está assim? - murmurou, rouco, com dificuldade, olhando a esposa.

Aspen: Ela não saiu do seu lado, nenhum segundo - respondeu no mesmo tom, olhando America, que dormia fracamente.

Maxon: Devia ter deixado ela dormir - comentou, e ergueu a mão, com esforço, para tocar a mão dela. Ele sentia o corpo todo dormente, efeito da morfina, provavelmente.

Aspen: Nós tentamos. Gerad foi buscar café, agora. Fez frio ontem à noite - comentou, explicando o terno que America usava sob o vestido grafite, olhando a porta - America está dando trabalho. Ela só come uma vez por dia, e quase colocou esse hospital abaixo, por sua causa. O médico residente está neurótico, está tendo alucinações com ela, pelo corredor - brincou, e Maxon riu, tossindo em seguida.

America, em seu sono leve, acordou com o tossido dele. Ela abriu os olhos, sobressaltada, e olhou o marido. Seus olhos brilharam pela surpresa ao encontrar o olhar dele. Ela se levantou bruscamente, derrubando a cadeira.

America: Você acordou! - disse, maravilhada, olhando-o. Maxon sorriu - Ah! - exclamou, feliz, e o abraçou. Maxon grunhiu de dor com o peso dela em sua barriga, e ela recuou - Me perdoe - disse, sem jeito. Maxon riu de leve. Sentia seu coração pulsar, forte - Ah, meu amor - se ajoelhou ao lado dele, sorrindo, com os olhos cheios de água.

Aspen: Ah, meu amor - disse, fazendo um sorriso idiota, segurando o jarrinho de flores, e se balançando pros lados. Maxon riu mais energeticamente. Dessa vez ele não tossiu.

America: Saia daqui Aspen! - brigou, mas sorria. Duas lágrimas caíram de seu rosto - Ande, suma daqui! - mandou, se levantando.

Aspen: Isso é que é gratidão, eu fiz companhia pra você, mulher! - disse, se fazendo de indignado, mas ainda segurava as flores.

America: Que diabo, saia! - empurrou ele, rindo e chorando, para fora do quarto, e fechou a porta.

Maxon observou a mulher com fascínio no rosto. Tivera tanto medo de não ver mais o comportamento explosivo dela.

America: Nunca mais - rosnou, voltando pra cama - Nunca mais faça isso comigo. Eu te proíbo - disse, acariciando o rosto dele, chorando e sorrindo.

Maxon: Eu prometi - disse, sorrindo.

America: É, prometeu - revirou os olhos - Eu tive tanto medo - assumiu, e agora não sorria.

Maxon: Passou, eu estou aqui - sussurrou, secando as lágrimas dela - Posso te pedir uma coisa? - perguntou, observando-a.

America: O que quiser - disse, prontamente.

Maxon: Me beije, meu amor - pediu, traçando os lábios dela com o dedo.

America sorriu, e, cuidadosamente, para não encostar na barriga dele, o beijou. Ela segurou seu rosto com a mão, e se apoiou na cama com a outra. Maxon enlaçou a cintura dela com a mão livre, e retribuiu seu beijo. Estarem um nos braços do outro, novamente, fazia parecer que nada daquele pânico tivera acontecido.

Meu pecadoOnde histórias criam vida. Descubra agora